terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ano Novo, pessoa nova?


Se existe “alguém” que recebe promessas é o ano novo. Sempre fazemos votos de que tudo será melhor, diferente. Fazemos muitas promessas a nós mesmos, aos outros e a Deus. Parece que tudo vai mudar no ano que vem num passe de mágica. Mas a realidade nua e crua é: o ano é novo, mas nós continuamos os mesmos. Não é novidade para ninguém que um ano novo, um carro novo, um companheiro novo ou companheira nova, não tornam ninguém novo, diferente, doce ilusão!

Mudanças em nosso ser não dependem de calendário, mas de atitude, paciência e fé. Se magoei alguém, não é a noite da virada que trará o perdão e a reconciliação, mas a humilhação, o pedir perdão, e isso não se anota na agenda. A mudança de mente (metanóia) operada por Deus em nós não pode estar presa ao reveillon, ao “ano que vai nascer”. Por que se dessa forma, mudanças significativas em nossa vida só aconteceriam depois do carnaval.
Então desejo a você um feliz ano novo, e adeus “homem” velho...mas lembre-se, mudanças significativas podem acontecer a qualquer momento, basta dar meia volta.


uma boa mudança...

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Deus desceu para subir...


“Todo menino quer ser homem. Todo homem quer ser rei. Todo rei quer ser Deus. Só Deus quis ser menino”. L. Boff.

Penso que essa frase do teólogo Leonardo Boff sintetiza brilhantemente o Natal, onde a humanidade é abalada com a irrupção do Reino de Deus no seio de sua história. Enquanto os homens funestamente buscaram a divinização como meio de salvação, paradoxalmente Deus tornou-se humano em Cristo para salvar. Gosto das palavras de Lewis:

“De acordo com a história cristã, Deus desce para voltar a subir. Ele desce das alturas da existência absoluta no tempo e espaço à humanidade. [...] ele desce para subir de novo, trazendo consigo todo o mundo arruinado. Isso nos faz pensar em um homem forte abaixando-se cada vez mais para colocar-se debaixo de um grande e complexo fardo. Ele deve abaixar-se para o levantar, quase desaparecendo sob a carga, antes de endireitar incrivelmente as costas e seguir avante com toda a imensa massa balançando em seus ombros.”[1]

O Natal então anuncia essa descida de Deus, esse evento inaudito: O Todo Poderoso tornando-se matéria, entrando no tempo e no espaço, expondo-se a morte, tornando-se homem! Eu me pergunto: o que é salvífico em Cristo, sua encarnação? Sua morte? Ou sua ressurreição? Boff defende a idéia de que tudo em Cristo é salvífico, sua encarnação, vida, morte e ressurreição.[2]

Faço coro com ele e sugiro que nesse Natal pensemos holisticamente Cristo, começando pelo seu nascimento, passando por seus ensinamentos, velando seu sofrimento, alegrando-se com seu ressurgimento, esperando pelo arrebatamento.

A você querido leitor, um Feliz Natal!

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[1] Um ano com C. S. Lewis. Viçosa: Ultimato, 2005. p. 398.
[2] BOFF, Leonardo. Paixão de Cristo paixão do mundo. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2003. p. 110.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Diaconia, o amor em ação!


A passagem de Lc 22.27 que diz: “Pois qual é o maior: quem está à mesa ou quem serve? Porventura, não é quem está a mesa? Pois no meio de vós, eu sou como quem serve (diakonein)” (ARA).

Sem o invólucro parenético dos vv. 24-26, provavelmente remonte a uma palavra proferida por Jesus durante a última ceia. Surge a pergunta: mas qual é a maneira de Jesus Cristo servir? O que afinal ele fez? No contexto direto da última ceia não fez nada! Pelo menos não se encontra em lugar algum que ele esteja servindo concretamente seus discípulos à mesa. Pode-se afirmar com certeza que ele encontra-se nos últimos momentos de sua caminhada, não podendo empreender mais nada. Resta-lhe sofrer esse dia até o fim. Consegue ainda produzir algumas palavras dirigidas aos discípulos, sendo que, até isso é muito breve. Concomitantemente, é precisamente essa situação que confere a declaração de Jesus Cristo uma forma extremamente marcante: Ele presta o maior serviço a seus discípulos justamente pelo fato de só poder ainda sofrer o que Deus lhe impôs.

As duas perguntas constatam mais uma vez que agora, eu seu ser diaconal, Cristo precisamente não é o maior, ele com essa declaração inverte radicalmente no contrário tudo que até agora vigorava. Quem agora é decisivo é Aquele que não possui nem poder nem fama, Aquele a quem tão somente resta morrer impotente e ridicularizado por todos.[1]

Levar a sério as palavras de Cristo é admitir que o serviço diaconal mais importante será aquele realizado por quem está mais tolhido no grupo dos discípulos, e que não consegue mais assumir um serviço diaconal no sentido corrente, ou seja, todos eles são incapazes de realizar o serviço diaconal primordial para religiosidade da época, a saber, o sepultamento do Mestre. É alguém de fora que realiza-lo, visto que os discípulos fugiram!

O fracasso dos discípulos é demonstrado ao longo dos evangelhos, principalmente no exemplo de Pedro. Fatos que demonstram abertamente a condição de todo ser humano na comunidade de Jesus Cristo. Para o apóstolo Paulo a experiência do diaconato é marcada pela insígnia do serviço mesmo diante da precariedade e limitação humana. A configuração do serviço de Paulo é a que ele “morre” diariamente (1Co 15.30-32). Esse serviço está longe de ser um motivo de admiração, é uma experiência que ele descreve com toda sobriedade; pois morrer diário não acontece, p. ex., pela meditação, mas no fato de correr perigos permanentes por causa de Cristo.

A diaconia deve partir do princípio da própria fraqueza, nesse ínterim Tomás de Kempis [2] propõe: “Não julgues ter feito progresso algum, enquanto te não reconheças inferior a todos”. Ser diácono não exige diplomas. Os princípios da liderança servidora podem ser aprendidos e aplicados por aqueles que querem mudar e melhorar. O que vale é a motivação para mudar. Falar de mudança é fácil, mas para mudar mesmo é preciso iniciativa e coragem para sair da zona de conforto e entrar no desconhecido.[3]
A diaconia é movida pelo amor, e o amor devocinal é a disposição de uma pessoa para ser atenciosa com as necessidades, os interesses e o bem-estar de outra, independente de como se sinta. C. S. Lewis disse: Amar não significa se emocionar. É algo que sentimos em relação a nós mesmos e que devemos aprender a Ter em relação às outras pessoas. Significa que desejamos nosso próprio bem. Para Hunter amor é: O ato de se por a disposição dos outros, identificando e atendendo suas reais necessidades, sempre procurando o bem maior. Amar é fazer e não dizer, amar é ação. Nossas palavras perdem a força se não acompanhadas de atitudes. Ralph W. Emerson disse: o que você É grita tão alto em meus ouvidos que não posso ouvir o que está dizendo.

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[1] SCHWEISER, Eduard. in: NORSTOKE, K. A diaconia em perspectiva bíblica e histórica. São Leopoldo: Sinodal, 2003. p. 54.
[2] KEMPIS, Tomás. Imitação de Cristo. São Paulo: Martin Claret, 2005. p. 49.
[3] HUNTER, J. C. Como se tornar um líder servidor: os princípios de liderança de o monge e o executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2006.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Deus submerso, soterrado e solidário.


O Brasil tem acompanhado o dilema de famílias que perderam tudo, de famílias que não existem mais, vítimas das fortes chuvas no Sul do país. O estado de Santa Catarina está debaixo da água. A cidade de Itajaí ficou com mais de 90% da cidade alagada. Muita água, muita sujeira, muitos danos, muitas perdas, muita dor e muito amor. Alguns têm se perguntado: Deus onde estás?

Os “amigos” de Jô, defensores da teologia da retribuição, estão dizendo que Deus está penalizando o estado por causa das festas de outubro, afinal, Ele já usou catástrofes naturais para penalizar antes. Ou seja, Deus está sentado no trono, exercendo seu papel de juiz, condenando os pecadores, condenando o estado por tamanha promiscuidade.

Não creio nisso, e o livro de Jó já deixa claro que essa teologia toma lá da cá, é caduca, mesmo porque, muitas pessoas tementes a Deus (assim como Jó) sofreram com a tragédia. Diante desse cenário arrasador, eu creio que Deus está submerso com os alagados, encoberto com os soterrados e atuante com os solidários.

Creio que o ecossistema está simplesmente respondendo a atuação degradante do ser humano nele. Em Adão pecamos, escolhemos a independência e isso acarretou sair do domínio de Deus e entrar no domínio do pecado. Nós criamos o mal (saber mais, clique aqui), nós estamos destruindo o mundo, nós, justos e injustos, evangélicos e católicos, todos estão sofrendo as conseqüências disso. No caso das chuvas, uns sofreram mais, outros menos, e Deus não é culpado por isso e não é injusto. Nós fizemos uma escolha e estamos pagando por ela e desde que a fizemos, o sofrimento faz parte de nossa existência.

Como já afirmei acima, creio que Deus sofre junto e de todo essa mal, ainda faz surgir o bem, a camaradagem e a solidariedade. Assim como em Cristo Deus foi simpático com o mundo, foi solidário, creio que nos pequenos cristos, nós, Ele tem manifestado seu carinho e cuidado. Essa calamidade despertou uma solidariedade há muito não vista no estado. Todas as cores, todos os credos, unidos em prol da mesma causa: ajudar o próximo.

Leonardo Boff diz que a vida é mortal: “desde que começamos a viver; começamos também a morrer.” . Até quem tem promessa morre, e pode sim, morrer soterrado, submerso, como muitos irmãos morreram. Crente morre em tragédias, seja ele criança, jovem, adulto ou ancião. Enquanto estivermos por essas bandas, estamos sujeito como qualquer um, a sofrer as mais terríveis barbáries.

Deus é nosso parceiro nessa caminhada em que estamos. Sofre conosco a cada temporal, a cada inundação, e assim como está com aqueles que sofrem, está com aqueles que ajudam. Os bons samaritanos. Deus poderia muito bem abandonar sua criação e larga-la a sua própria sorte, mas não, Ele escolheu estar junto em cada momento, bom ou ruim.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Deus da Cabana - final


Estamos de volta e vamos a última parte da análise teológica, grosso modo, do livro que tem provocado os ânimos de muitos cristãos, o livro A Cabana, de William P. Yong. Livro que divide opiniões e pode levar a boas discussões, se ambos os lados não esquecerem que o livro é uma ficção, um romance e não uma confissão de fé ou um tratado teológico. Contudo, reconheço que o autor parece querer mais do que contar uma estória. Eugene Peterson arrisca dizer "Este livro tem o potencial de fazer com a nossa geração o que O Peregrino de John Bunyan fez para a sua. É muito bom."

