segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Tricotomia e Dicotomia, parte final


Breve análise semântica de termos antropológicos em Paulo.

Para compreendermos melhor essa questão sobre a tricotomia ou dicotomia, que foi nosso assunto anterior, vamos analisar brevemente alguns termos centrais na antropologia paulina. Por quê antropologia do apóstolo Paulo? Porque nos seus escritos a antropologia está mais elaborada e são em seus textos que os teóricos buscam fundamentação para suas doutrinas. Por isso, é de extrema importância essa análise semântica.

--> soma/corpo: à o corpo é um termo central na antropologia de Paulo. A dificuldade na compreensão desse termo grego é que não existe um correspondente hebraico direto. A palavra soma utilizada por Paulo e escritos do Novo Testamento, é a tentativa de se traduzir uma variedade de termos hebraicos, sem, contudo, ter uma equivalência com eles. No AT, o termo que possui envergadura teológica e no qual se embasa o pensamento paulino é o termo basar (carne), sendo que, a partir dele, a Septuaginta abra caminho aos termos carne e corpo. [1] Ao surgir a pergunta, como os hebreus expressam numa palavra o que os gregos expressam duas, John Robinson afirma que a resposta se encontra nos pressupostos presentes nos sistemas de pensamento de ambas as culturas. O pensamento grego é organizado sob antagonismos: matéria e forma, o um e o múltiplo, corpo e alma. Robinson diz que tem-se a noção de que o corpo é limite ou separação dos outros corpos ou objetos. Desta forma, “soma, em oposição a sarx, é o princípio de individuação, o que distingue e separa um homem de outrem”[2].


Já no pensamento hebraico, que não é dualista, enxerga-se a realidade como totalidade, onde “basar significa toda substância (realidade) vivente dos homens e dos animais organizada numa forma corporal”; “A idéia hebraica de personalidade [...] é a de um corpo animado, e não a de uma alma encarnada [...]. O ser humano não tem um corpo, ele é um corpo. Ele é carne-animada-por-uma-alma, sendo concebida a totalidade como uma unidade psico-física.” [3]
Com base nisso, pode-se então afirmar que para Paulo, soma tem um sentido de pessoa[4], onde a existência humana, mesmo na esfera do “espírito”, é uma existência corporal, somática. Logo, soma não é meramente um meio de expressão, mas a pessoa total.[5] Bultmann afirma que o ser humano não tem um soma, ele é um soma.[6]. Dunn acredita que o conceito de corpo em Paulo é maior do que o de corpo físico, por isso sugere soma como corporificação de toda pessoa.
“Nesse sentido soma é conceito relacional. Denota a pessoa corporificada em determinado ambiente. É o meio para viver no ambiente, para experimentá-lo [...] soma como corporificação significa mais que mero corpo: é o ‘eu’ corporificado, o meio com o qual ‘eu’ e o mundo agimos um sobre o outro.”[7]

Segundo Dunn, o que chama atenção é a distinção que Paulo faz entre o corpo atual e o corpo da ressurreição, onde na redenção não se tem uma fuga da experiência corporal, mas transformação numa espécie diferente de existência corporal, não mais sujeita a corrupção e a morte.[8] “Aliás, somente a partir da ressurreição do soma, torna-se compreensível, não só a reivindicação exclusiva do Senhor sobre o homem todo, como também a incompatibilidade de ser membro de Cristo e se unir à meretriz”.[9]


Para Paulo, soma, representa a humanidade criada como existência corporificada, onde por meio dessa corporificação a pessoa faz parte da criação e participa dela, tornando a dimensão social da vida humana possível.

