segunda-feira, 28 de abril de 2008

Nem sempre progredir é avançar...

CS Lewis disse em seu livro Cristianismo Puro e Simples (Martins Fontes):

Parece uma brincadeira, quando eu digo que, se um relógio estiver adiantado, a coisa mais sensata a se fazer é atrasá-lo? [...] Todos nós desejamos o progresso. Mas o progresso significa chegar mais perto do lugar em você gostaria de estar. E se você tiver virado na esquina errada, então ir para frente não o fará chegar nem um pouco mais perto. Se você estiver na estrada errada, progredir significará dar meia-volta e retomar a estrada certa; e, nesse caso, o homem que voltar mais rápido será o mais “progressista”. [...] Sempre que eu faço um cálculo errado, quanto mais cedo eu admitir o erro e voltar atrás para começar tudo de novo, mas rápido estarei em condições de avançar. Ser teimoso ou recusa-se a admitir um erro não significa nenhum avanço.

Sábias palavras do ex-ateu Lewis, que com clareza e simplicidade expunha clarezas do evangelho.
Nosso mundo capitalista é movido pelo progresso, “somos” baterias desse sistema (Marx/Matrix). Somos cobrados diariamente pelo avanço, ou nos atualizamos ou somos substituídos/atualizados. Temos que progredir! Isso não deixa de estar certo, mas se levado as últimas conseqüências torna-se “diabólico”[1], pois leva-se essa idéia para a vida espiritual, onde cada vez mais somos bombardeados com técnicas e performances para melhorar o desempenho espiritual. Essas “dicas” trazem consigo a ilusão de que meu desempenho espiritual atrai mais o amor e as bênçãos de Deus. Praticamente vão mascarando a realidade da incapacidade que o homem tem em relação ao divino.
A Bíblia deixa claro que o caminho para Deus é Cristo, isso não é novidade, “novo” talvez seja o fato de que Cristo não exige dos seus altos padrões de espiritualidade (não esses dissemindados em nossa literatura) mas somente um coração arrependido, ou seja, uma pessoa que entende que progredir espiritualmente é voltar atrás. No AT temos o termo shub e no NT o termo metanóia, ambos abarcam em seu campo semântico o conceito de arrependimento, voltar atrás, conversão. A Dinâmica do Reino é diferente da do mundo. No Reino crescer é diminuir, ser forte é ser fraco, perder é ganhar, ser o primeiro é ser o último e progredir é voltar atrás.
Seria muito bom se vivêssemos nossa humanidade sem a pretensão de sermos “super espirituais”, afinal, como disse Euler R. Westphal em seu livro Brincando no Paraíso Perdido (União Cristã): "não precisamos fazer atos divinos para alcançar a Deus, pois Deus fez atos humanos para nos alcançar"!

_______________
[1] Uso o termo diabólico no sentido daquilo que me afasta do centro.

terça-feira, 22 de abril de 2008

A Identidade da Igreja de Cristo

Missão como obra de Deus

Quero refletir essa temática a partir da seguinte pergunta: “Qual é a principal tarefa da igreja?” Fazer missões cumprindo o ide de Jesus pode ser a nossa primeira impressão. A resposta não deixa de estar correta, contudo, limita uma pergunta que deveria gerar uma reflexão mais profunda sobre esse tema. Esse conceito de que missão é mais um papel ou uma obrigação eclesiástica, inibe a igreja de viver a plenitude da sua identidade. Mas o porquê disto? Paul Stevens afirma em seu livro “Os Outros Seis Dias”:

Ironicamente, em sua constituição, a Igreja é um povo sem leigos no sentido usual dessa palavra, mas cheia de clérigos no verdadeiro sentido dessa palavra – dotado, comissionado e apontado por Deus para continuar o Seu serviço e missão no mundo. A Igreja não “tem”, então, um ministério; ela é um ministério, o ministério de Deus. Ela não tem uma missão; é uma missão. Há um povo, um povo trinitariano, um povo que reflete o Deus uno que é amante, amado e amor, como disse certa vez Agostinho, é um Deus que envia, é enviado e está enviando”.[1]

