por Fernando Albano
Conforme as Escrituras o ser humano carece de salvação. Há um problema universal chamado pecado, que quando não resolvido conduz suas vítimas a um fim trágico, isto é, a morte eterna (13.27-28). Mas segundo a teologia de Lucas se a perdição tem amplitude universal também a salvação é igualmente universal (24.47). Não é debalde que Lucas, entre outras coisas, é intitulado de o “teólogo da salvação”.
É interessante observar que a palavra "Salvador" não aparece em nenhum dos Sinópticos, exceto em Lucas (1:47; 2:11). Da mesma maneira, o substantivo "salvação" e o adjetivo "salvo" são encontrados somente em Lucas, dos Sinópticos.[1] Em Lucas a salvação de Deus é amplamente demonstrada e, isso de muitas formas, principalmente mediante as palavras, parábolas e ações de Jesus. Ao longo desse evangelho encontramos muitos exemplos da compaixão de Jesus pelos pobres, pelos rejeitados e marginalizados. Um outro aspecto notável do evangelho de Lucas é seu interesse pelas mulheres e crianças. Os rabinos consideravam pecado ensinar uma mulher, mas Jesus ensinou as mulheres com a mesma dedicação com que ensinou os homens. Podemos facilmente nos emocionar nas cenas de grande ternura em que Jesus estende o amor e o perdão de Deus às pessoas que, segundo parece, haviam perdido toda a esperança”.[2] Sem dúvidas, segundo a perspectiva de Lucas a salvação de Deus diz respeito à todas as pessoas, independentemente de seu gênero, raça ou condição social. Carson bem escreveu: “Simeão cantou que o menino Cristo era “luz para revelação aos gentios” (2.32). Em outra passagem significativa do início do livro (3.4-6), Lucas cita Isaías 40. Mateus também cita essa passagem, mas Lucas inclui as palavras “e toda carne verá a salvação de Deus” (3.6)”. Pessoas virão de toda parte para assentarem-se no reino de Deus (13.29). Evans afirmou:
Lucas consegue oferecer a religião exclusivista e particular de Israel à humanidade toda, e aplica-la a todas as pessoas. Esse movimento para fora do contexto muito estreito da Palestina e do judaísmo, em direção a todas as raças e tribos da humanidade, realiza-se no livro de Atos.[3]
Em Lucas 19.10 está registrado: "Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido." Como, segundo a Bíblia, em todo o mundo há perdidos, logo, a salvação jamais pode ficar limitada ao “cercado” judaico. Podemos identificar numerosos episódios, expressões e parábolas que atestam o amor e a misericórdia de Deus para com todos os pecadores. Por exemplo, as parábolas da moeda, ovelha perdidas e o filho pródigo (15). Três elementos com algo em comum: o estado de perdição, contudo, todos são igualmente achados, formando assim, um poderoso testemunho do amor de Deus que encontra os perdidos. Na teologia de Lucas, ressaltamos mais uma vez, a salvação de Deus é de natureza universal. Ninguém é excluído da história da salvação.[4] Deste modo podemos observar:
a) No relato do envio dos Doze pelo Senhor, Lucas omite claramente as palavras preservadas por Mateus: “Não tomeis rumo aos gentios” (9.1-6);
b) Apenas Lucas conta sobre os dez leprosos que foram curados e que só um deles, um samaritano, voltou para agradecer (17.11-19);
c) - Lucas é o único que preservou a expressão: “e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles” (21.24).
Fica claro diante desses textos a preocupação teológica de Lucas em proclamar o caminho da salvação como sendo acessível também para os gentios, algo que o judaísmo do seu tempo apresentava forte resistência. Isto posto, hoje a Igreja é desafiada a dar continuidade ao caminho da salvação, prosseguindo na anunciação das Boas Novas de salvação a todas as pessoas, inclusive àquelas com as quais não simpatizamos.
“[...] em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vocês são testemunhas destas coisas”. (24.47-48).
[1] HALE, Broadus David. Introdução ao estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001. p. 125.
[3] EVANS, Craig A. Novo comentário bíblico contemporâneo: Lucas. São Paulo: Vida, 1996. p. 22.
[4] Evidentemente que não pretendemos afirmar que todos serão salvos, mas sim afirmar o interesse de Deus pela salvação de todas as pessoas. Sabemos segundo as Escrituras, que haverá pessoas que não serão salvas por conta de sua desobediência e incredulidade em relação ao Evangelho.
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