Outro aspecto do Deus da Cabana que diverge do Deus ocidentalizado é a questão da institucionalização. O Deus pregado no Ocidente, de certa forma, é exposto como o criador da igreja, do cristianismo, Deus que gerou instituições para dar ordem na criação. O Deus da Cabana não gosta de instituições e rituais religiosos, não tem relação alguma com política, economia e religião. O Deus da Cabana afirma que essa tríade “são ferramentas terríveis que muitos usam para sustentar suas ilusões de segurança e controle” (p. 166). O Deus de Yong só tem a ver com relacionamentos. Relacionamento que liberta desse sistema. Jesus no livro A Cabana explica para Mack, que essas instituições são inevitáveis, mas não são o fim nem mesmo a solução da humanidade. Jesus diz o seguinte:
“Mack, o sistema do mundo é o que é. As instituições, as ideologias e todos os esforços vãos e inúteis da humanidade estão em toda a parte e é impossível deixar de interagir com tudo isso. Mas eu posso lhe dar liberdade para superar qualquer sistema de poder em que você se encontre [...] Você terá uma liberdade cada vez maior de estar dentro ou fora de todos os tipos de sistemas e de se mover livremente entre eles. Juntos, você e eu podemos estar dentro do sistema e não fazer parte dele ” (p. 168).
O Deus da Cabana tem seguidores em todos os sistemas e afirma que seu objetivo com a humanidade não é torná-la cristã, mas tornar cada ser humano seu filho, num relacionamento de amor. Então Mack faz a pergunta: quer dizer que todos os caminhos levam a você? Jesus responde: de jeito nenhum, a maioria dos caminhos não leva a lugar algum, mas eu busco vocês em todos esses caminhos.

O Deus da Cabana é três em um. A economia trinitária é apresentada no livro de forma bem humorada, deixando esse assunto complexo mais acessível àqueles que nunca leram algo sobre o tema. É interessante que a marca dos cravos não está somente em Jesus, mas nos três!

O Deus da Cabana não tem nada a ver com o mal, diz que esse é fruto da independência escolhida pela criação. O mundo não é um playground onde eu mantenho todos os meus filhos longe do mal. O mal é caos, mas não terá a palavra final. O Deus da Cabana é enfático em afirmar que o mal atinge a todos, os que o seguem e os que não. O sofrimento atinge a todos e isso é inevitável, contudo, o Deus da Cabana se propõem a compartilhar a carga. Onde está Deus em nosso sofrimento? Ao nosso lado. Ele diz que esse mal da significado ao amor! Por enquanto...

Acredito que esse livro mais ajunta do que espalha, e faço coro com Peterson!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O Deus da Cabana


Imagine receber um bilhete assinado por Deus, convidando-o a um encontro no local onde sua filha foi brutalmente assassinada. Mesmo desconfiado, você vai, afinal, se passaram quatros desde a tragédia e não tens nada a perder. Ao chegar no local, uma cabana velha, você se depara com uma negra enorme e sorridente, uma asiática e um homem, vestido de operário, que parece ser do Oriente Médio, um hebreu da casa de Judá para ser mais exato. Como o bilhete estava assinado em nome de Deus você pergunta: Qual de vocês três é Deus? E ouve os três simultaneamente: Eu! Essa experiência aconteceu com Mack, e nos é contada no romance literário A Cabana, de William P. Yong (Sextante, 2008).


Deus da Cabana nos é apresentado numa concepção diferente do Deus apresentado, grosso modo, em nossa teologia ocidental, a começar pelo gênero. A negra enorme que gosta de cozinhar (lembra a Oráculo de Matrix) chamada Elousia, exerce dentro da economia trinitária o papel de Pai, ou Papai como ela gosta de ser chamada, isso mesmo, elA gosta de ser chamada de Papai, parece meio confuso, mas não é. Temos o Deus mãe. Estamos tão acostumados em pensar Deus nas categorias masculinas que esquecemos que a própria Bíblia apresenta Deus como mãe (Mt 23). O Deus da Cabana é Pai e Mãe. Essa idéia de apresentar Deus como Mãe não é nova na teologia, mas com certeza nunca ganhou tanta popularidade como tem ganhado agora com o livro, que só nos EUA vendeu quase 2 bilhões de exemplares e aqui no Brasil não para nas prateleiras das livrarias, se bobear vai parar até no catálogo da Avon.

Pensar em Deus como Mãe pode ser um remédio para muitas pessoas, que dizem apresentarem problemas com Deus Pai, justamente por terem referenciais paternos horríveis. Acredito que pensamos Deus em categorias masculinas e paternas devido ao relacionamento do próprio Jesus com o Pai. Mas creio que a Bíblia permite eu pensar Deus em categoria femininas e maternas!

Por enquanto é isso, estarei fora do ar por duas semanas, e quando voltar analisarei outros aspectos teológicos do livro!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O perdão de Deus


Por Fernando Albano, 29, professor de Teologia no Centro Evangélico de Educação e Cultura – CEEDUC, Joinville (SC).


“Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12).


Quem de nós sabe o quanto exatamente devia para Deus, quando vivia afastado da graça salvadora que há em Jesus? Há um hino que diz assim: “Eu nunca saberei o preço dos meus pecados lá na cruz”. Acreditamos haver muita verdade nessa frase. A questão também não é somente quantitativa, pois devemos considerar que, não temos a percepção exata do quanto ofendemos a Deus com o nosso pecado.
Considerando que Deus é absolutamente santo, separado de toda forma de mal. Quando pecamos estamos errando o alvo da Sua vontade. De fato, posicionamo-nos contrariamente a Deus e tornamo-nos seus inimigos! Portanto, “perdoa as nossas dívidas” é oração necessária e urgente, mas somente pode ser feita por lábios trêmulos e coração contrito, que reconhece o quanto tem ofendido a Deus com os seus pecados.

Por outro lado, essa oração jamais é pronunciada, pela boca de fariseus e hipócritas cuja consciência encontra-se cauterizada e, já não pode contabilizar seus próprios pecados, a não ser os pecados dos outros, que, aliás, são muitos bem contabilizados! Alguém duvida? Então prestemos atenção no seguinte texto: “Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no íntimo: ´Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens: ladrões, corruptos, adúlteros; nem mesmo como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho´”.
Infelizmente, nem todos podem pedir a Deus que perdoe suas dívidas, pois muitos nem possuem a consciência de que são devedores a Deus. E quem de nós não precisa ter suas dívidas perdoadas junto a Deus? Paulo é categórico: “Por que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). João assim escreveu: “Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.8-9). Um dos piores pecados do ser humano, certamente é o fato de não reconhecer a sua condição de devedor à justiça de Deus.

Sendo assim, “perdoa as nossas dívidas” é oração feita por gente esclarecida pelo Espírito Santo, pois como está escrito: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”. O referido texto faz alusão ao ministério do Espírito Santo nesse mundo. O problema é que essa ação do Espírito pode ser resistida pelo coração impenitente (At 7.51; Hb 3.7-8). No entanto, todos quantos desejarem ser perdoados por Deus o poderão sê-lo, uma vez que Deus não abre mão da criatura devedora, pois está sempre disposto por Sua graça e amor a quitar a dívida do pecador. Aliás, segundo o apóstolo Paulo Ele já o fez “... Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz” (Cl 2.13b-14).Diante disto, cabe a nós reconhecer o que Deus fez em nosso favor e pedirmos humilde e confiantemente “Perdoa as nossas dívidas”. Deus quer perdoar! Mas, e, nós queremos o seu perdão? Se a resposta for sim, então é necessário confissão e conversão.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Wittenberg e Azusa na volta às origens


Estamos na semana onde tradicionalmente se comemora a Reforma Protestante, evento desencadeado no dia 31 de outubro de 1517, após Lutero fixar 95 teses contra as indulgências e outros desvios teológicos da igreja na época. No intuito de valorizar esse evento, o CEEDUCCentro Evangélico de Educação e Cultura está promovendo a terceira edição do Fórum de Pentecostalidade e Reforma. Já tivemos quatro comunicações por parte tanto de alunos como de funcionários, e o tema gira em torno do possível diálogo desses dois movimentos que tinham e tem algo em comum: servir ao Reino de Deus voltando às origens, voltando-se para o NT. Nessas duas noites de fórum uma coisa já está evidente: todos concordam que uma reforma se faz necessária, ou melhor, que uma volta aos princípios da Reforma urge!

A Reforma
É bem verdade que Lutero não pretendia deflagrar um movimento com as 95 teses, antes, esclarecer uma questão que afetava diretamente a espiritualidade de seus paroquianos: a indulgência. O reformador só queria como teólogo e cura d’almas, zelar pela correta doutrina e pregação da Igreja.[1] Contudo, abalou os fundamentos medievais de seu tempo e abriu novos horizontes na política, na economia, na educação, etc. A Reforma pode-se dizer de certa forma, é uma volta as origens, é a busca pela centralidade de Cristo, da fé, da graça e das Escrituras.

O Pentecostalismo
O pentecostalismo enquanto outro movimento do Espírito, organiza-se em 1901 em Topeka e rompe fronteiras com a rua Azusa. O pentecostalismo é também uma volta às origens e ainda que não reconheça, deve sua existência a Reforma. Sua convicção de ser um resgate as origens é tão intenso que praticamente despreza toda a história eclesiástica que vem atrás de si, dando importância somente as Escrituras, o que é muito bom, e ruim.

Busca Comum
Penso que Wittenberg e Azusa são duas tentativas de volta às origens, é claro, com ênfases diferentes. Mas a idéia que perpassa os dois movimentos é a mesma: um cristianismo limpo de tradicionalismos e invenções humanas. Mas como todo movimento que surge na história da igreja sua força inicial é amenizado surgindo sempre um grupo que tenta voltar às origens que embalaram o início do movimento.

Não precisamos de uma nova reforma
Com tanta história atrás de nós, marcadas por erros e acertos, creio que não precisamos fazer uma nova reforma, devemos sim, resgatar os princípios bíblicos e as balizas defendidas pela Reforma Protestante do séc. 16, resgatar a busca pelo poder do Espírito Santo difundido pelo movimento pentecostal do séc. 20. Mesmo que estejamos no séc. 21, esses princípios são atuais, visto a história ser cíclica. Prova de que devemos resgatar a história a inventar algo novo, são os ranços da Idade Média que estão presentes na igreja hodierna (leia o artigo abaixo caso queira ver os paralelos entre o catolicismo e o pentecostalismo). Tanto reformados luteranos como pentecostais se perderam, em grande medida, nos becos da história e precisam achar o caminho de volta. O ideal seria se ambos os movimentos andassem de mãos dadas, um aprendendo com o outro, resgatando o que cada um tem de melhor.