A partir desse texto podemos entender que missão, não é mais uma função da igreja, mas é aquilo que define sua identidade enquanto instituição de Deus, ela é fruto da missão do próprio Criador. Onde Deus envia seu Filho, e este conjuntamente ao Pai, enviam o Espírito Santo. Portanto, missão e igreja não podem ser separadas, pois fazem parte da obra do próprio Deus em Cristo, que é atualizada pelo Espírito Santo. Igreja e missão são instrumentos pelo qual Deus promove a sua missão na terra. O corpo de Cristo, no sentido divino, enquanto igreja universal é vaso de Deus, ação da misericórdia do Senhor em direção ao perdido. Portanto, não cabe a igreja decidir se ela quer fazer missão, ela só pode decidir se quer ser igreja. Respondendo a nossa pergunta inicial, a principal tarefa da igreja, é descobrir sua identidade, que é ser uma igreja missionária (1Pe 2.9). A atividade missionária não é tanto uma ação da igreja, mas é simplesmente a igreja em ação.
A partir do momento que a igreja resiste a intenção do próprio Deus em fazer missão, ela deixa de ser corpo de Cristo, pois não há possibilidade de pertencer a Cristo sem participar em sua missão ao mundo. Quando a congregação dos santos nega sua identidade missionária, de alguma forma, tenta restringir o senhorio de Deus em seu serviço, na história da salvação da humanidade. Nisso percebemos que Deus não somente envia, mas é também enviado, e mais, é o conteúdo da missão.[2] O apóstolo Paulo em 2Co 5.18-21 diz que Deus escolheu nos reconciliar consigo mesmo, mediante o evento do Calvário. Essa restauração de relacionamentos desperta no reconciliado, caso não negue sua identidade como igreja de Deus, a tarefa de representar essa graça que lhe alcançou no mundo em que vive. Somos embaixadores em nome de Cristo.

Concepção de missão a partir do homem.

Até agora apresentamos uma perspectiva de missão, onde Deus é o agente missionário por excelência. Todo esse esforço em enxergar a missão como obra de Deus, se dá pelo fato de que nossa concepção desse assunto está, na maioria das vezes, ligada ao esforço humano em cumprir o “ide” de Mc 16.15; Mt 28.19. A ênfase do labor missiológico fica amarrado então, ao deslocamento geográfico. Se levarmos em conta a análise do texto original grego dessas passagens bíblicas, não encontramos o imperativo “ide”, mas o gerúndio “indo”. Uma tradução literal de Mc 16.15 é: E disse a eles: Indo para o mundo inteiro proclamai o evangelho (...), o imperativo do versículo não é o ir, mas o proclamar. Com certeza o cristianismo não teria o alcance que teve, caso os apóstolos não tivessem se deslocado geograficamente, citando especialmente a figura do apóstolo missionário Paulo. Mesmo porque, a mensagem do evangelho não sairia da Palestina se eles não cumprissem a planilha geográfica de At 1.8. Anunciar em todo o mundo era necessário, e hoje, será que permanece desta mesma maneira? Ao atualizar o versículo do evangelho de Marcos, temos que levar em conta que o cristianismo já está difundido em boa parte do mundo, por isso, precisamos enfatizar o imperativo proclamai, e para proclamar, não precisamos necessariamente nos deslocar. Precisamos perceber essa realidade da missão, onde ser missionário não é somente sair pelo mundo anunciando a Cristo, mas ser simplesmente igreja, porque se sou igreja de Deus, sou missionário de Deus.
Temos que ter a seguinte clareza: Missão é obra de Deus. Todos quantos foram alcançados pelo evangelho de Cristo, são missionários. Ir pelo mundo a fora proclamar a Cristo é uma tarefa importante e necessária, mas não é o que me define como missionário. Vamos despertar para a concepção de que fazer missão é viver a partir de Cristo. Vamos orar a Deus pelos nossos irmãos, que estão em terras distantes testemunhando da graça de Cristo, porém, vamos também cumprir nosso papel de igreja proclamando a mensagem da cruz, em terras bem próximas.
___________________
[1] STEVENS, R. Paul. Os outros seis dias. Ultimato, 2005.
[2] VICEDOM, Georg; A missão como obra de Deus: introdução a uma teologia da missão. Sinodal, 1996.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Tendo a companhia de Deus

