quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Deus submerso, soterrado e solidário.


O Brasil tem acompanhado o dilema de famílias que perderam tudo, de famílias que não existem mais, vítimas das fortes chuvas no Sul do país. O estado de Santa Catarina está debaixo da água. A cidade de Itajaí ficou com mais de 90% da cidade alagada. Muita água, muita sujeira, muitos danos, muitas perdas, muita dor e muito amor. Alguns têm se perguntado: Deus onde estás?

Os “amigos” de Jô, defensores da teologia da retribuição, estão dizendo que Deus está penalizando o estado por causa das festas de outubro, afinal, Ele já usou catástrofes naturais para penalizar antes. Ou seja, Deus está sentado no trono, exercendo seu papel de juiz, condenando os pecadores, condenando o estado por tamanha promiscuidade.

Não creio nisso, e o livro de Jó já deixa claro que essa teologia toma lá da cá, é caduca, mesmo porque, muitas pessoas tementes a Deus (assim como Jó) sofreram com a tragédia. Diante desse cenário arrasador, eu creio que Deus está submerso com os alagados, encoberto com os soterrados e atuante com os solidários.

Creio que o ecossistema está simplesmente respondendo a atuação degradante do ser humano nele. Em Adão pecamos, escolhemos a independência e isso acarretou sair do domínio de Deus e entrar no domínio do pecado. Nós criamos o mal (saber mais, clique aqui), nós estamos destruindo o mundo, nós, justos e injustos, evangélicos e católicos, todos estão sofrendo as conseqüências disso. No caso das chuvas, uns sofreram mais, outros menos, e Deus não é culpado por isso e não é injusto. Nós fizemos uma escolha e estamos pagando por ela e desde que a fizemos, o sofrimento faz parte de nossa existência.

Como já afirmei acima, creio que Deus sofre junto e de todo essa mal, ainda faz surgir o bem, a camaradagem e a solidariedade. Assim como em Cristo Deus foi simpático com o mundo, foi solidário, creio que nos pequenos cristos, nós, Ele tem manifestado seu carinho e cuidado. Essa calamidade despertou uma solidariedade há muito não vista no estado. Todas as cores, todos os credos, unidos em prol da mesma causa: ajudar o próximo.

Leonardo Boff diz que a vida é mortal: “desde que começamos a viver; começamos também a morrer.” . Até quem tem promessa morre, e pode sim, morrer soterrado, submerso, como muitos irmãos morreram. Crente morre em tragédias, seja ele criança, jovem, adulto ou ancião. Enquanto estivermos por essas bandas, estamos sujeito como qualquer um, a sofrer as mais terríveis barbáries.

Deus é nosso parceiro nessa caminhada em que estamos. Sofre conosco a cada temporal, a cada inundação, e assim como está com aqueles que sofrem, está com aqueles que ajudam. Os bons samaritanos. Deus poderia muito bem abandonar sua criação e larga-la a sua própria sorte, mas não, Ele escolheu estar junto em cada momento, bom ou ruim.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Deus da Cabana - final


Estamos de volta e vamos a última parte da análise teológica, grosso modo, do livro que tem provocado os ânimos de muitos cristãos, o livro A Cabana, de William P. Yong. Livro que divide opiniões e pode levar a boas discussões, se ambos os lados não esquecerem que o livro é uma ficção, um romance e não uma confissão de fé ou um tratado teológico. Contudo, reconheço que o autor parece querer mais do que contar uma estória. Eugene Peterson arrisca dizer "Este livro tem o potencial de fazer com a nossa geração o que O Peregrino de John Bunyan fez para a sua. É muito bom."

Outro aspecto do Deus da Cabana que diverge do Deus ocidentalizado é a questão da institucionalização. O Deus pregado no Ocidente, de certa forma, é exposto como o criador da igreja, do cristianismo, Deus que gerou instituições para dar ordem na criação. O Deus da Cabana não gosta de instituições e rituais religiosos, não tem relação alguma com política, economia e religião. O Deus da Cabana afirma que essa tríade “são ferramentas terríveis que muitos usam para sustentar suas ilusões de segurança e controle” (p. 166). O Deus de Yong só tem a ver com relacionamentos. Relacionamento que liberta desse sistema. Jesus no livro A Cabana explica para Mack, que essas instituições são inevitáveis, mas não são o fim nem mesmo a solução da humanidade. Jesus diz o seguinte:
“Mack, o sistema do mundo é o que é. As instituições, as ideologias e todos os esforços vãos e inúteis da humanidade estão em toda a parte e é impossível deixar de interagir com tudo isso. Mas eu posso lhe dar liberdade para superar qualquer sistema de poder em que você se encontre [...] Você terá uma liberdade cada vez maior de estar dentro ou fora de todos os tipos de sistemas e de se mover livremente entre eles. Juntos, você e eu podemos estar dentro do sistema e não fazer parte dele ” (p. 168).
O Deus da Cabana tem seguidores em todos os sistemas e afirma que seu objetivo com a humanidade não é torná-la cristã, mas tornar cada ser humano seu filho, num relacionamento de amor. Então Mack faz a pergunta: quer dizer que todos os caminhos levam a você? Jesus responde: de jeito nenhum, a maioria dos caminhos não leva a lugar algum, mas eu busco vocês em todos esses caminhos.

O Deus da Cabana é três em um. A economia trinitária é apresentada no livro de forma bem humorada, deixando esse assunto complexo mais acessível àqueles que nunca leram algo sobre o tema. É interessante que a marca dos cravos não está somente em Jesus, mas nos três!