--> sarx/carne: esse é outro termo fundamental na antropologia paulina. É um termo controverso, pois pode significar simplesmente a parte física do corpo até o sentido de “carne” como força hostil a Deus, como pecado. Essa gama de sentidos se dá pelo fato de que Paulo teve influências hebraicas e gregas.[10] Então, ora ele usa sarx com o sentido de corpo material, refletindo o termo hebraico basar (que representa o ser humano como um todo diferente de Deus), ora como “carne”, algo antagônico a Deus, refletindo a cultura helênica. Tanto que seu dualismo carne x espírito lembra Platão.[11] Teríamos que analisar texto por texto para sabermos quando Paulo emprega um sentido e quando emprega outro. Mas em síntese, podemos afirmar que sarx para Paulo representa o ser humano como criatura fraca, vulnerável, completamente dependente de Deus, bem como em oposição e em contradição com Deus e o Espírito de Deus.

Clique aqui para baixar um pequeno excurso sobre a relação soma e sarx e nous (inteligência) e kardia (coração). É fundamental leres esse texto para ter sua visão ampliada sobre a compreensão do ser humano em Paulo. Texto retirado do livro, A Teologia do apóstolo Paulo, de James Dunn.


--> psyche/alma: Paulo emprega esse termo no mesmo sentido do termo hebraico néfesh, ou seja, representa a vida toda da pessoa e não algo isolado do meu corpo como na compreensão grega. Psyche designa a pessoa a partir de determinado ponto de vista; o homem que pensa, trabalha e sente, ou a personalidade. Embora o corpóreo e o incorpóreo sejam distintos, a atividade dinâmica entre eles dá testemunho da unidade da pessoa. Para Paulo a psyche não é superior ao soma, apenas designa e salienta outro aspecto do ser.[12] Psyche denotando a pessoa é clara em muitas passagens (Rm 2.9; 13.1; 1Co 15.45; etc.), em outros lugares o sentido desloca-se para “vida” (Rm 11.3; Fl 2.30; etc) ou “vitalidade humana” (Cl 3.23; Ef. 6.6; etc.).[13]
à pneuma/ e/Espírito: Paulo não considera o pneuma uma centelha divina (o verdadeiro eu) encarcerada no físico. A pessoa que, como espírito, experimenta a comunhão com Deus é um ser corpóreo. O pneuma assim como a sarx precisam ser purificados (2Co 7.1). Nada escapa das garras do pecado, nem o pneuma, logo, não pode ser algo divino em nós. Podemos voltar ao texto de 1Ts 5.23 onde Paulo parece dividir a pessoa em três partes. Mas a intenção de Paulo é exatamente o contrário: “Que o Deus... vos santifique totalmente (holísticamente)...”, longe de dividir a pessoa, Paulo expressa a esperança de que os crentes, mediante a obra santificadora de Deus, sejam salvos da desintegração e preservados como seres completos (holos). Ele junta os três termos (somente aqui) para enfatizar, não para definir.[14]


Uma dificuldade que encontramos com esse termo, a semelhança de sarx, é que o número de usos de pneuma significando espírito humano em Paulo é incerto, pois em muitas passagens não é claro se a referência é ao Espírito divino ou ao humano. De qualquer modo, é significativo que número de referências ao Espírito Santo supera em muito o das referências ao espírito humano.

Em síntese, Dunn nos diz:


...podemos dizer que a pessoa humana, de acordo com Paulo, é um ser que funciona dentro de várias dimensões. Como seres corporificados, somos sociais, definidos em parte pela nossa necessidade e nossa capacidade de entrar em relação, não como opcional extra, mas como dimensão da nossa própria existência. Nossa carnalidade atesta nossa fragilidade e fraqueza como meros humanos, a inevitabilidade de nossa morte, nossa dependência da satisfação dos apetites e dos desejos, nossa vulnerabilidade à manipulação desse apetites e desejos. Ao mesmo tempo, como seres racionais, somos capazes de alçar às maiores alturas do pensamento reflexivo. E como seres que sentem somos capazes das mais profundas emoções e da mais intensa motivação. Somos seres vivos, animados pelo mistério da vida como um dom, e há uma dimensão do nosso ser pela qual somos diretamente tocados pela realidade mais profunda dentro e além do universo. Paulo não duvidaria em dizer, grato e reconhecido, com o salmista: “Eu te celebro por tão grande prodígio, eu me maravilho com as tuas maravilhas (Sl 139.14)”.[15]



