terça-feira, 25 de agosto de 2009

Abbá Pai e a ignorância


[1] O movimento gospel dos últimos dez anos tem formatado uma geração que chora nos momentos de louvor, que chama de Deus de papai e que não lê mais a Bíblia. Afinal, para que me esforçar em entender uma coleção de livros se eu tenho essa “palavra” cantada? Tudo tão fácil, tão diluído, tão pobre. Mas não é sobre o descaso com a Bíblia que quero pensar com vocês, é sobre chamar de Deus de Abbá – papai querido, afinal, chamar Deus de papai é algo muito sério, pelo menos foi para Jesus.

Essa declaração sai muito fácil de nossos lábios, e acabamos esquecendo as dimensões dela. É no falar de Jesus Cristo que Deus é chamado de Abbá pela primeira vez, contudo, ele sabia o que e com quem estava falando. Jesus não estava seguindo uma tendência, pelo contrário, estava abrindo o caminho da oração e do louvor consciente.

Para entender as declarações de Jesus é importante conhecer o ambiente histórico-cultural de sua época. Para termos uma idéia, para os povos antigos, a palavra “pai” aplicada para a divindade evocava algo semelhante ao que a palavra mãe significa para nós. No Antigo Testamento, Deus é chamado de Pai apenas catorze vezes, mas cada uma delas é muito importante. Quando Deus é chamado de pai ele é honrado como criador[2], ou seja, tinha-se a consciência de que Ele é o Senhor que merece obediência e o Pai que é misericordioso.

Israel acreditava que a paternidade divina era exclusividade sua[3], contudo, é nos profetas que o conceito de Deus como Pai adquire todo o seu sentido no Antigo Testamento. Através dos profetas somos informados que a paternidade divina geralmente é correspondida com infidelidade da parte de Israel. É a ingratidão diante da misericórdia.[4]

O judaísmo palestinense mantém o mesmo significado do AT, é sóbrio em falar de Deus como Pai, onde seu amor e sua misericórdia são a palavra final, contudo, nos tempos de Jesus, não se tem registro de um indivíduo dirigindo-se a Deus como “meu Pai”, era sempre uma invocação coletiva: “Nosso Pai, Nosso Rei” .

Abbá” nas orações de Jesus.

Foi isso que Jesus fez, dirigiu-se a Deus como “meu Pai”[5], não só isso impressionou seus discípulos, o que impressionou mesmo foi o fato de Jesus utilizar a palavra aramaica Abbá (o acento está na última sílaba), pois esse termo fazia parte do balbucio infantil. Mas você pode estar se perguntado, o que isso tem de mais? Referir-se a Deus como Abbá para o judaísmo palestinense era desrespeitoso, e portanto, impensável invocar a Deus com um nome tão familiar.

Jesus abre o caminho para a intimidade com Deus. Foi algo único e inaudito “Jesus ter tomado essa iniciativa e falar a Deus como uma criança fala a seu pai, com simplicidade, intimidade e sem temor. Portanto, não há dúvida alguma de que a palavra Abbá, utilizada por Jesus para dirigir-se a Deus, revela o próprio fundamento de sua comunhão com ele.”[6]

As orações de Jesus influenciaram a comunidade cristã, tornando-se comum invocar a Deus como Abbá, Pai (Abbá, ho patér), e isso é ensinado pelo próprio Espírito Santo.[7] Portanto, somo autorizados a chamar Deus de papai: “As palavras de Jesus expressam simplesmente uma experiência cotidiana: só um pai e um filho é que se conhecem mutuamente”.[8]

Chamar Deus de Abbá é para quem vive o cotidiano com Ele, e não quem aprendeu o sucesso gospel do momento. Chamar Deus de Abbá é mais que friozinho na barriga e mãos levantadas, é compromisso e cruz!

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[1] Esse texto embasa-se, nas informações técnicas, na obra de JEREMIAS, Joachim. A mensagem central do Novo Testamento. São Paulo: Academia Cristã, 2005. p. 13-37.
[2] Dt 32.6; Ml 2.10.
[3] Dt. 14.1s.
[4] Ml 1.6; Jr 3.19s; Is 64.7.
[5] Todos os evangelhos são unânimes nessa afirmação. Somente no grito na cruz que Jesus não se serve do termo Abbá (Mc 15.34)
[6] JEREMIAS, Joachim. Op. Cit. p. 25.
[7] Gl 4.6.
[8] JEREMIAS, Joachim. Op. Cit. p. 31.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

analogia...














Este prédio que caiu na China, na fase final de construção me levou a duas rápidas reflexões:
1 - o movimento evangélico brasileiro, em grande parte, está sendo constrído sem fundamentos, uma hora vai cair, inteiro...