O Deus da Cabana não tem nada a ver com o mal, diz que esse é fruto da independência escolhida pela criação. O mundo não é um playground onde eu mantenho todos os meus filhos longe do mal. O mal é caos, mas não terá a palavra final. O Deus da Cabana é enfático em afirmar que o mal atinge a todos, os que o seguem e os que não. O sofrimento atinge a todos e isso é inevitável, contudo, o Deus da Cabana se propõem a compartilhar a carga. Onde está Deus em nosso sofrimento? Ao nosso lado. Ele diz que esse mal da significado ao amor! Por enquanto...

Acredito que esse livro mais ajunta do que espalha, e faço coro com Peterson!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O Deus da Cabana


Imagine receber um bilhete assinado por Deus, convidando-o a um encontro no local onde sua filha foi brutalmente assassinada. Mesmo desconfiado, você vai, afinal, se passaram quatros desde a tragédia e não tens nada a perder. Ao chegar no local, uma cabana velha, você se depara com uma negra enorme e sorridente, uma asiática e um homem, vestido de operário, que parece ser do Oriente Médio, um hebreu da casa de Judá para ser mais exato. Como o bilhete estava assinado em nome de Deus você pergunta: Qual de vocês três é Deus? E ouve os três simultaneamente: Eu! Essa experiência aconteceu com Mack, e nos é contada no romance literário A Cabana, de William P. Yong (Sextante, 2008).


Deus da Cabana nos é apresentado numa concepção diferente do Deus apresentado, grosso modo, em nossa teologia ocidental, a começar pelo gênero. A negra enorme que gosta de cozinhar (lembra a Oráculo de Matrix) chamada Elousia, exerce dentro da economia trinitária o papel de Pai, ou Papai como ela gosta de ser chamada, isso mesmo, elA gosta de ser chamada de Papai, parece meio confuso, mas não é. Temos o Deus mãe. Estamos tão acostumados em pensar Deus nas categorias masculinas que esquecemos que a própria Bíblia apresenta Deus como mãe (Mt 23). O Deus da Cabana é Pai e Mãe. Essa idéia de apresentar Deus como Mãe não é nova na teologia, mas com certeza nunca ganhou tanta popularidade como tem ganhado agora com o livro, que só nos EUA vendeu quase 2 bilhões de exemplares e aqui no Brasil não para nas prateleiras das livrarias, se bobear vai parar até no catálogo da Avon.

Pensar em Deus como Mãe pode ser um remédio para muitas pessoas, que dizem apresentarem problemas com Deus Pai, justamente por terem referenciais paternos horríveis. Acredito que pensamos Deus em categorias masculinas e paternas devido ao relacionamento do próprio Jesus com o Pai. Mas creio que a Bíblia permite eu pensar Deus em categoria femininas e maternas!

Por enquanto é isso, estarei fora do ar por duas semanas, e quando voltar analisarei outros aspectos teológicos do livro!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O perdão de Deus


Por Fernando Albano, 29, professor de Teologia no Centro Evangélico de Educação e Cultura – CEEDUC, Joinville (SC).


“Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12).


Quem de nós sabe o quanto exatamente devia para Deus, quando vivia afastado da graça salvadora que há em Jesus? Há um hino que diz assim: “Eu nunca saberei o preço dos meus pecados lá na cruz”. Acreditamos haver muita verdade nessa frase. A questão também não é somente quantitativa, pois devemos considerar que, não temos a percepção exata do quanto ofendemos a Deus com o nosso pecado.
Considerando que Deus é absolutamente santo, separado de toda forma de mal. Quando pecamos estamos errando o alvo da Sua vontade. De fato, posicionamo-nos contrariamente a Deus e tornamo-nos seus inimigos! Portanto, “perdoa as nossas dívidas” é oração necessária e urgente, mas somente pode ser feita por lábios trêmulos e coração contrito, que reconhece o quanto tem ofendido a Deus com os seus pecados.

Por outro lado, essa oração jamais é pronunciada, pela boca de fariseus e hipócritas cuja consciência encontra-se cauterizada e, já não pode contabilizar seus próprios pecados, a não ser os pecados dos outros, que, aliás, são muitos bem contabilizados! Alguém duvida? Então prestemos atenção no seguinte texto: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ´Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho´”.
Infelizmente, nem todos podem pedir a Deus que perdoe suas dívidas, pois muitos nem possuem a consciência de que são devedores a Deus. E quem de nós não precisa ter suas dívidas perdoadas junto a Deus? Paulo é categórico: “Por que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). João assim escreveu: “Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.8-9). Um dos piores pecados do ser humano, certamente é o fato de não reconhecer a sua condição de devedor à justiça de Deus.

Sendo assim, “perdoa as nossas dívidas” é oração feita por gente esclarecida pelo Espírito Santo, pois como está escrito: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”. O referido texto faz alusão ao ministério do Espírito Santo nesse mundo. O problema é que essa ação do Espírito pode ser resistida pelo coração impenitente (At 7.51; Hb 3.7-8). No entanto, todos quantos desejarem ser perdoados por Deus o poderão sê-lo, uma vez que Deus não abre mão da criatura devedora, pois está sempre disposto por Sua graça e amor a quitar a dívida do pecador. Aliás, segundo o apóstolo Paulo Ele já o fez “... Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz” (Cl 2.13b-14).Diante disto, cabe a nós reconhecer o que Deus fez em nosso favor e pedirmos humilde e confiantemente “Perdoa as nossas dívidas”. Deus quer perdoar! Mas, e, nós queremos o seu perdão? Se a resposta for sim, então é necessário confissão e conversão.

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