[1] PUENTES REYES, Pedro A. O corpo como parâmetro antropológico na bioética. Tese de Doutorado. EST-INPG, Disponível em: Acesso em: 03 maio 2007. p. 72. Puentes ressalta que “a totalidade humana como materialidade, pó, corpo, não é em si fonte do pecado e do mal. [...] Em Paulo os aspectos negativos da existência humana se devem à sarx, a carne, e não ao soma, o corpo.” Ibid., p. 101.
[2] John A. T. Robinson apud.: Pedro A. O corpo como parâmetro antropológico na bioética. Tese de Doutorado. EST-INPG, Disponível em Acesso em: 03 maio 2007. p. 73.
[3] John A. T. Robinson. Loc. cit.
[4] Nunca de cadáver. Cf. DUNN, James. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 86.
[5] WIBBING, S. corpo in:COENEN, L. BROWN, C. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 521.
[6] BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Teológica, 2004. p. 248.
[7] DUNN, James. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 87.
[8] DUNN, James. op. cit., p. 92. Nesse sentido, entende-se o labor de Paulo em 1Co 15 afirmando a ressurreição do corpo. “A vida humana é inconcebível sem o corpo.” Cf. WIBBING, S. corpo in:COENEN, L. BROWN, C. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 522.
[9] WIESE, Werner. A importância da corporalidade na escatologia paulina: uma análise de textos paradigmáticos das cartas autênticas de Paulo. Dissertação de Mestrado. Sem. Teo. Batista do Norte do Brasil. Recife, PE. 1996. (Não publicado). p. 133.
[10] Segundo Bultmann, Paulo se opõe a algumas das noções apreciadas pelos gnósticos, como a depreciação do corpo, mas vê uma fenda tão profunda no homem, uma tensão tão grande no seu interior... que se aproxima do dualismo gnóstico. Embora ele utilize primordialmente psychê no sentido veterotestamentário de “vida ou pessoa”, seu uso do termo em sentido depreciativo em contraste com pneuma evidencia a influencia gnóstica. REASONER, M. In: HAWTHORNE, G. F. (org.) Dicionário de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova/ Paulus/ Loyola, 2008. p. 1021-1033.
[11] DUNN, James. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 93.
[12] REASONER, M. In: HAWTHORNE, G. F. (org.) Dicionário de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova/ Paulus/ Loyola, 2008. p. 1021-1033.
[13] DUNN, James. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 109.
[14] REASONER, M. In: HAWTHORNE, G. F. (org.) Dicionário de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova/ Paulus/ Loyola, 2008. p. 1021-1033.
[15] DUNN, James. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 112.

domingo, 20 de setembro de 2009

Dicotomia ou Tricotomia?

Como a Bíblia divide o ser humano? Ou melhor, ela o divide? Somos uma criatura dividida? Como entender corpo, alma e espírito?
Antes de procurarmos um posicionamento que se aproxime das escrituras, é importante definirmos os termos tricotomia e dicotomia.[1]

