segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Chegou!!!


"que meus rascunhos lhe ajudem a escrever a obra-prima de sua vida"


Este pequeno livro é o extrato das reflexões que escrevi no blog Ócio Teológico ao longo de um ano. Lá discorri sobre assuntos que envolvem a fé cristã, refleti sobre o jeito evangélico de ser, compartilhei as minhas dúvidas, ajudei e fui ajudado. A idéia de colocar parte disso no papel surgiu no afã de abençoar os que não têm acesso a internet e aos que ainda preferem o bom e velho livro, pois gostam de riscar, ler em locais diversos, presentear, etc.
O livro tem esse título porque acredito que minhas idéias, aquilo que sou e sinto, estão em constante mudança, em construção. Como sou inacabado, só posso apresentar rascunhos, nada definitivo! Rascunhos da Alma são partes de reflexões que desejo compartilhar com você, por isso, o livro não trata de um único assunto, mas de vários que visam um único objetivo: o despertar para uma espiritualidade saudável que responda em amor a ação graciosa de Deus. Escrevemos sobre oração, amor ao próximo, sinceridade, salvação, missão, arrependimento, etc.

Minha oração é que você seja orientado, edificado e abençoado.

Rodrigo,
Julho de 2009.
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sábado, 17 de outubro de 2009

Lutero e a Escritura

Aproximando-nos de mais um aniversário da Reforma Protestante, nada mais oportuno do que ouvir alguns conselhos de Martim Lutero sobre a Escritura Sagrada:

“A proclamação dos apóstolos foi originalmente também uma palavra falada. Isso corresponde à natureza do Evangelho. Pois o Evangelho não é simplesmente a comunicação de uma verdade da qual alguém poderia tomar conhecimento pelo ler, mas ela é, antes de tudo, um chamado ao homem. Por essa razão, sua forma primária é a proclamação falada. [...] A Escritura tem sua fonte e existência por causa da proclamação oral. Ela surgiu nesse meio como algo que é necessário somente porque é uma ajuda indispensável na proclamação da palavra. A Escritura surgiu da proclamação verbal e está aí por causa dela. A palavra escrito tornou-se necessária por causa do perigo de a pregação descambar para heresias, se a norma da mensagem apostólica fosse esquecida, Por isso a cristandade necessitou a ‘Escritura’, o memorial permanente da pregação apostólica, em forma escrita. Isso torna as congregações mais independentes de seus pregadores. Pregadores podem cair, tornando-se pregadores falsos. Por isso, é necessário que a congregações não dependam absolutamente deles, mas tenham uma posição na qual possam criticar e corrigir seus pregadores. A Escritura possibilita isso”[1]

Que sonho uma comunidade assim. Comunidade conhecedora da palavra que pode auxiliar seus pregadores. Aqui Lutero não fala de crítica por crítica, mas de tarefa da comunidade de Cristo. Se o cenário religioso evangélico brasileiro está assim, é porque nossas comunidades não examinam mais as Escrituras, logo, balançam a cabeça e dizem amém para qualquer coisa que sai dos púlpitos. Uma pena, pois tem saído cada coisa...

Fica o recado...

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[1] Paul Althaus parafraseando Lutero. A Teologia de Martinho Lutero. Canoas: ULBRA, 2008. p. 88-89.


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Caça as Bruxas


Quando eu estava, na antiga 5ª série, a professora de português fez um trabalho, onde os alunos teriam que procurar erros gramaticais em cartazes e placas de lojas, outdoors, cardápios, vitrines, etc. Ela batizou o trabalho de Caça as Bruxas. Foi um trabalho interessante. Desde que me formei em teologia, caço algumas bruxas nos púlpitos da vida... não é por mal, é por hábito...

Num final de semana há algum tempo atrás, numa igreja, eu ouvi as seguintes declarações:

1 – um pastor em meio ao seu empolgante discurso sobre o amor de Deus falou: “irmãos, Deus nos amou tanto, que veio a esse mundo e se encarnou num homem”...

2 – outro, ao falar sobre o por que sentimos saudades do céu disse: “sabe por que sentimos saudades do céu? Porque nossa alma veio de lá”.

3 – uma dupla cantou um hino que dizia no refrão: “o anjo vai descer aqui e te abençoar” (não só no refrão, mas em toda letra o anjo era o agente da bênção).

4 – e por último, que não se encaixa no rol de heresias, mas de falta de sensibilidade. O pregador, no afã de falar que a presença de Deus nos cura de todos os males, bradou: “irmãos, esses centros de recuperação só estragam as pessoas, elas entram ruim e saem piores, a pessoa tem que ir é para a igreja”.