É impressionante o número de literatura que trabalha este tema: “Intimidade com Deus”. Livro mais livro, e ainda mais esse texto, só que meu anseio é despertar uma visão do tema percorrendo o caminho da oração, pois acredito ser impossível ter intimidade com Deus sem a prática da oração.
A oração em nossos dias tem ganho conotações utilitaristas, onde Deus é colocado contra a parede sendo obrigado a “dar a minha bênção”, oro querendo sempre algo em troca. Outro lado da moeda é a oração como disciplina rigorosa, oro porque me disseram que eu tenho que orar, caso contrário darei “brecha para o inimigo”. Devemos nos perguntar: “Por que oramos?”. Uns dos primeiros pais da igreja, Clemente de Alexandria, disse com muita propriedade: Orar é manter companhia com Deus. Que frase libertadora. Desde que li e reli essa expressão, tenho pensado muito sobre o pedido dos discípulos à Jesus: Senhor ensina-nos a orar, Lc 11.1, esse deveria ser o clamor dessa geração, que até sabe cantar os sucessos da música gospel, mas não sabe exatamente o que é orar.
Você já imaginou ficar 24h por dia ao lado de alguém que quando lhe dirige a palavra é para lhe pedir algo? Mesmo um bebe muitas vezes retribui o alimento dado pela mãe com caras e bocas e sorrisos. Orar é ter amizade com Deus, é constituir um relacionamento com base no diálogo e na confiança. Não é errado pedir as coisas para Deus, porém, é horrível saber que as minhas orações não passam de um meio pelo qual tento convencer a Deus à satisfazer as minhas vontades. Jesus no Getsêmani pediu ao Pai livramento da dor e do sofrimento, contudo não exigiu, não tomou posse, nem determinou nada, simplesmente pediu, e ainda terminou a prece dizendo: não se faça a minha vontade, e sim a tua, Lc 22.42; que exemplo a ser seguido em meio as dificuldades da vida.
Além de saber que posso orar sem cessar, pois onde eu estiver posso falar ou pensar com Deus, relacionando-me com Ele, sei que as minhas orações não mudam a Deus, mudam a mim mesmo (C. S. Lewis). A oração não muda somente a realidade de uma situação, meu caráter também é transformado nessa relação de amizade com Deus, como orou George MacDonald: "Minhas orações meu Deus, fluem daquilo que eu não sou. Penso que Tuas respostas me fazem ser o que eu sou". Não existem técnicas ou fórmulas para orar, se não fluir naturalmente, a relação com Deus se torna conveniente, onde sou cristão porque quero ser abençoado e ir morar no céu, não porque encontrei em Deus um amigo.
Um relacionamento é formado mediante o diálogo, dia após dia, não através de momentos proporcionados por retiros e congressos. Intimidade com Deus é ir comprar pão com Ele, ir ao cinema ou surfar na internet com Ele, é “quebrar a cara” e saber que Ele está comigo. Essa intimidade mediante a oração como tendo a companhia de Deus, revela um Deus “ordinário”, que até pode quebrar todas as cadeias e curar todas as doenças, mas que também vai ao supermercado comigo e enfrenta ao meu lado todos o males da vida.


Senhor, não sei o que eu deva pedir a Ti. Só Tu sabes do que eu preciso.
Tu me conheces melhor do que eu conheço a mim mesmo.
Oh, Pai, dá ao teu filho o que ele mesmo não sabe pedir.
Ensina-me a orar. Ora em mim.
Arcebispo François Fenelon.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Vamos com calma....

Olá à todos os visitantes...

sempre tive o desejo de criar um blog, mas sempre protelava essa vontade. agora que tenho acesso a web todos os dias, resolvi tornar público meus pensamentos, minhas dúvidas e quem sabe meus temores.

o nome do blog reflete o seu propósito, pois postarei somente qdo estiver livre, ou quando fizer do meu lazer uma oportunidade de trocar uma idéia. Teológica é claro!

tenho q ir trabalhar....com o tempo arrumo ele..vamos com calma!

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...