Considerações finais
Sinceramente? Dando uma rápida olhada para os herdeiros da reforma e do movimento pentecostal tal resgate parece impossível. De um lado, generalizando, temos os reformados, que se engessam numa liturgia engessada e uma teologia fechada em si mesma, de outro, os pentecostais, que dando fruto à imaginação inventam modismos atrás de modismos, transformando esoterismo em cristianismo em nome de Jesus Cristo. Mas nem tudo está perdido certo? Pois ainda temos: reformados que crêem que a academia pode se relacionar com a ação do Espírito e: pentecostais que valorizam a teologia e reconhecem “nem tudo cai do céu”. Nossa lição de casa é resgatarmos a história e não falarmos “latim” ao povo. E a educação pode ser um caminho nessa busca pelo caminho de volta para casa.

Reconheço que esse texto é incompleto diante de temas tão profundos, contudo seu objetivo era uma pequena reflexão em comemoração a semana da Reforma e aos 75 anos de movimento pentecostal em Joinville-SC.


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[1] DREHER, M. N. In: LUTERO, Martinho. Obras selecionadas: os primórdios escritos de 1517 a 1519. 2 ed. São Leopoldo: Sinodal, Porto Alegre: Concórdia, Canoas: Ulbra., 2004. v.1. p. 20.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Catolicidade romana pentecostal



Em tempos de reflexão sobre a Reforma Protestante, resolvi escrever sobre o quanto esse evento ainda precisa acontecer no meio evangélico, principalmente a ala pentecostal do protestantismo brasileiro.


O movimento pentecostal tem, entre outras características, o anti-catolicismo. Muitas pregações são inflamadas pelo combate a religião romana. A linguagem bélica deixa bem claro que a Igreja Católica Romana é anti-bíblica, é a meretriz do livro de Apocalipse, uma igreja (para alguns, seita) corrompida pela idolatria. Contudo, em minha curta caminhada cristã pentecostal, percebi muitas semelhanças entre nós pentecostais e os católicos romanos.
O texto que escrevi não tem como objetivo desmerecer ninguém. Não é para rebaixar pentecostais ou elevar católicos romanos, mas justamente despertar a camaradagem entre esses movimentos, que, de uma forma ou de outra, tentam se aproximar do divino. Vamos as semelhanças:

Salvação
Dentro da história da teologia, a soteriologia (doutrina da salvação) sempre ocupou lugar de destaque nos palcos das discussões entre os pais da igreja, bem como na Reforma Protestante. De certa forma, o pentecostalismo é fruto da Reforma, mas sua soteriologia em muito se assemelha com Roma. Tanto o catolicismo romano como o pentecostalismo confessa que Jesus Cristo Salva e que o ser humano pode fazer algo em prol desse acontecimento. Em ambos os movimentos têm-se a possibilidade da salvação por obras. Enquanto no catolicismo romano enfatiza-se o fazer o bem ao próximo como um dos meios de salvação, o pentecostalismo aposta na piedade pessoal, tenho que ter uma vida santa e irrepreensível, se eu bobear, perco a salvação. Não foi nem uma nem duas vezes, que, ao falar sobre justificação por fé, recebo o comentário de volta: “é né irmão, mas temos que fazer a nossa parte”.

Imagens
Geralmente quando interrogado sobre a adoração a imagens, o católico diz que não adora a imagem, mas o que ela representa. A história da igreja revela que existe verdade nisso. As imagens eram uma ferramenta pedagógica na comunicação da fé aos iletrados. A grande realidade, é que o ser humano precisa de símbolos (aquilo que aproxima do centro), sua fé no invisível é estimulada pelo palpável, pelo visível.
É interessante que o movimento pentecostal, ainda que se diga iconoclasta, trocou as imagens de gesso por imagens de carne. Tiram-se os “santos” do altar e colocam-se os obreiros, os “santos” homens de Deus. O princípio é o mesmo: estimular a fé dos fieis. Já ouvi uma irmã dizer: “quando chego na igreja, e vejo aqueles homens lá na frente, me sinto segura, porque sei que tenho pessoas que oram por mim...”.
No movimento pentecostal temos até mesmo os “santos” preferidos. Explico. Muitas pessoas só aceitam oração de determinado obreiro ou obreira: “Vamos lá na vigília da irmã ou do irmão X porque lá Deus fala.” Já ouvi pessoas que não aceitaram receber oração de um presbítero ou diácono, tinha que ser do pastor.
Ainda uma pequena informação. É interessante notar que símbolos judaicos são bem aceitos no movimento pentecostal, enquanto que a imagem da cruz não. Em algumas construções pentecostais tem-se dificuldade em colocar-se uma Cruz, o maior símbolo do cristianismo, enquanto um candelabro é aceito sem questionamentos.

Papa (s)
A igreja Católica Romana acredita e defende a sucessão apostólica, pois acredita que assim se possa preservar o legado dos apóstolos. O Papa tem a palavra final e Deus fala mediante sua vida. Roma só tem uma papa.
Devido a influência coronelista, o movimento pentecostal fez para si muitos líderes que tem a mesma autoridade que o Papa católico. Em muitos lugares, líderes carismáticos tem o controle total sobre a igreja. Em muitas reuniões não se discutem idéias para o melhor funcionamento da igreja, ninguém arrisca dar uma opinião, estão ali simplesmente para dizer amém para tudo o que o líder disser, afinal é por meio dele que Deus fala. Se ele errar, dele Deus cobrará. Obreiros e mais obreiros fazem do seu ministério uma tentativa de achar graça aos olhos desse grande líder.
Quando o Papa morre, um conclave é feito para se escolher o novo Sumo Pontífice. Com um novo cabeça, a igreja ganha uma “nova cara”. No movimento pentecostal também é assim. Quando esse pastor morre, outro assume, e uma nova igreja surge. Como diz Paul Freston, trocamos a infalibilidade papal pela infalibilidade pastoral.

Vestes litúrgicas
A vestimenta do clero católico é cheia de simbolismo e significado. As batinas variam suas faixas de acordo com o momento litúrgico do ano, cada detalhe tem significado, muitas vezes desconhecido do povo em geral. Um padre não celebra a missa sem as vestes litúrgicas.
No pentecostalismo clássico, dificilmente alguém pregará sem gravata! A influência européia no país tropical até hoje está em voga. Já ouvi histórias de pessoas que foram convidadas para pregarem e estavam desprevenidas “liturgicamente” gerando aquele corre corre atrás de uma gravata.

Outras semelhanças existem, ainda mais depois do advento do neopentecostalismo, mas o acima exposto já é o suficiente para mostrar que temos mais em comum do que gostaríamos de admitir. Precisamos aprender a respeitar o próximo e olharmos para nosso próprio umbigo, podem ter certeza, acharemos sujeira!

PS esse texto escrevi antes da análise de Augusto Nicodemos em seu livro O que estão fazendo com a Igreja.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Brincando No Paraíso Perdido - Resumo

Resumo do Livro: Brincando no Paraíso Perdido – as estruturas religiosas da ciência. Autor: Euler Renato Westphal.
Este livro tem como meta investigativa a relação entre Teologia e Bioética. Impressiona as semelhanças entre ciência contemporânea e a religião, tanto nas funções litúrgicas quanto nas expectativas messiânicas.
Após anos de docência na Universidade, o autor aprendeu muito no diálogo com mestres de outros saberes, e descobriu a teologia cristã tem uma contribuição significativa para o ser humano do século XXI.
Existe na ciência pós-moderna uma dimensão religiosa muito forte, principalmente no âmbito da biotecnologia, que domina o patrimônio genético, assim ela tem o poder de decidir sobre a vida e a morte das pessoas, inclusive atender a encomendas, um filho conforme o desejo dos pais. No livro Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, temos a ditadura científica representada com muita propriedade. Nesse admirável mundo novo os cientistas são chamados de “predestinadores”, ou seja, aqueles que decidem sobre a usina humana, sobre os destinos dos embriões. Lá existem os seres superiores, os Alfa-Mais, outros são os Alfa-Menos. Do outro lado, os Gama e os Ypsilon, os seres inferiores, que formam a classe trabalhadora. Esses seres inferiores são destinados a amarem aquilo que são obrigados a fazer, amarem seu destino social, sua predestinação. No Admirável Mundo Novo, a ciência é uma grandeza religiosa, onde o encontramos o Todo-Poderoso D.I.C, que administra O Centro. Temos a religião oficial onde todos adoram FORD, através de um ato litúrgico, no qual o sinal da cruz é um T.[1] A eternidade é possível a partir do laboratório.
Vemos aqui a dominação da ciência como uma grandeza religiosa, pois ela promete a salvação eterna através da saúde perfeita. Um mundo sem dor e sem a possibilidade da morte.
A teologia contempla a saúde e a salvação eterna sob a perspectiva da kenosis, onde Deus vem ao nosso encontro, se faz de fraco para com os fracos. Isso é estranho aos ouvidos da filosofia grega, pois deus que é deus não ama, não sofre e não se compadece. Pois na visão aristotélica Deus é pantocrator, não tem debilidade, e amor é fraqueza. Nessa visão deve-se fazer coisas para agradar os deuses, contudo Jesus rompe com essa tradição dia-bólica e revela a graça simbólica de Deus.
Esse conceito encontra resistência em Nietzsche e sua visão de amor solidário, que na verdade é solidário com os fortes e capacitados (os Alfa-Mais). É a solidariedade do “Übermensh”, que consiste no abandono do amor ao próximo e na opção pôr aquele que ele escolhe. Este super-homem vive além do bem e do mal, do certo e do errado, do ódio e do amor, da vida e da morte. Vive heroicamente sem Deus, pois Deus morreu.
Como conseqüência dessa solidariedade sem amor e sem misericórdia, as ações humanas são pragmáticas, instrumentalizando o ser humano, excluindo os fracos. A vida humana é digna na medida em que ela traz algum benefício para a sociedade e para o mercado.
É isso que vemos na ciência moderna, que entra num beco sem saída com sua atitude arrogante, que despreza o amor, a espiritualidade e o respeito diante da sacralidade da vida. Ciência sem amor torna-se uma ameaça ao ser humano e a criação como um todo. O ser humano passa a ser coisa, e coisa não pensa, logo não existe.
Não é isso que pensa o Deus que se manifestou nos evangelhos. Pois o próprio Deus torna-se “saco de vermes”. Ele é sym-pathos com nossas fraquezas. Ele compartilha o sofrimento humano. Ele não exige atos heróicos de nós para podermos nos aproximar dele, mas Deus fez atos humanos para se aproximar de nós.
Oficialmente o sagrado é negado no interior da ciência médica. Entretanto o sagrado encontra-se dissimulado e amorfo, todavia constante e onipresente no interior do imaginário da medicina. Mas essa visão mecânica e hidráulica do ser humano não permite ver o sofrimento humano na sua real perspectiva. É necessário colocar a dor em um plano cartesiano para ser tratada.
Existe um cuidado a ser tomado em ralação ao pensar médico vigente, aquele que encontra a dignidade no viver e no morrer. Marcos Aurélio Da Ros afirma que: “não se trata de abandonar a prática médica clínica tradicional, mas redimensioná-la numa prática humanizada, crítica e reflexiva, que seja a pessoa como um todo em suas relações...”. A realidade não pode ficar restrita ao mensurável. O amor é um processo de vínculo e não pode ser reduzido a uma molécula.É preciso experimentar a gratuidade oferecida por Deus, abandonar essa preocupação excessiva com a beleza e com a saúde perfeita, que reflete o esforço humano de reconquistar sua imagem perdida. Contudo Deus nos dá salvação, sentido e esperança em meio ao desespero.
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[1] Encontramos também a eucaristia, que é celebrada com soma, um alucinógeno.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Acabaram-se os macebos - parte final

Desculpem a demora em postar algo novo, é a correria! Vamos com a 2 parte do Artigo de JP Muller, escrito em Junho de 1987 no jornal O Assembleiano.