Eu reconheço que existem desvios teológicos bem mais graves e que esses que apresentei acima não são um “bicho de 7 cabeças”, contudo, acredito que apesar de serem pequenos, devem ser corrigidos:

1 – Deus não se encarnou num homem chamado Jesus de Nazaré. Na antiguidade apareceram muitas doutrinas cristológicas semelhantes, que foram tidas como heresias (Nestório, ebionitas, monofisismo, etc.). Maria gerou em sem ventre o menino Deus. Temos que nos firmar na decisão do Concílio de Nicéia, na fórmula do homooúsios (da mesma substância) onde Cristo é da mesma substância que o Pai e confessarmos o credo niceno-constantinopolitano que diz: “e em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, da substância (ex tes ousías tou patrós) do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não feito, de uma só substância com o Pai (homoousion to patrí) pelo qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual por nós seres humanos e por nossa salvação desceu, foi feito carne do ES e da virgem Maria, e tornou-se humano, e foi crucificado por nós sob o poder de Pôncio Pilatos...”[1].

2 – Dizer que a alma veio do céu é o mesmo que dizer que a alma é pré-existente, e a Bíblia não fala nada nesse sentido, Platão fala. Para Platão, a alma é um ser eterno, de natureza espiritual, cuja função principal é conhecer o mundo ideal e transcendental. Platão afirma que a alma humana, é imortal e de natureza espiritual e inteligível, sofreu uma espécie de queda original, causada por um mal radical (o que chamamos de pecado). Afirmar que a alma veio do céu além de anti-bíblico é engraçado, pois fico imaginado Deus com saquinho de almas. Se o ser humano foi criado por Deus, logo, todo ele provém de Deus, mas isso não quer dizer que nossa alma estivesse em Deus, numa pré-existência. Pensar dessa forma é reduzir o corpo a receptáculo da alma, e isso não é bíblico também, como vimos nos estudos abaixo
. Por exemplo, o termo hebraico néfesh, geralmente é traduzido como alma em muitas de nossas traduções. Isso é problemático, porque geralmente já lemos o texto tendo em mente a compreensão platônica de alma: algo preso dentro do corpo, separado do corpo. Para termos uma idéia, néfesh abarca em seu campo semântico aproximadamente sete significados (garganta, pescoço, anelo, alma, vida, pessoa, pronome) e hoje podemos concluir que em poucas passagens a tradução dessa palavra por “alma” corresponde ao significado de néfesh. Dois exemplos pertinentes:
A – em Gn 2.7, certamente néfesh não significa alma. Ela dever ser vista em Gn 2.7 em conjunto com a figura total do ser humano, especialmente com sua respiração; por isso o ser humano não tem néfesh ele é néfesh, vive como néfesh.
B – Quando diz sobre Raquel (Gn 35.18) que sua néfesh “saiu” quando ela morreu, de acordo com o Antigo Testamento, só podemos pensar em respiração, e não em alma. [2]

3 – preciso comentar mesmo? Anjos são servos e não merecem adoração, destaque e nem hino. Dedicar hinos a anjos como agentes da bênção é trocar os pés pelas mãos, é roubar a glória de Deus. Ouvindo esse hino, dá até vontade de orar para o anjo...


4 – Infeliz essa colocação. Falar uma coisa dessas é focar nos casos que não deram certo. É esquecer-se das muitas pessoas que se recuperaram nesses centros de tratamento e voltaram a viver em sociedade, voltaram para as pessoas que a amam, é esquecer que esses centros são, para muitas famílias, a única chance de uma nova vida, pois ninguém mais quer, nem mesmo as igrejas. Essas casas de recuperação fazem um excelente trabalho. Acompanhei um pouco o trabalho do CERENE, e vi pessoas sendo transformadas e se rendendo ao evangelho.

Cada tópico aqui poderia ser mais explorado, mas já estouramos o limite de linhas e o tempo do ócio se foi...

Se quiseres aprofundar um pouco sobre a questão da alma, principalmente o tema imortalidade da alma, clique aqui e leia o artigo do Prof. Dr. Euler Westphal na revista Vox Scripturae.



[1] DREHER, Martin N. Coleção história da Igreja. São Leopoldo: Sinodal, 2004. v. 1. p. 68.
[2] Ver o brilhante estudo de WOLFF, Hans W. Antropologia do Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2007. p. 33-56.

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