2 - minha própria vida precisa, volta e meia, de uma vistoria nos fundamentos. E dizem os entendidos, que para se fazer um bom fundamento, leva tempo. A construção, aquilo que aparece, pode se fazer muito rápido, comparado com os fundamentos...
como está faltando o Ócio, não posso desenvolver mais o tema, mas...., precisa?
PS - sei que essa notícia é velha, mas como dizem, notícia velha é nova para quem não leu...detalhes do acontecimento e fotos aqui!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Adeus Silas

Já existem muitos blogs denunciando o abuso da teologia da prosperidade, por isso, tento escrever sobre outras coisas, olhar para outros horizontes, mas hoje, quero escrever. Na verdade quero desabafar, compartilhar meu desânimo com o pastor Silas Malafaia.

Estou terminando de escrever meu livro, previamente intitulado Rascunhos da Alma: reflexões sobre espiritualidade cristã, e por isso fui dormir muito tarde. Eram 3h25 da manhã quando liguei a televisão. Programa do Silas com a presença do Dr.[1] Morris Cerullo. Eu já tinha visto o vídeo no youtube, mas não me causou o mesmo impacto que ver na televisão, altas horas da madrugada. Eu não acreditei.

Fiquei estarrecido com os argumentos desse homem que, talvez um dia, já foi um homem de Deus, mas agora tenho sérias dúvidas. Cerullo falou sobre uma unção financeira para sair da crise. Nunca ouvi falar de tal unção na Bíblia, mas deve estar lá, pois ele disse que ter ouvido isso de Deus. Disse mais: “que Ele derramaria uma unção financeira sobre seus filhos, que essa crise era para o mundo, não para os filhos de Deus”, e Cerullo complementa a “voz” divina: desde que, agora vem a contrapartida, que o fiel, o telespectador, desse voluntariamente uma pequena oferta de R$ 900,00. Caramba, o que é isso? Além de fazer uma exegese absurda do livro de Apocalipse, ele vem com uma explicação frouxa para justificar os novecentos reais.
Sem contar que ofertando, você leva inteiramente grátis, a Bíblia de Estudo Batalha Espiritual e Vitória Financeira e Deus até 01 de Jan cumprirá todas as promessas que te fez. Se você quiser ver as promessas de Deus se cumprir em sua vida, acho bom você ter R$ 900,00. E o Silas ali, concordando com tudo...

Só quero deixar registrado que o pastor Silas Malafaia, para mim, vai do reconhecimento para a repugnância. O que antes era para mim motivo de orgulho, agora é de desprezo. Não me identifico mais com sua pregação, sua postura de fé.

Fico pensando naquela pessoa abatida, cansada, que está atrás de uma palavra de conforto e ânimo. Minha oração é que ela passe longe da Band e da Record pela madrugada, pois, caso esteja sem dinheiro, ficará sem conforto.

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[1] Doutor em que será? Divindade?

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Tá difícil...

Eu ainda não tenho acesso a internet em minha casa, pois, como passo a maior parte do meu dia no trabalho, não via a necessidade de ter esse gasto extra. Mas recentemente atendi ao telefone e era uma daquelas adoráveis operadoras de telemarketing. Ela se identificou como sendo da empresa Oi (que deveria se chamar Tchau!).

Com toda sua conversa de retenção de clientes ela me convenceu a fazer uma plano: “super em conta com super vantagens, o senhor terá isso; isso e aquilo, por apenas X reais, é uma super promoção para clientes super especiais”, aham, sei, ela deveria ser honesta e dizer o senhor terá isso; isso e aquilo somado a muito incômodo. Desde que aceitei o plano, recebo todos os dias, ou ligação da Oi, ou do UOL, ou da BR Turbo, e acreditem, cada hora recebo uma informação diferente: senhor o técnico vai na sua casa; senhor, quem disse que o técnico vai na sua casa?; senhor sua internet é de 1,5 mega; senhor não existe essa velocidade, sua internet é de 1 mega; senhor seu login é esse; senhor, seu login não é esse, tivemos problemas com seu cadastro; blá blá blá. Um verdadeiro descaso com o consumidor.
A partir do momento que a Oi me ligou oferecendo-me um serviço, seu papel deveria ser o de facilitar meu acesso a web. Sua função era me passar corretamente as informações tornando muito claro seus produtos e serviços. Não deveria permitir esse fast food de informações. Isso confunde e tu não sabes mais em quem acreditar. Tentar cancelar? É mais uma novela. Só estou esperando a próxima fatura.

