segunda-feira, 28 de julho de 2008

Eu sou um crente "frio"

Querido leitor, confesso que este texto não trará nada de novo a você, mas preciso desabafar. Estou triste com uma colocação a meu respeito que ouvi esse final de semana. Conversando com uma amiga, ela me disse, que alguém disse pra ela (isso mesmo, a pessoa não falou diretamente pra mim) mais ou menos assim: “O Rodrigo é um crente frio, sei lá, ele é muito crítico, parece que tem medo de se entregar e expressar algum sentimento, não quero julgá-lo né, pois não sei como é a vida dele com Deus no íntimo...”

Eu cometi o erro de tentar me defender expondo um pouco de minhas obras e práticas devocionais no afã de mostrar que não sou um crente frio. Mas do que adiantaria esse meu esforço fútil, se eu não estava falando direto com o meu acusador ou acusadora? E mesmo que eu estivesse, faria alguma diferença? Creio que não! Essa situação me levou a pensar em minha espiritualidade e no meio eclesiástico em que estou inserido.

--> “o Rodrigo é um crente frio” – quais são os parâmetros utilizados para designar alguém de frio ou quente? Em algumas denominações não é sua conduta ética ou comprometimento com a obra que conta, mas o que você fala e a altura que fala. Nos cultos, não costumo dar “Glórias a Deus, Aleluias” em tom de voz elevado, línguas estranhas muito menos (1Co 14.19). Apesar de ser uma pessoa extrovertida e comunicativa não tenho por hábito “berrar” ou “glorificar alto” quando ouço uma proposição do púlpito ou ouço algum hino que me edifiquem. Por falar em hinos, não gosto desses hinos triunfalistas que ensinam teologia da prosperidade e iludem os fieis de que eles são as vítimas, e tudo de errado que acontece na vida deles é culpa do diabo. Prefiro canções, que exalta a Deus simplesmente por ele ser salvador e sustentador. Mas nem sempre ouço esses hinos onde congrego, quando são cantados, me alegro, e, externamente esboço um sorriso. Esse é o meu jeito, é dessa forma que vivo meu relacionamento com o sagrado. E assim como respeito aqueles que berram e se sacodem, quero ser respeitado.

--> “ele é muito crítico” – com certeza sou, e a bíblia assim me ensina (os Profetas, Jesus, Paulo, os crentes de Bereia, etc.). Não sou um ouvinte passivo, que abre a cabeça e permite que “qualquer coisa” entre e seja tido como verdade indiscutível. Até mesmo quando prego ou leciono, procuro desenvolver essa dinâmica: “Irmãos, sejamos como os crentes de Bereia, que analisavam cada palavra que Paulo falava, e se Paulo corria o risco de errar, imaginem eu”.
Sou um analista do meio em que vivo, e quando detecto algo que julgo não ser adequado, exponho minha opinião e gosto de conversar a respeito, pois posso aprender uma verdade bíblica antes obscura para mim ou ensinar a correta interpretação de um texto bíblico. Gosto de dialogar! Discutir idéias e conceitos! Pensar!
Desprezo discursos enlatados e fórmulas prontas que são utilizados para domínio das massas. Não gosto de hinos em ritmos caipiras que só sabem falar de Deus como uma espécie de “escravo”, que atende cada uma de minhas vaidades e luxúrias, dessa forma fica difícil me “entregar” e “expressar algum sentimento” nesse contexto.

--> “não quero julgá-lo né, pois não sei como é a vida dele com Deus no íntimo” – é normal sermos julgados e julgar, somos constantes réus e juizes nos tribunais da vida. Por isso não culpo essa pessoa, afinal, em muitos contextos pentecostais a espiritualidade é medida por decibéis, onde aquele que fala mais alto é o mais espiritual e quente.

Eu não irei mudar minha espiritualidade para fazer parte dos “quentes” ou para ascender ministerialmente, não venderei a minha alma à hipocrisia.
Pode parecer que não estou feliz com a minha congregação, mas não é verdade, tem virtudes e defeitos como qualquer comunidade cristã, então não tem porque mudar. Lá encontro pessoas tementes a Deus, comprometidas com a sua obra. Pessoas que como eu, querem firmar raízes e ser relevante no reino de Deus. Sempre será assim, uns ficam na arquibancada olhando o jogo acontecer apontando o dedo, outros estão no campo fazendo algo, sujeitando-se a críticas e ofensas, elogios e incentivos, errando e aprendendo. Eu estou no campo!


Fico feliz em saber que Deus é meu juiz, Cristo meu advogado e o ES meu consolador.
Quem sabe essa pessoa esteja mesmo certa e eu seja de fato um crente frio. Pois preciso orar mais, ler mais a Bíblia e não somente livros que falem dela, amar aqueles irmãos que não me dão nada em troca, ter mais momentos de solitude, enfim, ser mais cristão!

16 comentários:

Bel disse...

Rodrigo, em primeiríssimo lugar esta pessoa que fez este comentário a seu respeito, não conhece o " Filtro Triplo", nem a pessoa que ouviu o comentário...
O filtro da Verdade, da Bondade e Utilidade.
Se este comentário fosse verdade, professasse a bondade com relação a você e fosse útil pra quem ouviu, valeria a pena escutar. Agora se o mesmo tivesse passado pelo filtro antes de ir ao vento, com certeza nem você saberia dele!

Um abraço, na paz
Bel

Rodrigo de Aquino disse...

