sexta-feira, 22 de maio de 2009

As injustiças e os Absurdos da Vida


De novo olhei a e vi toda a opressão que ocorre debaixo do sol:

Vi as lágrimas dos oprimidos, mas não há quem os console; o poder está do lado dos seus opressores, e não há quem os console.
Por isso considerei os mortos mais felizes do que os vivos, pois estes ainda tem que viver!
No entanto, melhor do que ambos é aquele que ainda não nasceu, que não viu o mal que se faz debaixo do sol.

Descobri que todo trabalho e toda a realização surgem da competição que existe entre as pessoas. Mas isso também é absurdo, é correr atrás do vento.

O tolo cruza os braços e destrói a própria vida.Melhor é ter um punhado com tranqüilidade do que dois punhados a custa de muito esforço e de correr atrás do vento.

Descobri ainda outra situação absurda debaixo do sol:

Havia um homem totalmente solitário; não tinha filho nem irmão. Contudo os seus olhos não se satisfaziam com a sua riqueza. Ele se perguntava: “Para quem estou trabalhando tanto, e por que razão deixo de me divertir?” Isso também é absurdo; é um trabalho por demais ingrato.
É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levanta-se! [...]

Um cordão de três dobras não se rompe com facilidade.

Eclesiastes 4 – NVI

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Não sou eu sem você...

Somos seres sociais, foi assim que Deus nos fez. É o conjunto de pessoas que me torna ser humano. É a cultura que confere humanidade ao indivíduo, por meio das “práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística”[1], dessa forma, posso quase afirmar que a existência enquanto ser humano está condicionada a existência de um próximo.

Ultimamente venho percebendo o quanto o “meu” “eu” é a mistura dos “eus” que rodeiam, que “eu”, sou na verdade um pouco de cada um. Tenho experimentado muito isso, ao notar como a minha mãe me completa, como a minha noiva me completa, meus amigos e até meu chefe. E essa percepção, vem de pequenas atitudes, das vírgulas da vida. Vejo que estou sendo forjado em gotas.

Ser um pouco de cada um não é ausência de personalidade, mas presença de complementaridade. Quem se fecha em si mesmo e não se deixa complementar é um ser humano incompleto, cego, pobre e nu.

______________
[1] Cf. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995. p. 294-95. Um fato que pode exemplificar a idéia de que a cultura confere humanidade ao ser humano foi o que ocorreu na Índia em 1920, o caso das meninas-lobo. Amala, um ano e meio, e Kamala, oito anos, foram encontradas vivendo com uma família de lobos, ao serem resgatadas não apresentavam nada de humano, pelo contrário, comportavam-se como seus “irmãos” lobos. Caminhavam de quatro com os joelhos e cotovelos para pequenos trajetos e com os pés e as mãos para os trajetos longos e rápidos. Não conseguiam ficar de pé. A alimentação era composta de carne crua ou podre, até o jeito de beber água era como o dos lobos. No instituto onde foram acolhidas, de dia viviam quietas e pacatas sempre em uma sombra, e de noite eram ativas e ruidosas procurando fugir e uivando como os lobos. Amala teve um contato curto com a vida civilizada, pois morreu um ano depois de ser resgatada, já Kamala passou por um processo de humanização, conseguindo ficar de pé somente seis anos depois do resgate, contudo, em 1929 morreu com um vocabulário de dinquenta palavras. Cf. REYMOND, B. in: ARANHA, M. L. de Arruda; MARTINS, M. H. Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993. p. 2.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Miojinho nosso de cada dia...

Quem frequenta uma igreja pentecostal há mais de cinco anos, provavelmente já escutou o jargão: “Porque na presença de Deus até a tristeza salta de alegria”. Você já leu o contexto desse versículo bíblico? Vamos juntos então analisar Jó 41.22[1]... vamos ao miojinho nosso de cada dia:

Uma rápida olhada no contexto do versículo em questão nos revela algo interessante: Não é na presença de Deus que a tristeza salta de alegria/prazer, mas do Leviatã/monstro marinho/(crocodilo?). No poema anterior, também aparece um animal, o Beemot, onde as descrições apontam hiperbolicamente para um hipopótamo.[2]

No terceiro poema que compõem o segundo discurso de Javé a Jó é que encontramos essa figura, o Leviatã. Tanto na descrição do Beemot como na do Leviatã, aparecem características que vão além do reino animal, nos levando a crer que a intenção do autor ao colocar esses dois seres nos discursos de Javé é apontar para outra realidade, pois no discurso anterior Javé já havia se revelado como Senhor dos animais.

Nessa teofania Javé está mostrando a Jó que é Senhor sobre todas as coisas, inclusive desses dois monstros, que aqui provavelmente simbolizam as forças do mal. Nas palavras de Ternay:

“Quanto mais progredimos na leitura dessa poema mais se torna evidente que o mosntro não é um simples crocodilo. O Leviatã é descrito aqui com feições que supõem uma mitologia lírica do mal cósmico, o que permite ao autor utilizar esta figura como um símbolo das forças do mal atuando na história, presente na humanidade”.[3]

Bem, muitas outra coisas poderiam ser escritas, mas como é só um miojo, vamos parando por aqui. O que fica claro é que esse versículo é erroneamente utilizado pelos pregadores que dele se apropriam, pois em nenhum momento Leviatã é sinônimo de Javé, pelo contrário, é hostil a Ele.

Bem, da próxima vez que ouvirem o jargão, orientem o pregador a ler o capítulo inteiro.

_______
[1] Bíblia de Jerusalém – Em seu pescoço reside a força, diante dele corre o pavor. Bíblia do Peregrino – Em seu pescoço se assenta a força, diante dele dança o terror.
[2] SCHÖKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2006. p. 1142.
[3] TERNAY, Henri de. O livro de Jó: da provocação à conversão, um longo processo. Petrópolis: Vozes, 2001. p. 299-307.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...