Peço Linceça...

Se os ministérios estaduais no Brasil não se despertarem para este quadro que estamos mostrando (Leia primeira parte abaixo), muitas surpresas apanharão os menos avisados. Dentro de dez anos mais, haverá divisões em vários estados e cidades. Novos grupos surgirão novos movimentos levantar-se-ão e a unidade da Assembléia de Deus estará comprometida, tudo por culpa de alguém que ignora o talento de um jovem que está na igreja dez, quinze, vinte anos ou mais, sem ser valorizado ou reconhecido seu ministério.

Um Grito de alerta!

É hora das Convenções Estaduais reverem suas normas e critérios de separação de obreiros, pois está havendo uma satisfação [creio que ele quis dizer insatisfação pelo contexto] generalizada por parte desta geração que se criou dentro da Igreja, com a maior integridade, com o sentimento mais puro e nobre de trabalhar para o Senhor e são preteridos por apadrinhados ou aqueles que vem lá do mundo, de uma vida ímpia e pecadora, sobem ao púlpito, dão um testemunho cheio de emoção e aventura, contando tudo o que fizeram usados por Satanás, sensibilizando os que ouvem, e, em pouco tempo estão liderando trabalho, sendo separados e cometendo as maiores aberrações contra aqueles que viveram todos os seus dias dentro da Igreja, preservando-se puros, e vivendo conforme a sã doutrina. O que está acontecendo em algumas cidades, é um prenúncio. Irá acontecer com mais intensidade daqui pra frente, se as convenções estaduais do Brasil não se despertarem para a valorização do jovem obreiro.

Outrossim!

Novos movimentos, com forças novas surgirão, e nós nos tornaremos pentecostais sem o Pentecoste. Apenas tradicionais. Pentecostais sem o Pentecoste é tradição. Tradição é a força do hábito. Hábito é automatismo. Automatismo é conformismo, e conformismo é barreira para qualquer renovação espiritual. E só poderá acontecer renovação espiritual quando houver renovação de povos; não havendo renovação de povos não haverá renovação espiritual.

Nunca na história da Igreja, uma geração recebeu dois avivamentos. Cada geração recebe o batismo com o Espírito Santo uma única vez. Se não houver crentes novos, não haverá batismos, se não houver batismos, deixaremos de ser Pentecostes em ação.

Reposição

Para o Pentecostes estar em ação, é preciso que os líderes também sejam renovados; e é difícil virmos [sic] líderes avivados hoje em dia. Caso contrário, outros movimentos surgirão e arrebatarão os povos, pois Deus não em compromisso com homem algum e nem com denominação alguma, mas sim com o homem que resolve se colocar a sua disposição para realizar sua obra.

Avivamento

Todo pentecoste na Igreja começa ou com um jovem ou com crente novo. Se essas duas classes desaparecerem da igreja, ela sucumbirá. Podemos ser até conservadores, mas ficamos só nisso. O que devemos mesmo conservar é o Pentecoste, e Pentecoste é fogo aceso, e fogo é altar levantado; e altar levantado é vida nessa altar.

Uma última palavra...

Se não ocuparmos nossos jovens, convocando-os ao ministério, muitas igrejas vão sofrer roturas e cisões; e quem mais sofre é o trabalho de Deus já existente. Esses Jovens querem realizar a obra que Deus lhes confiou. Eles entendem que Deus pode e quer usá-los, mesmo que tenham de pagar alto preço.
É hora de salvarmos nosso movimento pentecostal chamado Assembléia de Deus, movimento este que tem trazido tanta alegria a milhões de pessoas no Brasil. As benesses foram tantas que este trabalho não merece se abater e se tornar um movimento como foram os demais. Nossos pais, que tudo fizeram, dando sua vida, seu amor, seu talento e trabalho, não merecem tal desventura. É hora de salvarmos e não permitirmos o que está acontecendo; cada um pensando em si, formando seu próprio movimento; outro formando sua própria igreja e outros já começando novos grupos.

Deus tem me dado uma dupla visão para a única saída.
Primeira, união de todos os líderes, em torno de um só objetivo: salvação, regeneração e santificação com Pentecoste.
Segunda, que é a mais importante: procurar jovens talentosos nas igrejas e ocupá-los no ministério, orientando-os e até aceitando certas falhas e erros que por ventura venham a cometer, corrigindo-os, ajudando-os e os orientando-os até que tenham experiência para levar um trabalho.

Depois de um certo tempo, confiar-lhes um trabalho e cobrar-lhes como se cobraria de um filho em fase de crescimento. Dentro de poucos anos, teríamos uma geração de novos pregadores e um novo avivamento.
Com a palavra os Pastores...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Acabaram-se os mancebos?

Estamos escrevendo a história da AD em Joinville, e pesquisando em periódicos da década de 80, deparo-me com um artigo de J. P. Muller, articulista do jornal O Assembleiano, no caderno Voz da Juventude na ed. jun/jul de 1987. Atualmente, Muller é pastor da Igreja da Família - MIRF. Resolvi digitar o artigo e publicá-lo aqui, pois apesar de ser escrito há 21 anos atrás, considerei-o atual em certo sentido.


"ACABARAM-SE OS MANCEBOS?"


por J. P. Muller


A pergunta milenar do grande juiz e profeta Samuel ao patriarca Jessé é bastante atual. O jovem hoje participa em quase todas as áreas da sociedade: no esporte, na política, na literatura, na música e na arte. Desde os tempos remotos a sociedade sempre se elevou ou se abateu usando como instrumento a força jovem. Estadistas conquistam impérios e abateram [sic] reinos; nações sobem as alturas, e em planetas fincam suas bandeiras, usando a aventura do mancebo.
Os maiores desafios da civilização foram a são confrontados pela juventude. É o jovem que dá seu sangue para defender sua Pátria. É o jovem que singra os mares em sua nau e corta os céus com seu supersônico. Há um período na vida em que o homem é todo força, explosão, técnica e habilidade. Há um espaço na sociedade que só pode ser preenchido por jovem. Com ele está a força.

A Bíblia fala

A bíblia é o livro que mais relata em suas páginas e ação, a luta, a conquista e as vitórias dos moços (e das moças), realizando o plano de Deus através dos séculos. É o livro que narra a coragem dos moços. Que exalta a bravura dos moços de fé.

A força jovem

João disse: “Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes...” A Assembléia de Deus ecoa hoje no Brasil como a maior força pentecostal – não nos esqueçamos – ela notabilizou-se no Pais através da força de uma geração jovem. Ela começou com dois jovens. Aqui aportaram e deslancharam esta obra no verdor de sua juventude. Em seguida vieram missionários – moços – ainda e ensinaram a palavra de Deus, a música, geografia e história bíblicas (...). Depois que pregaram o Evangelho, fundaram igrejas, separaram jovens pastores, e foram para frente. Esses jovens pastores, uma vez separados, imbuídos do mesmo afã, a mesma guerra, o mesmo poder, o mesmo entusiasmo, e o trabalho cresceu.

Acabaram-se!

Envolveram-se tanto com o trabalho de Deus, e com tanta esmero que não se deram conta que, a medida que o trabalho crescia, os anos diminuíam. E os mancebos acabaram-se!
A primeira geração passou, a segunda chegou ao fim e a terceira não apareceu. Não apareceu a terceira geração de filhos ministeriais. Embora exista, desapareceu da Igreja. Restam uns poucos apenas, ofuscando sua chamada ministerial e sua vocação para a Palavra, embarafustando-se em conjuntos vocais, bandas musicais, e corais e coisas desse gênero, e tendo nos “trabalhos especiais”, a forma única de amainar o anseio da alma, indo ao altar, oferecendo-se em sacrifício mediante o apelo do preletor, para com isto acalentar a sua mente, excitada pela convocação do Espírito Santo e pela chamada do Santo Ministério. O jovem então levanta-se dali e diz: Vou realizar a obra de Deus.
No dia seguinte, perduram o sabor e a esperança, uma semana, e mais outra... Dias após volta-se para dentro de si e vê que tudo continua igual. Não há plano, não há convite, não há alvo a alcançar. E, olhando para o fim do túnel, não vê sequer um raio um raio de luz, que irradia esperança, para que ele se sinta útil a Deus, a sua igreja e a ao seu pastor, cumprindo a tarefa que lhe foi confiada por Deus, orientado por seus superiores e estimulados pela auto-realização de uma carreira. Conclusão: resta apenas chorar o passado, esperando o amanha incerto.

Semana que vem continuamos, juntos vamos ler o grito de alerta dado por esse articulista no crepúsculo da década de 80.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

As pequenas rachaduras - Mc 11.12-21

Quem está acompanhando os textos que escrevo, ou textos de outros autores que compartilho aqui no Blog, percebe que estou tratando nos últimos tempos de Teologia Sistemática e Ética. Hoje vamos para a área prática devocional. Na verdade toda essa divisão que existe na teologia é para fins didáticos, pois na prática não se deve separar a prática da sistemática; a sistemática da bíblica e vice e versa.

Como introdução a essa reflexão bíblico-devocional, utilizarei um filme. Aprecio o cinema, e sempre que assisto a um longa, procuro fazer alguma associação com a fé cristã, com a vida[1]. Recentemente assisti Alfie, refilmagem de Como Conquistar as Mulheres, com o ator Jude Law, no papel do “mulherengo” Alfie, outrora interpretado por Michael Caine no filme de Lewis Gilbert, em 1966. Alfie é um homem independente, conquistador e que se afasta de qualquer mulher que queira compromisso. Sua filosofia de vida é: vinhos e mulheres: “se bem que mulheres e mulheres é uma boa combinação”. Segundo Alfie nos conta, certa feita, enquanto visitava um museu, vislumbrou-se com a estátua de uma deusa grega, ficou extasiado por ela: “forma feminina perfeita”. Porém, quando chegou mais perto, percebeu na lateral dessa escultura rachaduras, lascas, imperfeições. Isso é também, segundo Alfie, com os relacionamentos, quando se chega perto demais, a imperfeição aparece e o encanto se vai.