Não sei por que, mas todo esse incômodo que estou tendo com a Oi, lembrou-me algumas igrejas que conheço, explico. Uma das funções da igreja, é apresentar uma “proposta” de vida as pessoas, é facilitar o acesso das pessoas a Deus, é proporcionar um ambiente onde as pessoas possam com suas diferenças adorar a Deus. Mas o que vejo é ao contrário, o acesso a Deus é obstruído por muito entulho dogmático. São tantas regras fúteis que o acesso a Deus se torna privilégio de “poucos”.

O que vejo são pessoas tentando se adaptar a esquemas eclesiásticos e não ao padrão do evangelho de Cristo. São pessoas que, por preguiça ou sei lá, não tem outra fonte de informação além daquilo ouvem nos púlpitos de suas igrejas ou assistem nos DVD`s desses conferencistas desmiolados (quanto mais asneira, barulho, mais vende). É uma pena. O resultado está aí para quem quiser ver. Essas igrejas são como a Oi/UOL, dão a informação pela metade, te cobram uma mensalidade e dificultam o acesso a Deus.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ser de Jesus


Por Fernando Albano[1]

O chamado de Jesus consiste primeiramente num chamado para sermos dele. Somos chamados acima de tudo para sermos de Jesus. De modo que antes de pensarmos em função devemos pensar em relação, antes de pensar em atividade, pensemos em afetividade, antes de pensarmos em funcionalidade, pensemos em comunicabilidade. Não somos chamados para simplesmente fazer, mas somos chamados para ser, ser de Jesus e de fato, somente depois de pertencermos a Jesus é que podemos resolver fazer alguma coisa. Aliás, ninguém faz nada de efetivo no Reino de Deus se não pertenceu antes a Jesus, se antes não foi embalado em seus braços.
Hoje vivemos num tempo em que se priorizam as atividades, de modo que as pessoas que são estimadas são aquelas cuja agenda está repleta de ativismo, ocupações de toda ordem a todo instante. _ “Você é o que faz” _ eis a máxima desse grupo. Mas quem acaba fazendo tudo a todo instante pode pensar que o sentido da vida está em sua funcionalidade pragmática, no progresso tecnológico, no ativismo desenfreado. Entretanto no Reino de Deus a coisa não funciona assim. Pois no Reino os relacionamentos pessoais são priorizados. Antes de sermos chamados para fazer somos chamados para sermos de Jesus Cristo. Mais importante do que estar envolvido numa série de ocupações que gastam a vida é estar diante de Jesus autor e sustentador de toda a vida.
Há no Evangelho uma bela ilustração daquilo que estamos afirmando aqui. Trata-se do relato da ocupação e preocupação de Marta que envolvida em suas ocupações se incomodou com a aparente ociosidade de Maria, que persistia em permanecer aos pés de Jesus, ouvindo-o atentamente. Marta trabalha e Maria permanece parada. Marta não suporta! Chama a atenção de Cristo, e, até lhe pede que censure Maria. Jesus por outro lado diz pra espanto dela que Maria havia escolhido a melhor parte, ou seja, preferiu estar com Jesus Cristo que fazer coisas para ele. De fato, há ocasiões que melhor que fazer é estar parado (a) em contemplação diante do Filho de Deus. Jesus nos chama para sermos dele para somente depois fazermos algo por Ele. Não inverta a ordem, não queira fazer para depois ser, seja de Jesus e depois farás!
Sendo assim, cabe-nos perguntar: E você já pertence a Jesus? Anda imerso em realizações, mas ainda não parou diante de Jesus Cristo? Pretende fazer tantas coisas, mas não está nas mãos de Jesus? Então deixa lhe dizer que realizações à parte da comunhão com Cristo são empreendimentos marcados pelo orgulho e pecado humano; obras sem relacionamento com Jesus é obra de natureza egoística, marcada pelos próprios interesses; atividade sem Jesus é construção de torres de babéis que inevitavelmente resultarão em confusão; realizações sem o senso de pertencimento a Jesus é obra de “madeira, palha e feno” que não subsistirão no dia do Juízo. Antes de pretender fazer, se permita ser de Jesus. Sua Palavra nos diz: “Se hoje ouvirdes a Sua voz não endureçais o coração”... “Eis que estou a porta e bato se alguém ouvir a voz e abrir a sua porta entrarei em sua e cearei com ele e ele comigo”. Escolha a melhor parte _ ouça seu chamado para ser Dele, Jesus.

[1] Fernando Albano é professor no Centro Evangélico de Educação e Cultura – CEEDUC. Contato: fernando@ceeduc.org

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