–> tricotomia: o termo, que significa uma “divisão em três partes” (gr. tricha, “em três partes”; temnein, “cortar”), é aplicado na teologia à divisão tríplice da natureza humana em corpo, alma e espírito. Esse conceito desenvolveu-se da divisão dupla feita por Platão [...]. Os escritores cristãos primitivos, influenciados por essa filosofia grega, acharam a confirmação da sua opinião em 1Ts 5.23: “os mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. Em uma versão de tricotomia, Deus habita o espírito (a pessoa interior) e o liberta da escravidão à alma (pessoa exterior) e ao corpo (a pessoa mais exterior) e faz a alma e o corpo subservientes ao espírito.
–> dicotomia: este termo, que significa uma divisão em duas partes (grego dicha, “em dois”; temnein, “cortar”), aplica-se na teologia àquele conceito de natureza humana que sustenta que o homem tem duas partes fundamentais no seu ser: o corpo e a alma/espírito, uma parte material e outra imaterial.[2] Por influência de Agostinho e dos reformadores protestantes, a dicotomia tornou-se a opinião estabelecida na teologia ocidental. J. G. Machen, por exemplo, afirmou ser inquestionável que a Bíblia “reconhece a presença de dois princípios ou substancias distintos no homem – o corpo e a alma”. Para ele, e à maioria dos exegetas, alma e espírito simbolizam a mesma realidade.

Problemas da interpretação tricotômica do ser humano

Essa interpretação da natureza humana, pode, facilmente, deixar despercebida a tremenda ênfase bíblica na integralidade e na unidade, onde mesmo no texto “prova” em Tessalonicenses, Paulo ora para que sejam santificados em tudo, e que [todo - ARC] seu espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros.
Geralmente, a escola teológica que defende a tricotomia, reduz o corpo a “carcaça”, “templo”, “receptáculo”, etc. da alma e espírito. Leiamos essas declarações:


Em resumo, a imagem de Deus, no homem, refere-se à imagem espiritual e moral, conforme a semelhança de Deus; e também à imagem natural, pelo fato de o homem ser uma pessoa, à semelhança de Deus, que também é Pessoa. Quanto ao corpo, foi feito por Deus para abrigar a parte espiritual do homem, formado por espírito e alma.
O corpo não é a imagem de Deus, porque é formado do “pó”. Porém, o Senhor soprou nele a nephesh _ a vida física da alma que possui a imagem e semelhança de Deus (Gn 2.7) Os impulsos físicos, pois, encontram-se sob o controle do espírito humano, a sua parte superior.
Os impulsos físicos, pois, encontram-se sob o controle do espírito humano, a sua parte superior.
[3]


Nessa perspectiva, a utilidade do corpo se resume a “abrigar” a parte espiritual do ser humano, de modo que, se estabelece a superioridade deste em relação àquele. De acordo com estas declarações, alma e espírito abrigam a imagem de Deus, portanto, a dimensão espiritual do ser humano é privilegiada e tem relação direta com Deus. Quanto ao corpo, este possui relação direta com a alma e espírito e só num segundo momento, há relação com Deus.

O corpo na concepção tricotômica está excluído daquilo que constitui a “imagem e semelhança” de Deus, tendo como função abrigar a parte espiritual do homem, isto é, o espírito e a alma. Aqui se percebe uma nítida desvalorização do corpo porque a dignidade do ser humano está no fato de ser semelhante a Deus. Sendo o corpo excluído do vínculo com esta semelhança de Deus, pois é privilégio apenas da alma/espírito, fica estabelecido a divisão do ser humano. Uma parte sua é imagem e semelhança de Deus enquanto outra não.

Tudo no ser humano é Imago Dei (falo mais sobre isso aqui), e o ser humano não tem corpo, ele é corpo (entenda mais clicando aqui). É preciso entender que os muitos termos que a Bíblia utiliza para se referir as partes específicas do ser humano, dizem respeito ao ser humano com um todo. Vemos muito isso em Paulo, pois ele frequentemente indica a pessoa toda por meio de termos que em outros contextos designam um aspecto ou uma dimensão da pessoa. Ao fazê-lo, ele não contradiz o outro emprego, nem confunde a parte com o todo. Ele vê a pessoa toda de um ponto de vista determinado, ou realça a contribuição de determinado aspecto para o funcionamento do todo.[4]