Não sei se notaram, mas coloquei uma passagem bíblica no título do texto. O ocorrido entre Jesus e a figueira sempre me chamou a atenção. Pensava: “tadinha da figueira, não era seu tempo de figo e mesmo assim Jesus a amaldiçoa”. Por quê? As figueiras eram fontes de alimentação barata nas terras da Palestina, e em todo o território era plantada para alimentar os viajantes. O primeiro sinal de que uma figueira tem frutos é o surgimento das folhas. Jesus ao avistar aquela árvore frondosa, pensou que nela encontraria o fruto que saciasse sua fome. Mas não, chegando perto da árvore, viu que era somente aparência... de perto, viu as rachaduras!
O autor de Marcos, sabiamente, encaixa esse evento antes da purificação do templo, pois o acontecimento com a figueira é uma forma de prelúdio. Como corrobora Brown:

“Amaldiçoar uma árvore porque não dá frutos parece irracional para muitos, pois, como lembra Marcos, o tempo que antecede a Páscoa não era a estação de figos. Contudo, a maldição assemelha-se às ações proféticas do AT, cuja peculiaridade atrai a atenção para a mensagem que está sendo simbolicamente representada [...] A árvore estéril simboliza as autoridades judaicas cujos pecados estão demonstrados na ação interveniente de purificação do templo, que se havia transformado em um covil de ladrões, em vez de uma casa de oração para todas as nações (Jr 7.11; Is 56.7)”.[2]

O templo visto de longe, aparentava atividades de adoração a Iavé, piedade e devoção religiosa. Ele tinha boa aparência, mas sucumbiu ao olhar de Jesus. Esse episódio é tão importante no ministério de Cristo, que não escapou da pena de nenhum dos evangelistas canônicos. O tema que une esses dois episódios é o do fruto: Jesus vai à árvore e não acha; vai ao templo, centro religioso do povo de Deus, e não encontra fruto que está procurando, o fruto que o templo deveria dar.[3]

A pergunta que fica no ar é: E se Jesus chegar mais perto mim, olhar mais de perto, o que encontrará? Rachaduras com certeza, mas, encontrará também um coração desesperado em esconder e maquiar essas imperfeições? Um ser que luta desesperadamente para manter uma imagem de piedade e devoção, uma boa aparência, mas que no fundo não passa de um sepulcro caiado?
De uma coisa tenho certeza, Jesus não espera encontrar em mim perfeição, mas, espera sim, encontrar um ser humano disposto a ser honesto, que não vende seu ser a uma imagem evangélica barata e nazista.

Talvez continue...
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[1] Confesso que em momentos de turbulência um bom filme me acalma. Acredito que o bom cinema, da vida e movimento a boas palavras. O contrário também é verdadeiro.
[2] BROWN, Raymond E. Introdução ao do Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2004. p. 225. [3] Os discípulos estavam preparados para a leitura de gesto simbólico de Jesus, porque a imagem da figueira para indicar o povo de Deus infrutífero era bastante conhecida na tradição bíblica. Cf. FABRIS, Rinaldo. In: BARBAGLIO, Giuseppe (et al). Os evangelhos (I). São Paulo: Loyola, 1990. p. 552.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O problema não resolvido do mal


A Teodicéia


por Claus Schwambach*


O problema do mal é discutido tanto na ética teológica quanto na ética filosófica, embora ambas nunca tenham abordado o assunto com extrema profundidade. Entre as principais contribuições, destaquem-se:


8.1.2.1. Agostinho: Muito difundida por longo tempo foi a concepção platônica-neoplatônica de Agostinho, que entende o mal como “privatio boni” – o mal não tem uma existência própria, apenas deficiência de ser. Esta concepção teve grande influência na Idade Média.


8.1.2.2. Leibniz (Teodicéia, 1710): ele diferencia entre três tipos de mal: malum metaphysicum (o mundo é dos melhores – já que o criador não quer e nem pode fazer o mal – , mas imperfeito e deficiente em relação ao criador); malum morale (seres livres dotados de razão podem optar pelo bem ou pelo mal, resultando neste tipo de mal moral); malum physicum (é muitas vezes entendido como conseqüência do mal moral – castigo).


8.1.2.3. Séc XX – Há duas concepções contemporâneas que não podem deixar de ser mencionadas, por estarem ligadas com experiências do mal típicas do séc. XX: a) Hannah Arendt: No contexto do nazismo, o mal foi banalizado e tornou-se em um máquina de destruição do sistema nacional-socialista alemão, cujo funcionamento aniquilou milhões. Ou seja: o mal é uma máquina de destruição! b) Paul Ricoeur: fala da epigênese do mal, referindo-se a frieza e ao calculismo da sociedade moderna ao praticar o mal. Epigênese é, dentro do processo evolutivo, um termo que descreve o surgimento de novas possibilidades ainda desconhecidas nas novas etapas do processo evolutivo.


8.1.2.4. A partir destes conceitos, poderíamos afirmar que existem três dimensões do mal:
a) O mal/os males – entendido como as sombras da existência (doenças, catástrofes naturais etc.) e não tendo um sentido moral;
b) A maldade – seria o mal no sentido moral (praticada contra Deus, o próximo, a si mesmo e a natureza);
c) O pecado – qualificação teológica da maldade, apontando para a perdição e o erro total da existência humana (cf. grego: amartia = errar o alvo).

Justamente no último aspecto mencionado (pecado) a tradição teológica se manifesta. Como o pecado e a sua confissão pelo pecador são acontecimentos espirituais, o conceito de pecado não pode ser exatamente identificado de forma imediata com os conceitos morais e éticos do mal. Por esta razão, a antropologia teológica sempre precisa manter uma distância crítica em relação à identificação do que é bom e o que é mal com decodificações concretas dos mesmos nas sociedades. Esta afirmação se baseia nas constatações bíblicas de que:


--> No AT não há nenhum conceito uniforme do que vem a ser o pecado, mas uma série de descrições que se manifesta em termos em si bastante polisêmicos (com vários significados):
- hataht – Falta contra Deus ou pessoas, erro de um alvo;
- avon – desviar-se conscientemente de um caminho;
- pescha’ – rebelião, queda
- rascha’ – a ruptura qualitativa do direito (em sentido legal);
- ra’ah – o mal de forma geral.


Todos estes termos mostram que o pecado se manifesta concretamente em todas as esferas da vida humana, seja na relação com Deus ou com as pessoas e a natureza. Segundo Gerhard von Rad, o pecado é, basicamente, no AT, uma “categoria social”.
à No NT, o pecado é descrito como uma realidade que afeta, principalmente, a relação da pessoa com Deus. O termo amartia mostra que o pecado é o auto-fechamento da pessoa em torno de si mesma, de maneira que venha a errar o alvo de sua vida. Rm 5 mostra que todos os seres humanos provém de uma realidade simbolizada por Adão. Tanto Adão quanto Cristo são, neste cap., o que a pesquisa tem definido como personalidades corporativas.
O pecado é, neste sentido, uma realidade transmoral, i. é, não representa apenas um delito ou falta moral, mas atinge a totalidade da pessoa. O pecado é um poder que toma conta da pessoa, fazendo com que ela negue a Deus e se volte para os ídolos, além de viver de forma deturpada com o próximo e com a natureza.

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* Possui graduação em Teologia pela Universitat Tuebingen (Eberhard-Karls) (1999) , graduação em Bacharelado Em Teologia Curso Livre pelo Centro de Ensino Teológico (1991) e doutorado em Teologia Evangélica pela Friedrich-Alexander-Universitat-Erlangen-Nurnberg (2001) . Atualmente é professor titular da Faculdade Luterana de Teologia. Tem experiência na área de Teologia , com ênfase em Teologia Sistemática. Atuando principalmente nos seguintes temas: Esperança, escatologia, justificação, libertação, Utopia-Escatologia, Teologia da libertação, Escatologia em Martim Luther, Escatologia em Leonardo Boff, Escatologia em João Batista Libânio e Morte, Juizo final, Ressurreição, Inferno, Parusia.Diretor da Faculdade Luterana de Teologia desde de agosto de 2003.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A origem do mal - rascunho de um pensamento, parte 2

Qualquer pesquisador honesto admite que chegar a uma “conclusão” sobre esse tema não é tarefa simples, mas ao entrar nessa senda, chegar a um destino é necessário. Contudo, vale ressaltar, que a chegada nesse destino não significa, de forma alguma, o ponto final, o fim da jornada.
Diante da realidade de Gn 1.31 que afirma que tudo que Deus criou é bom, como responder a pergunta: qual a origem do mal? A questão já era tratada na mitologia antiga, que falava do ciúmes que os deuses tinham da felicidade humana, por isso misturaram entre os humanos o fel, o ódio, o mal. O ser humano nesse caso seria vítima do mau humor dos deuses. Outra tentativa de explicar a origem do mal é a versão dualista, que coloca o mal como uma realidade ao lado do bem, dois mundos distintos, dois mundos eternos, dois mundos opostos. O mal como realidade autônoma é hostil ao mundo do bem, travando assim uma eterna luta entre o bem e o mal. O ser humano nesse caso seria vítima de um drama cósmico que vem até ele e lhe determina o destino.[1] Nos dois conceitos sobre a origem do mal, o ser humano não carrega culpa, é vítima!
A tradição judaica e cristã rejeitou em suas fileiras essa tradição dualista bem como a idéia monista (onde o mal procede de uma única fonte, Deus). Admitiam que Deus pode ser a fonte de desgraças (Am3.6; Jó 2.10), contudo, nunca o autor do mal originador, Deus não é responsável pelo pecado. A Bíblia fala de uma queda, cujo responsável é o próprio ser humano, isso é bem claro na teologia de Gênesis, não deixando dúvidas que a origem do pecado é antropológica. Nas palavras de Sponheim:
A natureza do pecado aponta para a origem do pecado em uma queda, uma realidade humana que rompe a bondade essencial da criatura. Como objeto da especial dotação criadora de Deus, a criatura é boa; como alguém chamado em liberdade finita para a especial intenção de Deus, a criatura ainda não é perfeita, mas é capaz de ser tentada e capaz de pecar; e no mistério da liberdade, a criatura origina o pecado.[2]


A origem do pecado está na humanidade, está em Adão (Rm 5.12). Adão e Eva são personagens coletivos, representam a humanidade em geral.Paulo diz: em Adão todos pecaram (1Co 15.22). Adão é personalidade corporativa! Não há como atribuir culpa somente a um ancestral, utilizando-o como “bode expiatório”. A queda repete-se em cada pessoa, pois todos pecam. Ninguém está em condições de começar da estaca zero, pois a humanidade traz consigo a marca do pecado.[3]
Questões permanecem em aberto, mas por hora podemos concluir que a dádiva da liberdade que nos foi concedida na criação, trouxe consigo a possibilidade efetiva do pecado, consequentemente a queda. C. S. Lewis diz:
Julgada por seus artefatos, ou mesmo por sua linguagem, essa criatura abençoada era sem dúvida, um selvagem. Ele ainda tinha que aprender tudo o que a experiência e a prática podem ensinar. Não sabemos quantas dessas criaturas Deus fez, nem por quanto tempo continuaram no estado paradisíaco. Mais cedo ou mais tarde, porém, elas caíram.[4]


