terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ano Novo, pessoa nova?


Se existe “alguém” que recebe promessas é o ano novo. Sempre fazemos votos de que tudo será melhor, diferente. Fazemos muitas promessas a nós mesmos, aos outros e a Deus. Parece que tudo vai mudar no ano que vem num passe de mágica. Mas a realidade nua e crua é: o ano é novo, mas nós continuamos os mesmos. Não é novidade para ninguém que um ano novo, um carro novo, um companheiro novo ou companheira nova, não tornam ninguém novo, diferente, doce ilusão!

Mudanças em nosso ser não dependem de calendário, mas de atitude, paciência e fé. Se magoei alguém, não é a noite da virada que trará o perdão e a reconciliação, mas a humilhação, o pedir perdão, e isso não se anota na agenda. A mudança de mente (metanóia) operada por Deus em nós não pode estar presa ao reveillon, ao “ano que vai nascer”. Por que se dessa forma, mudanças significativas em nossa vida só aconteceriam depois do carnaval.
Então desejo a você um feliz ano novo, e adeus “homem” velho...mas lembre-se, mudanças significativas podem acontecer a qualquer momento, basta dar meia volta.


uma boa mudança...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Deus desceu para subir...


“Todo menino quer ser homem. Todo homem quer ser rei. Todo rei quer ser Deus. Só Deus quis ser menino”. L. Boff.

Penso que essa frase do teólogo Leonardo Boff sintetiza brilhantemente o Natal, onde a humanidade é abalada com a irrupção do Reino de Deus no seio de sua história. Enquanto os homens funestamente buscaram a divinização como meio de salvação, paradoxalmente Deus tornou-se humano em Cristo para salvar. Gosto das palavras de Lewis:

“De acordo com a história cristã, Deus desce para voltar a subir. Ele desce das alturas da existência absoluta no tempo e espaço à humanidade. [...] ele desce para subir de novo, trazendo consigo todo o mundo arruinado. Isso nos faz pensar em um homem forte abaixando-se cada vez mais para colocar-se debaixo de um grande e complexo fardo. Ele deve abaixar-se para o levantar, quase desaparecendo sob a carga, antes de endireitar incrivelmente as costas e seguir avante com toda a imensa massa balançando em seus ombros.”[1]

O Natal então anuncia essa descida de Deus, esse evento inaudito: O Todo Poderoso tornando-se matéria, entrando no tempo e no espaço, expondo-se a morte, tornando-se homem! Eu me pergunto: o que é salvífico em Cristo, sua encarnação? Sua morte? Ou sua ressurreição? Boff defende a idéia de que tudo em Cristo é salvífico, sua encarnação, vida, morte e ressurreição.[2]

Faço coro com ele e sugiro que nesse Natal pensemos holisticamente Cristo, começando pelo seu nascimento, passando por seus ensinamentos, velando seu sofrimento, alegrando-se com seu ressurgimento, esperando pelo arrebatamento.

A você querido leitor, um Feliz Natal!

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[1] Um ano com C. S. Lewis. Viçosa: Ultimato, 2005. p. 398.
[2] BOFF, Leonardo. Paixão de Cristo paixão do mundo. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 110.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Diaconia, o amor em ação!


A passagem de Lc 22.27 que diz: “Pois qual é o maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está a mesa? Pois no meio de vós, eu sou como quem serve (diakonein)” (ARA).

Sem o invólucro parenético dos vv. 24-26, provavelmente remonte a uma palavra proferida por Jesus durante a última ceia. Surge a pergunta: mas qual é a maneira de Jesus Cristo servir? O que afinal ele fez? No contexto direto da última ceia não fez nada! Pelo menos não se encontra em lugar algum que ele esteja servindo concretamente seus discípulos à mesa. Pode-se afirmar com certeza que ele encontra-se nos últimos momentos de sua caminhada, não podendo empreender mais nada. Resta-lhe sofrer esse dia até o fim. Consegue ainda produzir algumas palavras dirigidas aos discípulos, sendo que, até isso é muito breve. Concomitantemente, é precisamente essa situação que confere a declaração de Jesus Cristo uma forma extremamente marcante: Ele presta o maior serviço a seus discípulos justamente pelo fato de só poder ainda sofrer o que Deus lhe impôs.

As duas perguntas constatam mais uma vez que agora, eu seu ser diaconal, Cristo precisamente não é o maior, ele com essa declaração inverte radicalmente no contrário tudo que até agora vigorava. Quem agora é decisivo é Aquele que não possui nem poder nem fama, Aquele a quem tão somente resta morrer impotente e ridicularizado por todos.[1]

Levar a sério as palavras de Cristo é admitir que o serviço diaconal mais importante será aquele realizado por quem está mais tolhido no grupo dos discípulos, e que não consegue mais assumir um serviço diaconal no sentido corrente, ou seja, todos eles são incapazes de realizar o serviço diaconal primordial para religiosidade da época, a saber, o sepultamento do Mestre. É alguém de fora que realiza-lo, visto que os discípulos fugiram!

O fracasso dos discípulos é demonstrado ao longo dos evangelhos, principalmente no exemplo de Pedro. Fatos que demonstram abertamente a condição de todo ser humano na comunidade de Jesus Cristo. Para o apóstolo Paulo a experiência do diaconato é marcada pela insígnia do serviço mesmo diante da precariedade e limitação humana. A configuração do serviço de Paulo é a que ele “morre” diariamente (1Co 15.30-32). Esse serviço está longe de ser um motivo de admiração, é uma experiência que ele descreve com toda sobriedade; pois morrer diário não acontece, p. ex., pela meditação, mas no fato de correr perigos permanentes por causa de Cristo.

A diaconia deve partir do princípio da própria fraqueza, nesse ínterim Tomás de Kempis [2] propõe: “Não julgues ter feito progresso algum, enquanto te não reconheças inferior a todos”. Ser diácono não exige diplomas. Os princípios da liderança servidora podem ser aprendidos e aplicados por aqueles que querem mudar e melhorar. O que vale é a motivação para mudar. Falar de mudança é fácil, mas para mudar mesmo é preciso iniciativa e coragem para sair da zona de conforto e entrar no desconhecido.[3]
A diaconia é movida pelo amor, e o amor devocinal é a disposição de uma pessoa para ser atenciosa com as necessidades, os interesses e o bem-estar de outra, independente de como se sinta. C. S. Lewis disse: Amar não significa se emocionar. É algo que sentimos em relação a nós mesmos e que devemos aprender a Ter em relação às outras pessoas. Significa que desejamos nosso próprio bem. Para Hunter amor é: O ato de se por a disposição dos outros, identificando e atendendo suas reais necessidades, sempre procurando o bem maior. Amar é fazer e não dizer, amar é ação. Nossas palavras perdem a força se não acompanhadas de atitudes. Ralph W. Emerson disse: o que você É grita tão alto em meus ouvidos que não posso ouvir o que está dizendo.

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[1] SCHWEISER, Eduard. in: NORSTOKE, K. A diaconia em perspectiva bíblica e histórica. São Leopoldo: Sinodal, 2003. p. 54.
[2] KEMPIS, Tomás. Imitação de Cristo. São Paulo: Martin Claret, 2005. p. 49.
[3] HUNTER, J. C. Como se tornar um líder servidor: os princípios de liderança de o monge e o executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

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