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Boa leitura,
Rodrigo de Aquino.
Dons e ministérios na igreja local
Uma das características da igreja pentecostal é a liberdade que seus membros têm de manifestar os dons do Espírito. Entretanto, mesmo com toda essa liberdade, pastores percebem que muitos ainda não são mobilizados no serviço local, são meros espectadores e olham da arquibancada o trabalho da igreja.
Esse quadro é pintado porque, além de muitos membros não entenderem os dons espirituais e seu propósito para o corpo de Cristo, os próprios pastores e a estrutura da igreja não permitem o afloramento dos dons, “mantendo a maioria passiva e dependente”.[1] Kornfield alerta os pastores:
“Seu principal chamado não é fazer o ministério [...] Seu principal chamado é equipar os santos para que estes façam a obra do ministério (Ef 4.11-12) Só dessa forma conseguiremos crescer à plena estatura de nosso Senhor Jesus Cristo. Isso resulta de todos os membros estarem equipados e ministrando”.[2]
É fundamental relembrar que a Igreja é extensão do trabalho de Cristo. Logo, é Ele quem prepara seu
ministério e distribui os dons conforme lhe apraz (1Co 12). Distribui conforme as necessidades do seu Corpo, isso explica a diversidade dos dons. Essa variedade existe para dar equilíbrio à Igreja, onde uma única pessoa não tenha todos os dons, mas todos os dons tenham na Igreja. Gee afirma:
Muitas igrejas não têm visão, a não ser a do ministério de um só homem, e dele se espera que apresente todos os requisitos – evangelístico, pastoral, doutrinário, profético. Espera-se que um mesmo homem alcance grande sucesso na evangelização, seja esplêndido organizador, bom visitador pastoral, competente mestre da Bíblia, e ainda que possua dons de cura e de prédica inspirada.[3]
A tarefa do crescimento integral da igreja está nas mãos de todos os servos de Jesus Cristo, por isso, esboçaremos a seguir os dons ministeriais registrados em Efésios 4.11-13, a fim de apontar as características desses dons para que sejam diagnosticados e incentivados na membresia.
Apóstolos
O termo grego apostolos significa mais do que mensageiro, remete a alguém que é enviado com propósito particular, ou aquele é portador de autoridade divina, que é comissionado. A palavra é aplicada tanto a Cristo (Hb 3.1) como àqueles que foram enviados para pregar à Israel e às igrejas (Lc 11.49; 2Co 8.23). Porém, é aplicada de modo absoluto aos homens que balizaram a igreja primitiva.[4]
A função primária dos apóstolos era servirem de testemunhas do Cristo. Esse testemunho era fundamentado
em conhecimento íntimo, sendo essa intimidade superior a missão, ou seja, a conexão do enviado com o remetente é mais importante do que o conteúdo da mensagem a ser entregue, pois o enviado fala em nome daquele que o enviou.[5]
Os apóstolos lançaram os fundamentos da igreja primitiva, foram os primeiros pregadores, os primeiros a serem batizados com o Espírito Santo, e os primeiros que praticamente reuniram em uma só pessoa todos os demais dons ministeriais. Gee acrescenta:
Assim ele participava da inspiração do profeta; fazia a obra do evangelista; conhecia o pastoral cuidado de todas as igrejas, e devia ser apto para ensinar; ao passo que, atendendo à administração de negócios, seguia o exemplo do Senhor em não se esquivar aos deveres do diácono, quando necessário (At 11:30).[6]
Fundar uma igreja nos tempos neotestamentários não era simplesmente abrir a igreja e já partir para outra localidade. O apóstolo tinha todo o cuidado com a manutenção espiritual e organizacional da obra recém formada. Vejamos o exemplo do apóstolo Paulo, que de maneira veemente orientava tanto as comunidades por ele fundadas como as fundadas por outro apóstolo. Percebe-se dessa forma que a autoridade de um apóstolo ia além das comunidades por ele fundadas.[7]
Qualificações e quantidade de apóstolos
A essência do chamado apostólico era a divina vocação. Os Doze receberam o chamado durante o ministério terreno de Cristo. Até mesmo na escolha de Matias a premissa da vocação é latente (At 1.21-26) e fica implícito que para ser apóstolo a pessoa tinha que estar familiarizada com o todo do ministério de Cristo e evidentemente ser uma testemunha da ressurreição.[8]
Então como entender o caso de Paulo? O apóstolo dos gentios refere-se constantemente a si mesmo como apóstolo de Jesus Cristo, deixando claro que sua autoridade não derivava dos Doze. Ainda que não preenchesse as qualificações de At 1.21ss, Paulo aludia com frequência seu encontro com Cristo a caminho de Damasco para autenticação de seu apostolado, onde afirmava “Não vi eu a Jesus Cristo, Senhor nosso?” (1Co 9.1). Barnett corrobora:
A natureza da aparição de Cristo a Paulo era atípica. Ele não viu o Senhor ressuscitado no contexto da primeira Páscoa na Palestina, como os outros apóstolos antes deles viram, mas como o Senhor celeste glorificado, um ou dois anos mais tarde. Seja qual for o seu significado, a frase incomum e muito debatida: “a mim, o aborto” (tō ektrōmati, 1Cor 15,8), reflete a defesa de Paulo de seu apostolado genuíno, apesar da aparição isolada e tardia do Senhor a ele.[9]
Seria o apóstolo Paulo o último apóstolo? Ainda que não se saiba o número exato, não resta dúvida de que existiram mais que doze apóstolos (o grupo central), o texto de 1Co 15.5-7 diz: “E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. Depois foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormem também. Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos”.
O NT revela o nome de alguns, como Tiago, o irmão do Senhor; o contexto de 1Co 9.6 e o elo de Paulo com Barnabé sugere que este era também um apóstolo; e Andrônico e Júnias que são mencionados como apóstolos eminentes antes de Paulo (Rm 16.7).[10]
Será que existem apóstolos no dia hoje? continua…
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[1] KORNFIELD, David. Desenvolvendo dons espirituais e equipes de ministério. São Paulo: Sepal, 1997. Série Ferramentas para Pastores e Líderes. p. 9.
[2] KORNFIELD, 1997, p. 10.
[3] GEE, Donald. Os dons do ministério de Cristo. Florida: Vida, 1987. p. 19.
[4] WALLS, A. F. apóstolo in: DOUGLAS, J. D. O Novo dicionário da bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 95-98.
[5] WALLS, 1995, p. 95-98.
[6] GEE, 1987, p. 19.
[7] KALDEWAY, Jens. A forte mão de Deus: o ministério quíntuplo: Curitiba: Esperança, 2005. p. 15-16.
[8] WALLS, in: DOUGLAS, 1995, p. 95-98.
[9] BARNETT, P. W. apóstolo in: HAWTHORNE, G. F.; MARTIN, R. P.; REID, D. G. (orgs) Dicionário de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova: Paulus: Loyola, 2008. p. 121-128.
[10] BARNETT, Loyola, 2008, p. 121-128.
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