O que fica claro, é que a criatura boa de Deus, um dia caiu, e essa queda desencadeou o mal, desde então vivemos sob a insígnia do pecado. De fato não existe uma explicação racional, apesar dos esforços, para o início do pecado, bem como a atualidade do pecado, “a brutalidade do ser humano, seu egoísmo e sua safadeza desafiam a ciência”.[5]

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[1] BRAKEMEIER, G. O ser humano em busca de indentidade: contribuições para uma antropologia teológica. São Leopoldo: Sinodal: São Paulo: Paulus, 2002. p. 56.
[2] SPONHEIM, Paul R. in: BRAATEN, C. E. Dogmática cristã. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2002. p. 382.
[3] BRAKEMEIER, G. O ser humano em busca de indentidade: contribuições para uma antropologia teológica. São Leopoldo: Sinodal: São Paulo: Paulus, 2002. p. 58.
[4] LEWIS, C. S. The problem of pain. In: SPONHEIM, Paul R. in: BRAATEN, C. E. Dogmática cristã. 2. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2002. p. 393.
[5] BRAKEMEIER, G. O ser humano em busca de indentidade: contribuições para uma antropologia teológica. São Leopoldo: Sinodal: São Paulo: Paulus, 2002. p. 60.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Rascunho de um pensamento...


Depois de assistir os filmes: Batman - O Cavaleiro das Trevas, Onde os Fracos Não Tem Vez e ler os artigos de Arnaldo Jabor e Ricardo Gondim, que comentam os filmes respectivamente, me flagrei pensando novamente na questão do mal. O assunto que permeia tanto os filmes como os artigos é questão do mal como característica inerente ao ser humano e o esforço de alguns em tentar refreá-lo.
O novo filme do Batman[3], nos apresenta um sujeito que diz: “eu sou um agente do caos”. Nas palavras de Arnaldo Jabor:

O Coringa Heath nos apavora e nos atrai, e não conseguimos odiá-lo completamente porque ele é extremamente contemporâneo. É como se ele dissesse: “Nenhum saber, nem ética, nada vai apagar o animal feroz que nos habita. Eu sou uma vanguarda”. Ele diz no filme para um perplexo Batman: “Eu não quero te matar; você me completa”. E completa: “Não sou um monstro; estou além da curva...”. Heath Ledger é apavorante porque não tem motivo claro para agir. Sua única regra é mostrar o absurdo de querer impor ordem no caos. Ele encarna os impulsos destrutivos humanos inexplicáveis. Como Hannibal.[4]

E no ganhador do Oscar de 2008, Onde os Fracos Não Tem Vez (No country for old men), acompanhamos o matador Anton Chigurh, interpretado pelo espanhol Javier Bardem, vencer o cansaço e o desânimo de um xerife velho, que não consegue entender e refrear o mal ao seu redor, um velho que parece não achar um lugar seguro para viver. Nesse filme o mal vence no final, não existem super-heróis, como diz o comentarista de cinema Marcelo Hessel: “Onde os Fracos não Têm Vez é a desconstrução niilista do herói mítico porque hoje a civilização perdeu, os heróis perderam, o ambiente venceu.” Parece inadmissível essa afirmação de Hessel, mas é a pura verdade, o ambiente venceu. Somos frutos do meio, já nascemos coagidos para nos tornarmos o que somos. Será? Não sei...

Tudo isso gera a reflexão: qual a origem do mal? Todos nós somos mal por natureza? Temos o potencial de sermos Coringas, Chigurh`s? Como alguns tornam-se pessoas como Gandhi outras como Hitler? Não sei...

Continua....
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[3] Que é mais que do que um filme de super-héroi, é realmente uma reflexão sobre a sociedade atual.
[4] Hannibal aparentemente tinha um motivo, ainda que não justifique-o, para cometer as barbáries que cometeu. O motivo é narrado em Hannibal: a origem do mal. Já o Coringa, realmente, não tinha planos e motivos, seu objetivo era mostrar a maldade que habita em nós.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Eu sou um crente "frio"

Querido leitor, confesso que este texto não trará nada de novo a você, mas preciso desabafar. Estou triste com uma colocação a meu respeito que ouvi esse final de semana. Conversando com uma amiga, ela me disse, que alguém disse pra ela (isso mesmo, a pessoa não falou diretamente pra mim) mais ou menos assim: “O Rodrigo é um crente frio, sei lá, ele é muito crítico, parece que tem medo de se entregar e expressar algum sentimento, não quero julgá-lo né, pois não sei como é a vida dele com Deus no íntimo...”

Eu cometi o erro de tentar me defender expondo um pouco de minhas obras e práticas devocionais no afã de mostrar que não sou um crente frio. Mas do que adiantaria esse meu esforço fútil, se eu não estava falando direto com o meu acusador ou acusadora? E mesmo que eu estivesse, faria alguma diferença? Creio que não! Essa situação me levou a pensar em minha espiritualidade e no meio eclesiástico em que estou inserido.

--> “o Rodrigo é um crente frio” – quais são os parâmetros utilizados para designar alguém de frio ou quente? Em algumas denominações não é sua conduta ética ou comprometimento com a obra que conta, mas o que você fala e a altura que fala. Nos cultos, não costumo dar “Glórias a Deus, Aleluias” em tom de voz elevado, línguas estranhas muito menos (1Co 14.19). Apesar de ser uma pessoa extrovertida e comunicativa não tenho por hábito “berrar” ou “glorificar alto” quando ouço uma proposição do púlpito ou ouço algum hino que me edifiquem. Por falar em hinos, não gosto desses hinos triunfalistas que ensinam teologia da prosperidade e iludem os fieis de que eles são as vítimas, e tudo de errado que acontece na vida deles é culpa do diabo. Prefiro canções, que exalta a Deus simplesmente por ele ser salvador e sustentador. Mas nem sempre ouço esses hinos onde congrego, quando são cantados, me alegro, e, externamente esboço um sorriso. Esse é o meu jeito, é dessa forma que vivo meu relacionamento com o sagrado. E assim como respeito aqueles que berram e se sacodem, quero ser respeitado.

--> “ele é muito crítico” – com certeza sou, e a bíblia assim me ensina (os Profetas, Jesus, Paulo, os crentes de Bereia, etc.). Não sou um ouvinte passivo, que abre a cabeça e permite que “qualquer coisa” entre e seja tido como verdade indiscutível. Até mesmo quando prego ou leciono, procuro desenvolver essa dinâmica: “Irmãos, sejamos como os crentes de Bereia, que analisavam cada palavra que Paulo falava, e se Paulo corria o risco de errar, imaginem eu”.
Sou um analista do meio em que vivo, e quando detecto algo que julgo não ser adequado, exponho minha opinião e gosto de conversar a respeito, pois posso aprender uma verdade bíblica antes obscura para mim ou ensinar a correta interpretação de um texto bíblico. Gosto de dialogar! Discutir idéias e conceitos! Pensar!
Desprezo discursos enlatados e fórmulas prontas que são utilizados para domínio das massas. Não gosto de hinos em ritmos caipiras que só sabem falar de Deus como uma espécie de “escravo”, que atende cada uma de minhas vaidades e luxúrias, dessa forma fica difícil me “entregar” e “expressar algum sentimento” nesse contexto.

--> “não quero julgá-lo né, pois não sei como é a vida dele com Deus no íntimo” – é normal sermos julgados e julgar, somos constantes réus e juizes nos tribunais da vida. Por isso não culpo essa pessoa, afinal, em muitos contextos pentecostais a espiritualidade é medida por decibéis, onde aquele que fala mais alto é o mais espiritual e quente.

Eu não irei mudar minha espiritualidade para fazer parte dos “quentes” ou para ascender ministerialmente, não venderei a minha alma à hipocrisia.
Pode parecer que não estou feliz com a minha congregação, mas não é verdade, tem virtudes e defeitos como qualquer comunidade cristã, então não tem porque mudar. Lá encontro pessoas tementes a Deus, comprometidas com a sua obra. Pessoas que como eu, querem firmar raízes e ser relevante no reino de Deus. Sempre será assim, uns ficam na arquibancada olhando o jogo acontecer apontando o dedo, outros estão no campo fazendo algo, sujeitando-se a críticas e ofensas, elogios e incentivos, errando e aprendendo. Eu estou no campo!


Fico feliz em saber que Deus é meu juiz, Cristo meu advogado e o ES meu consolador.
Quem sabe essa pessoa esteja mesmo certa e eu seja de fato um crente frio. Pois preciso orar mais, ler mais a Bíblia e não somente livros que falem dela, amar aqueles irmãos que não me dão nada em troca, ter mais momentos de solitude, enfim, ser mais cristão!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Porneia na compreensão de Paulo - parte 2

Paulo é hostil a porneia porque em seu entendimento é a distorção do relacionemnto sexual, como, sodomia, fornicação, prostituição, adultério, incesto, etc. Isso não quer dizer que seja contra a relação sexual, pelo contrário, é a relação sexual entre marido e mulher, que pode banir a porneia (1Co 7.1-7). Paulo é contra o abuso do sexo, a imoralidade sexual. A inconstância na moral sexual dos coríntios é contextada pelo apóstolo, pois este, se manteve firme aos princípios de sua educação judaica, que afirmava que o “desejo” pode rapidamente corromper-se em concupiscência. Isso é uma avaliação realista do instinto sexual, uma força para criar vida e amalgamar relações (1Co 7.3-5), mas também uma força capaz de corromper e destruir.[1]

Alguns dentre os coríntios, devido a influência helênica, justificavam a prostituição como alívio e prazer sexual, onde, alimentar-se e relacionar-se sexualmente não havia diferença, visto que ambas as atitudes são para satisfação de necessidades básicas (1Co 6.12-14). Para Paulo, tal conduta é inaceitável para os cristãos, pois tal complacência rapidamente escravisa (6.12) e não é compatível com a vida como membro de Cristo, pois não há como ser membro de Cristo e de prostituta simultaneamente.