Em 1Ts 5.23 onde Paulo parece dividir a pessoa em três partes. Mas a intenção de Paulo é exatamente o contrário: “Que o Deus… vos santifique totalmente (holísticamente)…”, longe de dividir a pessoa, Paulo expressa a esperança de que os crentes, mediante a obra santificadora de Deus, sejam salvos da desintegração e preservados como seres completos (holos). Ele junta os três termos (somente aqui) para enfatizar, não para definir.[5]

Na próxima parte de nosso estudo, vamos entender que Paulo não valoriza o espírito em detrimento do corpo, o coração em detrimento da razão, Paulo enxerga o ser humano como um todo, tanto que a salvação do ser humano não acontecerá sem o corpo (1Co 15).

____
[1] Utilizaremos as definições de WARD W. E. In: ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1984. Vol. 1 e 3. e de REASONER, M. In: HAWTHORNE, G. F. (org.) Dicionário de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova/ Paulus/ Loyola, 2008. p. 1021-1033.[2] Existe também autores que rejeitam a dicotomia e defendem que o ser humano é retratado na Bíblia como uma totalidade, um todo, um ser unitário, que nesta vida presente não pode ser assim dividido. Esse pensamento, denominado Monismo, encontra amparo na antropologia do AT.[3] GILBERTO, Antonio. (Ed.) Teologia sistemática pentecostal. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. p. 259 e 307.[4] REASONER, M. In: HAWTHORNE, G. F. (org.) Dicionário de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova/ Paulus/ Loyola, 2008. p. 1021-1033.[5] REASONER, M. In: HAWTHORNE, G. F. (org.) Dicionário de Paulo e suas cartas. São Paulo: Vida Nova/ Paulus/ Loyola, 2008. p. 1021-1033.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Independência e Morte!

Hoje, 7 de setembro, simbolicamente comemora-se a independência do Brasil, quando D. Pedro bradou: “Independência ou morte”, a partir de então, nosso País começa a ter autonomia política em relação ao Reino de Portugal.

Pensando sobre essa data comemorativa, fui parar naquele jardim, O Jardim no Éden. Foi lá que aconteceu o maior processo emancipatório da história da humanidade, quando Adão e Eva gritaram as margens do “rio Eufrates”: Independência e Morte.
Segundo o txt de Gn 3.3 o casal estava ciente de seu futuro caso comecem o fruto: “mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’” (NVI).

Adão e Eva escolheram caminhar sozinhos, terem conhecimento do bem e do mal. O autor bíblico utiliza a figura de uma árvore, visto essa figura simbolizar o conhecimento humano no Antigo Oriente. Tudo então fica claro: o autor quer nos dizer que um dia a humanidade decidiu caminhar sozinha, independente, seguindo sua própria sabedoria. O autor ainda faz questão de utilizar o termo hebraico Adam tanto para o relato da criação como o da queda, porque:

A origem do pecado está na humanidade, está em Adão (Rm 5.12). Adão e Eva são personagens coletivos, representam a humanidade em geral. Paulo diz: em Adão todos pecaram (1Co 15.22). Adão é personalidade corporativa! Não há como atribuir culpa somente a um ancestral, utilizando-o como “bode expiatório”. A queda repete-se em cada pessoa, pois todos pecam. Ninguém está em condições de começar da estaca zero, pois a humanidade traz consigo a marca do pecado.[1]

Emancipar-se de Deus foi a maior estupidez da humanidade. Nosso rastro histórico tem provado que nossa independência de Deus, que é sinônimo de dependência do pecado, só nos conduz ao caos e ao abismo. O ser humano autônomo é burro, pois ele foi programado para Deus.[2]

Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti
Agostinho em suas Confissões.
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[1]http://ocioteologico.blogspot.com/2008/08/origem-do-mal-rascunho-de-um-pensamento.html
[2] WESTERMANN, apud. WIESE, Werner. Ética fundamental: critérios para crer e agir. São Bento do Sul: União Cristã. 2008. p. 64.

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