quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A origem do mal - rascunho de um pensamento, parte 2

Qualquer pesquisador honesto admite que chegar a uma “conclusão” sobre esse tema não é tarefa simples, mas ao entrar nessa senda, chegar a um destino é necessário. Contudo, vale ressaltar, que a chegada nesse destino não significa, de forma alguma, o ponto final, o fim da jornada.
Diante da realidade de Gn 1.31 que afirma que tudo que Deus criou é bom, como responder a pergunta: qual a origem do mal? A questão já era tratada na mitologia antiga, que falava do ciúmes que os deuses tinham da felicidade humana, por isso misturaram entre os humanos o fel, o ódio, o mal. O ser humano nesse caso seria vítima do mau humor dos deuses. Outra tentativa de explicar a origem do mal é a versão dualista, que coloca o mal como uma realidade ao lado do bem, dois mundos distintos, dois mundos eternos, dois mundos opostos. O mal como realidade autônoma é hostil ao mundo do bem, travando assim uma eterna luta entre o bem e o mal. O ser humano nesse caso seria vítima de um drama cósmico que vem até ele e lhe determina o destino.[1] Nos dois conceitos sobre a origem do mal, o ser humano não carrega culpa, é vítima!
A tradição judaica e cristã rejeitou em suas fileiras essa tradição dualista bem como a idéia monista (onde o mal procede de uma única fonte, Deus). Admitiam que Deus pode ser a fonte de desgraças (Am3.6; Jó 2.10), contudo, nunca o autor do mal originador, Deus não é responsável pelo pecado. A Bíblia fala de uma queda, cujo responsável é o próprio ser humano, isso é bem claro na teologia de Gênesis, não deixando dúvidas que a origem do pecado é antropológica. Nas palavras de Sponheim:
A natureza do pecado aponta para a origem do pecado em uma queda, uma realidade humana que rompe a bondade essencial da criatura. Como objeto da especial dotação criadora de Deus, a criatura é boa; como alguém chamado em liberdade finita para a especial intenção de Deus, a criatura ainda não é perfeita, mas é capaz de ser tentada e capaz de pecar; e no mistério da liberdade, a criatura origina o pecado.[2]


A origem do pecado está na humanidade, está em Adão (Rm 5.12). Adão e Eva são personagens coletivos, representam a humanidade em geral.Paulo diz: em Adão todos pecaram (1Co 15.22). Adão é personalidade corporativa! Não há como atribuir culpa somente a um ancestral, utilizando-o como “bode expiatório”. A queda repete-se em cada pessoa, pois todos pecam. Ninguém está em condições de começar da estaca zero, pois a humanidade traz consigo a marca do pecado.[3]
Questões permanecem em aberto, mas por hora podemos concluir que a dádiva da liberdade que nos foi concedida na criação, trouxe consigo a possibilidade efetiva do pecado, consequentemente a queda. C. S. Lewis diz:
Julgada por seus artefatos, ou mesmo por sua linguagem, essa criatura abençoada era sem dúvida, um selvagem. Ele ainda tinha que aprender tudo o que a experiência e a prática podem ensinar. Não sabemos quantas dessas criaturas Deus fez, nem por quanto tempo continuaram no estado paradisíaco. Mais cedo ou mais tarde, porém, elas caíram.[4]


O que fica claro, é que a criatura boa de Deus, um dia caiu, e essa queda desencadeou o mal, desde então vivemos sob a insígnia do pecado. De fato não existe uma explicação racional, apesar dos esforços, para o início do pecado, bem como a atualidade do pecado, “a brutalidade do ser humano, seu egoísmo e sua safadeza desafiam a ciência”.[5]

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[1] BRAKEMEIER, G. O ser humano em busca de indentidade: contribuições para uma antropologia teológica. São Leopoldo: Sinodal: São Paulo: Paulus, 2002. p. 56.
[2] SPONHEIM, Paul R. in: BRAATEN, C. E. Dogmática cristã. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2002. p. 382.
[3] BRAKEMEIER, G. O ser humano em busca de indentidade: contribuições para uma antropologia teológica. São Leopoldo: Sinodal: São Paulo: Paulus, 2002. p. 58.
[4] LEWIS, C. S. The problem of pain. In: SPONHEIM, Paul R. in: BRAATEN, C. E. Dogmática cristã. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2002. p. 393.
[5] BRAKEMEIER, G. O ser humano em busca de indentidade: contribuições para uma antropologia teológica. São Leopoldo: Sinodal: São Paulo: Paulus, 2002. p. 60.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Rascunho de um pensamento...


Depois de assistir os filmes: Batman - O Cavaleiro das Trevas, Onde os Fracos Não Tem Vez e ler os artigos de Arnaldo Jabor e Ricardo Gondim, que comentam os filmes respectivamente, me flagrei pensando novamente na questão do mal. O assunto que permeia tanto os filmes como os artigos é questão do mal como característica inerente ao ser humano e o esforço de alguns em tentar refreá-lo.
O novo filme do Batman[3], nos apresenta um sujeito que diz: “eu sou um agente do caos”. Nas palavras de Arnaldo Jabor:

O Coringa Heath nos apavora e nos atrai, e não conseguimos odiá-lo completamente porque ele é extremamente contemporâneo. É como se ele dissesse: “Nenhum saber, nem ética, nada vai apagar o animal feroz que nos habita. Eu sou uma vanguarda”. Ele diz no filme para um perplexo Batman: “Eu não quero te matar; você me completa”. E completa: “Não sou um monstro; estou além da curva...”. Heath Ledger é apavorante porque não tem motivo claro para agir. Sua única regra é mostrar o absurdo de querer impor ordem no caos. Ele encarna os impulsos destrutivos humanos inexplicáveis. Como Hannibal.[4]

E no ganhador do Oscar de 2008, Onde os Fracos Não Tem Vez (No country for old men), acompanhamos o matador Anton Chigurh, interpretado pelo espanhol Javier Bardem, vencer o cansaço e o desânimo de um xerife velho, que não consegue entender e refrear o mal ao seu redor, um velho que parece não achar um lugar seguro para viver. Nesse filme o mal vence no final, não existem super-heróis, como diz o comentarista de cinema Marcelo Hessel: “Onde os Fracos não Têm Vez é a desconstrução niilista do herói mítico porque hoje a civilização perdeu, os heróis perderam, o ambiente venceu.” Parece inadmissível essa afirmação de Hessel, mas é a pura verdade, o ambiente venceu. Somos frutos do meio, já nascemos coagidos para nos tornarmos o que somos. Será? Não sei...

Tudo isso gera a reflexão: qual a origem do mal? Todos nós somos mal por natureza? Temos o potencial de sermos Coringas, Chigurh`s? Como alguns tornam-se pessoas como Gandhi outras como Hitler? Não sei...

Continua....
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[3] Que é mais que do que um filme de super-héroi, é realmente uma reflexão sobre a sociedade atual.
[4] Hannibal aparentemente tinha um motivo, ainda que não justifique-o, para cometer as barbáries que cometeu. O motivo é narrado em Hannibal: a origem do mal. Já o Coringa, realmente, não tinha planos e motivos, seu objetivo era mostrar a maldade que habita em nós.

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