2 UM OLHAR PARA ATUALIDADE

2.1 Os meios de comunicação de massa

A porneia segundo a compreensão de Paulo, também está presente nos dias de hoje e propagada pelos meios de comunicação em massa, pode-se dizer que vivemos num mundo pornificado.[2] Carlos Tadeu, vulgo “Catito” relata em seu livro: [3]

Sentei-me outro dia diante da televisão para assistir ao noticiário. Surpreendi-me ao ver que uma significativa parte do programa foi gasta na discussão da iniciativa de uma líder do MST (Movimento dos Sem-Terra) de pousar nua para fotos da revista Playboy! Fiquei pensando no sentido que tinha aquela discussão – seria uma estratégia de marketing da revista, promoção do MST, autopromoção da moça? Em suma: gastar quase 5 minutos de horário nobre para uma notícia tão insólita como esta deveria ter algum sentido. Mas não tinha! Quantas notícias veiculadas em horário nobre têm caráter sexual e um fundamento absurdamente insólito.

Os meios de comunicação têm sido utilizados para transpor barreiras, inclusive a da privacidade, isso gera patologias, em especial, na esfera da sexualidade, com a proliferação de sites pornográficos[4] veiculando e estimulando bestialidades e promiscuidades sexuais.[5] Diante dos meios de comunicação de massa, não pode-se tomar uma postura ingênua, pois esses, aos poucos, vão moldando os conceitos sobre sexualidade, tanto de adultos quanto de crianças. As cenas de nudez[6] nos comerciais, filmes (até mesmo na “sessão da tarde”), telenovelas, talk-shows [7] e inúmeras cenas de relações sexuais, insinuações de incesto e violência sexual perpassam a “telinha” dos lares, gerando com certeza, nos jovens e crianças, a idéia de que o sexo é algo banal, vulgar e “utilizável” só para o proveito pessoal. Com toda certeza, os meio de comunicação são “lavadores de mentes” no que diz respeito a sexualidade em nossos dias.[8] Pode-se dizer que a porneia penetra nas diversas camadas sociais através dos meios de comunicação de massa, transformando o sexo numa prática extremamente egocêntrica e utilitarista, e não mais uma expressão de carinho e compromisso.[9] O psicólogo Ageu Lisboa emprega um termo interessante para se referir a influência da mídia sobre as pessoas: Mid-idiotização! Ele afirma que:

Em novelas e romances vendidos nas bancas, nos programas de televisão para o público adolescente ou mesmo para o grande público, há um claro incentivo a qualquer forma de expressão da sexualidade. [...] É a cisão sem sofrimento nem culpa entre sexo e afeto. Atitude utilitária. [...] Um fato que choca a consciência e os valores de uma civilização podem ser trabalhados num estúdio de Hollywood [...] o resultado é um belo filme com uma trilha musical bem produzida, atores e atrizes irresistivelmente charmosos e um roteiro sentimentalmente envolvente, que pode criar uma adesão emocional ao que era primariamente repugnante. Mais dois filmes e depoimento de gente rica e famosa que viveu algo assim, como nos filmes e pronto! A resistência das consciências no plano coletivo vai diminuindo. Assim todos os interditos e limites vão sendo glamourizados e suprimidos. [10]

O que Lisboa esboça nas palavras acima é uma verdade lamentável, ainda que ele não diga nenhuma novidade, ao lermos suas palavras atentamos para essa realidade muitas vezes esquecida, ou melhor, ignorada, afinal já estamos tão acostumados, quem sabe até mid-idiotizdos!


2.2 As conseqüências da porneia

Rompendo sua relação com a pessoa (soma-corpo), o sexo torna-se insensivelmente uma mercadoria de consumo (porneia-imoralidade sexual). Essa instrumentalização percebe-se no fenômeno do erotismo e da pornografia, tal como ele é vivido atualmente em muitos meios.

Nessas condições, é natural que o sexo já não seja mais vivido como um compromisso da pessoa e sim como uma forma de entretenimento e diversão, como se tratasse de uma brincadeira infantil. Alguns sociólogos contestaram o fato de que, em uma sociedade tão sexualizada, a prostituição tenha diminuído, contrariamente ao que seria de se esperar. No entanto, é simples a explicação do fenômeno: o papel antes representado pela prostituta é agora desempenhado pela companheira. A facilidade e a frequência das relações sexuais variadas diminui a necessidade do prostíbulo.[11]

A conseqüência desse liberalismo sexual é um profundo sentimento de vazio e decepção. É relacionamento sexual reduzido ao genital e ao egoísmo, constituindo-se na instrumentalização do parceiro, ou seja, o que foi criado para ser fonte de prazer e satisfação mútua passa a ser fonte de desespero e mediocridade. O outro se torna um objeto para que eu satisfaça meus desejos egoístas, que na maioria das vezes está mascarado com a frase: Eu te amo!




2.3 Um olhar de Paulo para atualidade.

Para o apóstolo, a sexualidade compromete a fundo a pessoa. A orientação do apóstolo aos coríntios é oportuna para a atualidade. Ainda que a porneia tenha ganhado novas expressões conceituais, com o advento dos meios de comunicação em massa, o ser humano não mudou, continua tendo a mesma estrutura constitutiva, é soma, e nessa condição, ainda hoje, pode-se tornar escravo da porneia.
É necessário ressaltar, que não se trata de antipatia a toda atividade sexual como tal. Pelo contrário, Paulo expõe sua apreciação realista à força do desejo sexual em 1Co 7.9 – “... é melhor casar-se do que ficar abrasado” (BJ). Inclusive, suas afirmações das mútuas responsabilidades conjugais (7.3-4) eram progressivas para a época. “Não menos digno de nota é o fato de que em 7.5 é a abstinência sexual forçada que dá a Satanás oportunidade de tentação, e não as delícias do leito conjugal.”[12] Ao ver toda essa revolução sexual da atualidade, o apelo de Paulo não seria diferente: “Fugi da porneia”; “Glorificai pois a Deus com vosso corpo” e quem sabe acrescentaria: “Casamento é o único contexto apropriado para a atividade sexual plena e feliz”.


2.4 O que aprendemos com tudo isso

Aprendemos que relação sexual desprovida de amor e promovida pelo egoísmo é porneia, e nessa condição, é pecado. Relação sexual é tornar-se uma só pessoa com o parceiro. Por isso essa ligação íntima somente pode ser concretizada quando pessoas realmente desejam tornar-se “uma só pessoa”, e o tornar-se uma só pessoa na Bíblia sempre acontece em contexto de responsabilidade, quando o homem assume a responsabilidade de cuidar da mulher, de constituir com ela uma família, quando o intercurso sexual acontece fora desse contexto é desaprovado, é imoral.
Em nossos dias é no casamento que existe esse compromisso de união. Por isso nós cristão nos abstemos da relação sexual durante o namoro e o noivado, pois essas primeiras fazes são para conhecermos o outro, sua família e tomarmos a decisão de firmar ou não o compromisso. Tomada a decisão começam os preparativos para o casamento, onde ambos assumem responsabilidades e podem desfrutar das bênçãos da vida sexual. Nesse contexto estão honrando seus corpos enquanto templo do Espírito Santo.
____________
[1] DUNN, James. A teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p.776.
[2] O material pornográfico movimenta nos EUA, segundo a revista Veja, 7 bilhões de dólares ao ano. No Brasil, ainda não se divulgou nada a respeito. Revista Veja apud. Intrigantes, Ultimato, Viçosa, n. 308, p. 18, set/out, 2007. Análise interessante sobre a pornificação da sociedade encontra-se na obra de PAUL, Pamela. Pornificados: como a pornografia está transformando a nossa vida, os nossos relacionamentos e as nossas famílias. São Paulo: Cultrix, 2006. Ainda que o contexto da autora seja norte americano, os efeitos da pornografia não diferem muito entre norte-americanos e tupiniquins.
[3] GRZYBOWSKI, Carlos Tadeu. Macho e fêmea os criou: celebrando a sexualidade. Viçosa: Ultimato, 1998. p. 27-28.
[4] “Hoje é praticamente impossível discutir pornografia compulsiva sem falar da Internet, não raro etiquetada como o crack ou cacaína da obscenidade”. PAUL, Pamela. Pornificados: como a pornografia está transformando a nossa vida, os nossos relacionamentos e as nossas famílias. São Paulo: Cultrix, 2006. p. 204. Um estudo realizado pelo Senado norte-americano mostrou que a pornografia na Internet pode ser mais viciante do que o crack ou a cocaína. Disponível em Acesso em: 03 maio 2007.
[5] LISBOA, Ageu H. Sexo: desnudamento e mistério. Viçosa: Ultimato, 2001. p. 14.
[6] “Nunca as mulheres foram tão nuas no Brasil; já expuseram o corpo todo, mucosas, vagina, ânus. O que falta? Órgãos internos? Que querem essas mulheres? Querem acabar com nossos lares? Querem nos humilhar com sua beleza inconquistável? [...]” JABOR, Arnaldo. Os homens desejam mulheres que não existem. Disponível em: Acesso em: 03 maio 2007.
[7] Aqueles programas de auditório, que geralmente passam domingo a tarde.
[8] GRZYBOWSKI, Carlos Tadeu. Macho e fêmea os criou: celebrando a sexualidade. Viçosa: Ultimato, 1998. p. 29. Até mesmo nos games, como Máfia, têm-se apelos pornográficos através da prostituição e sensualidade. Nessa direção, o psicólogo Ageu Lisboa, dedica todo um capítulo de seu livro. LISBOA, Ageu H. Sexo: desnudamento e mistério. Viçosa: Ultimato, 2001. p. 41-47.
[9] GRZYBOWSKI, Carlos Tadeu. Macho e fêmea os criou: celebrando a sexualidade. Viçosa: Ultimato, 1998. p. 119.
[10] LISBOA, Ageu H. Sexo: desnudamento e mistério. Viçosa: Ultimato, 2001. p. 57;59.
[11] AZPITARTE, E. López. in: ORDUÑA, R. Rincón. Práxis Cristã II: opção pela vida e pelo amor. São Paulo: Paulinas, 1983. p. 257.
[12] DUNN, James. A teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 160.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A MORTE DO CORINGA



Vamos dar uma pausa no assunto Porneia em 1Co 6.12-20 para falar de um projeto evangelístico que começa amanhã nas salas de cinema aqui de Joinville.
Conseguimos apoio e foram impressos 5.000 panfletos sobre a Morte do Coringa, onde faço uma reflexão sobre a morte do ator Heath Ledger, o Coringa em O Cavaleiro das Trevas.


