segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O problema não resolvido do mal


A Teodicéia


por Claus Schwambach*


O problema do mal é discutido tanto na ética teológica quanto na ética filosófica, embora ambas nunca tenham abordado o assunto com extrema profundidade. Entre as principais contribuições, destaquem-se:


8.1.2.1. Agostinho: Muito difundida por longo tempo foi a concepção platônica-neoplatônica de Agostinho, que entende o mal como “privatio boni” – o mal não tem uma existência própria, apenas deficiência de ser. Esta concepção teve grande influência na Idade Média.


8.1.2.2. Leibniz (Teodicéia, 1710): ele diferencia entre três tipos de mal: malum metaphysicum (o mundo é dos melhores – já que o criador não quer e nem pode fazer o mal – , mas imperfeito e deficiente em relação ao criador); malum morale (seres livres dotados de razão podem optar pelo bem ou pelo mal, resultando neste tipo de mal moral); malum physicum (é muitas vezes entendido como conseqüência do mal moral – castigo).


8.1.2.3. Séc XX – Há duas concepções contemporâneas que não podem deixar de ser mencionadas, por estarem ligadas com experiências do mal típicas do séc. XX: a) Hannah Arendt: No contexto do nazismo, o mal foi banalizado e tornou-se em um máquina de destruição do sistema nacional-socialista alemão, cujo funcionamento aniquilou milhões. Ou seja: o mal é uma máquina de destruição! b) Paul Ricoeur: fala da epigênese do mal, referindo-se a frieza e ao calculismo da sociedade moderna ao praticar o mal. Epigênese é, dentro do processo evolutivo, um termo que descreve o surgimento de novas possibilidades ainda desconhecidas nas novas etapas do processo evolutivo.


8.1.2.4. A partir destes conceitos, poderíamos afirmar que existem três dimensões do mal:
a) O mal/os males – entendido como as sombras da existência (doenças, catástrofes naturais etc.) e não tendo um sentido moral;
b) A maldade – seria o mal no sentido moral (praticada contra Deus, o próximo, a si mesmo e a natureza);
c) O pecado – qualificação teológica da maldade, apontando para a perdição e o erro total da existência humana (cf. grego: amartia = errar o alvo).

Justamente no último aspecto mencionado (pecado) a tradição teológica se manifesta. Como o pecado e a sua confissão pelo pecador são acontecimentos espirituais, o conceito de pecado não pode ser exatamente identificado de forma imediata com os conceitos morais e éticos do mal. Por esta razão, a antropologia teológica sempre precisa manter uma distância crítica em relação à identificação do que é bom e o que é mal com decodificações concretas dos mesmos nas sociedades. Esta afirmação se baseia nas constatações bíblicas de que:


--> No AT não há nenhum conceito uniforme do que vem a ser o pecado, mas uma série de descrições que se manifesta em termos em si bastante polisêmicos (com vários significados):
- hataht – Falta contra Deus ou pessoas, erro de um alvo;
- avon – desviar-se conscientemente de um caminho;
- pescha’ – rebelião, queda
- rascha’ – a ruptura qualitativa do direito (em sentido legal);
- ra’ah – o mal de forma geral.


Todos estes termos mostram que o pecado se manifesta concretamente em todas as esferas da vida humana, seja na relação com Deus ou com as pessoas e a natureza. Segundo Gerhard von Rad, o pecado é, basicamente, no AT, uma “categoria social”.
à No NT, o pecado é descrito como uma realidade que afeta, principalmente, a relação da pessoa com Deus. O termo amartia mostra que o pecado é o auto-fechamento da pessoa em torno de si mesma, de maneira que venha a errar o alvo de sua vida. Rm 5 mostra que todos os seres humanos provém de uma realidade simbolizada por Adão. Tanto Adão quanto Cristo são, neste cap., o que a pesquisa tem definido como personalidades corporativas.
O pecado é, neste sentido, uma realidade transmoral, i. é, não representa apenas um delito ou falta moral, mas atinge a totalidade da pessoa. O pecado é um poder que toma conta da pessoa, fazendo com que ela negue a Deus e se volte para os ídolos, além de viver de forma deturpada com o próximo e com a natureza.

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* Possui graduação em Teologia pela Universitat Tuebingen (Eberhard-Karls) (1999) , graduação em Bacharelado Em Teologia Curso Livre pelo Centro de Ensino Teológico (1991) e doutorado em Teologia Evangélica pela Friedrich-Alexander-Universitat-Erlangen-Nurnberg (2001) . Atualmente é professor titular da Faculdade Luterana de Teologia. Tem experiência na área de Teologia , com ênfase em Teologia Sistemática. Atuando principalmente nos seguintes temas: Esperança, escatologia, justificação, libertação, Utopia-Escatologia, Teologia da libertação, Escatologia em Martim Luther, Escatologia em Leonardo Boff, Escatologia em João Batista Libânio e Morte, Juizo final, Ressurreição, Inferno, Parusia.Diretor da Faculdade Luterana de Teologia desde de agosto de 2003.

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