Contamos com vossas orações


o texto encontra-se ao lado... --> -->

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Porneia na compreensão de Paulo


Imoralidade Sexual: a compreensão de Paulo a luz de 1Co 6.12-20


1Co 6.12-20 (tradução própria a partir do texto grego)

v. 12
· Todas as coisas para mim são lícitas, mas nem todas as coisas são proveitosas. Todas as coisas para mim são lícitas mas eu não serei escravizado por coisa nenhuma.
v. 13
· Os alimentos são para o estômago e o estômago para os alimentos, mas Deus tanto este quanto aqueles destruirá. Mas o corpo não é para a imoralidade sexual mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo;
v. 14
· e Deus tanto ressuscitou o Senhor quanto nos ressuscitará pelo seu poder.
v. 15
· Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomando pois os membros de Cristo farei membros de prostituta? De modo nenhum!
v.16
· [Ou] não sabeis que aquele que se une a prostituta um só corpo é? Pois serão, dizem, os dois uma só carne.
v.17
· Mas aquele que é unido ao Senhor um só espírito é.
v.18
· Fugi da imoralidade sexual. Todo (outro) pecado que uma pessoa fizer é exterior ao seu corpo; mas o que pratica imoralidade sexual peca contra o próprio corpo.
v.19
· Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo o qual tendes de Deus, e não sois de vós mesmos?
v.20
· Pois fostes resgatados por preço; glorificai pois a Deus com vosso corpo.

Nesse texto a palavra concatenante é com certeza o conceito de corpo, gr. soma, seguido do termo porneia. O termo soma/derivados, aparece oito vezes no texto e porneia/derivados cinco vezes. Para o apóstolo Paulo soma não significa somente o corpo enquanto matéria, um aglomerado de células, mas a pessoa como um todo. Veremos isso mais adiante. Na relação sexual o ser humano empenha seu ser pessoal, não podendo igualar isso ao alimentar-se.
Observando atentamente ao texto, tem-se a seguinte disposição:

Ø v. 13 Paulo é enfático: o soma não é para a porneia, mas para o Senhor.
Ø vv. 15-17 o soma é membro de Cristo, por isso não pode ser membro de prostituta.
Ø v. 18 a ordem é somente uma: Fugi da porneia, pois ela afeta diretamente o soma.
Ø vv 19-20 o soma é templo do Espírito Santo, logo, deve-se glorificar a Deus no soma.
Ao olharmos os títulos que algumas traduções da Bíblia para a língua portuguesa dão a esse texto, podemos notar bem o esquema acima apresentado. Por exemplo:

Bíblia de Jerusalém (BJ) Ø Fornicação
Nova Tradução na linguagem de Hoje (NTLH) Ø Uso do corpo para a glória de Deus
Almeida Revista e Atualizada (ARA) Ø A sensualidade é condenada
Nova Versão Internacional (NVI) Ø O perigo da Imoralidade

Como já percebemos, Paulo emprega muito o termo porneia e o termo soma (corpo) nessa passagem bíblica, mas, o que realmente esses termos significam? Vamos explorá-los agora!


O que significa o termo porneia?

A preocupação do apóstolo Paulo em relação ao perigo emergente da porneia na vida dos seus convertidos, atesta-se no fato de que, das sete listas de vícios em Paulo, a imoralidade sexual aparece em cinco, figurando o primeiro lugar (1Co 5.10; Gl 5.19-21; etc.).[1] O termo porneia e seus cognatos, abarcam muitos conceitos no âmbito da sexualidade, porneia pode ser impureza,[2] imoralidade sexual, qualquer tipo de relação sexual ilícita, é também sinônimo de adultério. Segundo um pesquisador, porneia estigmatiza a decadência sexual do mundo helenístico.[3] Outro afirma que porneia cobre em seu campo semântico “toda faixa de relações sexuais ilegais”.[4] Muitas vezes o termo em análise é traduzido por prostituição, sendo que porneia é mais do que o tráfico comercial do sexo, é todo e qualquer desvio sexual, desde fornicação a adultério . [5] Paulo mostra que a porneia não tem parte no reino de Deus, que o cristão é o templo do Espírito Santo e seus membros não podem ser entregues à imoralidade sexual, pois pertencem a Cristo (1Co 6. 15-16). [6]
Na cidade de Corinto, a vida sexual, com seu mistério da concepção e o seu êxtase arrebatador, era entendida como algo “religioso”, ou seja, a prostituição cúltica era prática comum entre os gregos, sendo que ninguém era censurado por visitar as sacerdotisas da deusa do amor, Afrodite. [7] Na cultura grega, a relação sexual era tão natural, salutar e justificável para o homem como comer e beber, isto é, “matar a fome e relacionar-se sexualmente era a satisfação de uma necessidade básica”. O adultério era permitido, sendo as escravas vulneráveis aos desejos sexuais dos seus senhores. Essas regras, que eram censuradas somente em casos de exagero, eram válidas somente para os homens.[8] Diante disso não surpreende o porque da porneia ter sido o primeiro caso ético com o qual Paulo se ocupa em Corinto (5.1-5)
A partir de 1Co 6.12-20 vamos perceber que “1 Coríntios tratou com uma igreja na qual as fronteiras não eram tão claras, na qual as questões éticas surgiram precisamente porque os crentes compartilhavam muitos dos valores morais da sociedade circundante...”.[9] Paulo é objetivo ao exemplificar que, ao freqüentar o templo de Afrodite, os crentes transformam os “membros de Cristo” em “membros de uma meretriz”, visto que, a relação sexual não pode ser comparada ao alimenta-se, pois é a união física de duas pessoas.


O que significa o termo soma?

O corpo é um termo central na antropologia de Paulo. A dificuldade na compreensão desse termo grego é que não existe um correspondente hebraico direto. No AT, o termo que possui envergadura teológica e no qual se embasa o pensamento paulino é o termo basar (carne).[10] No pensamento hebraico, que não é dualista, como o pensamento grego, enxerga-se a realidade como totalidade, onde “basar significa toda substância (realidade) vivente dos homens e dos animais organizada numa forma corporal”; “A idéia hebraica de personalidade [...] é a de um corpo animado, e não a de uma alma encarnada [...]. O ser humano não tem um corpo, ele é um corpo. Ele é carne-animada-por-uma-alma, sendo concebida a totalidade como uma unidade psico-física.” [11]
Com base nisso, pode-se então afirmar que para Paulo, soma tem um sentido de pessoa[12], onde a existência humana, mesmo na esfera do “espírito”, é uma existência corporal, somática. Logo, soma não é meramente um meio de expressão, mas a pessoa total.[13] Bultmann, um estudioso do Novo Testamento, afirma que o ser humano não tem um soma, ele é um soma.[14] James Dunn, outro respeitado teólogo, acredita que o conceito de corpo em Paulo é maior do que o de corpo físico, por isso sugere soma como corporificação de toda pessoa.

“Nesse sentido soma é conceito relacional. Denota a pessoa corporificada em determinado ambiente. É o meio para viver no ambiente, para experimentá-lo [...] soma como corporificação significa mais que mero corpo: é o ‘eu’ corporificado, o meio com o qual ‘eu’ e o mundo agimos um sobre o outro.”[15]

Segundo Dunn, o que chama atenção é distinção que Paulo faz entre o corpo atual e o corpo da ressurreição, onde na redenção não se tem uma fuga da experiência corporal, mas a transformação numa espécie diferente de existência corporal, não mais sujeita a corrupção e a morte.[16] A vida humana não acontece sem o corpo, tanto aqui quanto na eternidade. “Aliás, somente a partir da ressurreição do soma, torna-se compreensível, não só a reivindicação exclusiva do Senhor sobre o homem todo, como também a incompatibilidade de ser membro de Cristo e se unir à meretriz”.[17]

- excurso sobre a relação entre porneia e soma
É a essência e o significado do soma que tornam a pureza sexual necessária.[18] A porneia sempre é um pecado concernente ao soma.[19] O corpo é desonrado sobremaneira pelos pecados sexuais (Rm 1.24).[20] Em 1Co 6.12-20, onde Paulo utiliza soma oito vezes, fica claro que “eles mesmos – 6-14 (nós)” somos de Cristo, por isso condena a união com a prostituição, pois atos corporais indicavam a qualidade e o caráter de compromisso e discipulado. O soma é a “esfera concreta da existência, através da qual se leva a efeito o relacionamento do homem com Deus”[21] e “para Paulo não restam dúvidas: no soma e através dele Deus é honrado ou desonrado.”[22]


continua...
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[1] G. FITZER, pornei,a in: Exegetisches Wörterbuch zum Neuem Testament. Stuttgart/Berlim: Kohlhammem. Band 3., c.330.
[2] Ainda que impureza no grego seja akatharsia, impureza tipicamente denota imoralidade sexual. Cf. DUNN, James. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 159.
[3] BORN, Van den. Dicionário Enciclopédico da Bíblia. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1985 c. 724.
[4] DUNN, James. A teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 159.
[5] G. FITZER, pornei,a in: Exegetisches Wörterbuch zum Neuem Testament. Stuttgart/Berlim: Kohlhammem. Band 3., c.330.
[6] SCHULZ, S. HAUCK, F. pornei,a in: KITTEL, Gerhard, FRIEDRICH, Gerhard. Theological Dictionary of the New Testament. Abridged Edition. Grand Rapids, Michigan: William B. Eerdmans, 1985.
[7] BOOR, Werner de. Carta aos Conríntios: comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 114.
[8] DUNN, James. op. cit., p.776. n.80.
[9] Ibid., p. 775.
[10] PUENTES REYES, Pedro A. O corpo como parâmetro antropológico na bioética. Tese de Doutorado. EST-INPG, Disponível em: Acesso em: 03 maio 2007. p. 72. Puentes ressalta que “a totalidade humana como materialidade, pó, corpo, não é em si fonte do pecado e do mal. [...] Em Paulo os aspectos negativos da existência humana se devem à sarx, a carne, e não ao soma, o corpo.” Ibid., p. 101.
[11] John A. T. Robinson. Loc. cit.
[12] Nunca de cadáver. Cf. DUNN, James. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 86.
[13] WIBBING, S. corpo in:COENEN, L. BROWN, C. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 521.
[14] BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Teológica, 2004. p. 248.
[15] DUNN, James. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 87.
[16] DUNN, James. op. cit., p. 92. Nesse sentido, entende-se o labor de Paulo em 1Co 15 afirmando a ressurreição do corpo. “A vida humana é inconcebível sem o corpo.” Cf. WIBBING, S. corpo in:COENEN, L. BROWN, C. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 522.
[17] WIESE, Werner. A importância da corporalidade na escatologia paulina: uma análise de textos paradigmáticos das cartas autênticas de Paulo. Dissertação de Mestrado. Sem. Teo. Batista do Norte do Brasil. Recife, PE. 1996. (Não publicado). p. 133.
[18] BOOR, Werner de. Carta aos Conríntios: comentário Esperança. Curitiba: Esperança, 2004. p. 114-115.
[19] BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Teológica, 2004. p.250-251.
[20] McKENZIE, John L. Dicionário bíblico. São Paulo: Paulus, 1983. p. 191.
[21] WIBBING, S. corpo in:COENEN, L. BROWN, C. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2000. p. 522.
[22] WIESE, Werner. A importância da corporalidade na escatologia paulina: uma análise de textos paradigmáticos das cartas autênticas de Paulo. Dissertação de Mestrado. Sem. Teo. Batista do Norte do Brasil. Recife, PE. 1996. (Não publicado). p. 134.

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