Sabe Bel, lendo meu texto novamente, penso que nem eu deveria passar isso pra frente, é como se de alguma forma eu estivesse querendo me justificar, e feliz é aquele que é justificado por Deus!

valeu as palavras Bel
rodrigo

Vitor Hugo da Silva - Joinville, SC disse...

Meu caro amigo Rodrigo!

Muito bom este seu post!

São muitos os que sofrem discriminação por não falar em línguas durante a mensagem, ou por não pularem de alegria no culto. Infelizmente, este é o parâmetro de espiritualidade existente no meio pentecostal atual.

Vou usar de sinceridade e coragem para declarar algo aqui, e tenho certeza que muitos cristãos já reparam isto, porém, possuem medo de denunciar. Na maioria (quer dizer que existem excessões) da vezes, estes crentes que pulam, gritam, e julgam os "quietinhos", ou seja, aqueles que fazem aquele barulho todo durante o culto, são os mais velhacos, mentiros, e arrogantes.

Estou cansado de ver tais "avivalistas", "canelas de fogo" serem perseguidos, não por suas pregações, mas por deixar de pagar as contas por onde passam. Depois, possuem a cara e a coragem de subir no púlpito e alegarem que o inimigo está furioso contra a vida deles. O inimigo deles é o cerasa, e o SPC!!!!

Discordo de seu comentário Rodrigo, onde você diz: "penso que nem eu deveria passar isso pra frente".

Se minha tia le-se o que escrevi, ela diria: "Foste curto e grosso" ou "Chutou o pau da barraca!".

Chega uma hora que cansa isto!

Um abraço!

Obs: Você ainda tem e-mail, ou está vivo? rsrsrs

Rodrigo de Aquino disse...

Olá Vítor,

realmente, muitas vezes, nem sempre, "os canelas de fogo" tem conduta ética de palha.

descobri que os "quietinhos", aqueles que se debruçam sobre os livros e buscam uma vida devocional serão sempre taxados por alguém de frio, tratando do movimento pentecostal é claro.

o que me confortou é que até mesmo o meu chefe e pastor recebeu o mesmo "elogio", a diferença é que falaram diretamente pra ele!

realmente cansa esse padrão!

PS - estou vivo amigo, mas meio ocupado...mas leio quase todos os mail que envias

paz
rodrigo

Anônimo disse...

Olá, Professor :)
Aaah.. esse mundo injusto com pessoas justificadas haha..
Lembre-se de uma máxima que diz:
"Nem Jesus agradou a todos".

Eu gosto de críticas! Isso significa que somos percebidos (para o "bem" ou para o "mal"). Diz que o que fazemos, de alguma forma, "influência" o outro.
De uma forma semelhante sou criticada porque os "decibéis" da minha igreja não ecoam ao nosso vizinho.
E eu gosto do silêncio devocional de onde congrego.
Sou criticada por ser mulher, por
ter opinião, por não ser adepta ao
sexo fácil e "livre", por ser cristã e bla bla bla...
Concordo com a Bel, em relação ao filtro, e se o outro não o faz, façamos nós. Às vezes, algumas coisas devem ser veladas, e outras não. Sejamos diplamáticos, e primeiramente, cristãos, para sabermos quando o fazer.

Sempre teremos algo que o outro não "aprovará", seja na igreja, no trabalho, em casa, no relacionamento... só não podemos nos tornar vítimas dele.

Muito bom o seu post.
Abraços.
Adelita.

Rodrigo de Aquino disse...

Adelita,

vc disse "eu gosto de críticas", depois que li, fiquei pensando, nao viverei sem elas, não viveremos na verdade. o que estou tentando fazer é avaliar cada crítica e crescer com elas...

valeu a participação...

Unknown disse...

Caro Rodrigo Aquino,

É certo que muitos pentecostais, não conformados com o pragmatismo existente em nosso meio, se identificaram com o seu texto.
Fruto da sociedade do espetáculo, circense em sua natureza, os crentes contaminados por esse “mundanismo” preferem cultos barulhentos, irreverentes e sem lugar para o exercício mental, mas somente o exercício do corpo. Precisamos de reflexão e não barulho!

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Rodrigo de Aquino disse...

Gutierres,

infelizmente parece que pensar é um exercício pouco praticado pela massa pentecostal. essa carência na verdade é fruto de um estilo de liderança que promove o pão e o circo (conforme sua logia). parece que pensar é coisa de "frio".

tenho refletido sobre o papel dos teólogos no meio pentecostal. a teologia como bem sabes deve acontecer na/com/para a comunidade, caso contrário perde sua validade.
precisamos despertar a comunidade para a realidade de que, como afirma Stott:
"crer também é pensar".

PS - seu blog tem sido uma ferramenta para as aulas de História do Pentecostalismo que leciono, muito obrigado!

rodrigo

Anônimo disse...

Bibo, confesso que até tentei pensar em redigir algumas palavras, pra dizer, expressar que vc é um Cara que é usado por Deus.

Mas pensando bem, é facil dizer algo sobre vc resumidamente e expressar varias qualidades ao mesmo tempo.

O BIBO FOI, e É, uma benção na minha vida... (Joel JUNIOR)

ESSE TESTEMINHO, aqui não é para honrar o Bibo, mas sim para honrar o que nosso Deus pode fazer com nosco, olha só o que Deus fez, ele usa até um "cara do tipo do Bibo" (kkkk)... pra abençoar minha vida.

RELAXA, meu caro, vc tem dado frutos, e eu sou um deles, e conheço muitos outros...

Deus te abençoe,e continue dando frutos.

OBS: tenho liberdade para esse "puxão de orelha", não use seu tempo para se justificar as pessoas, mas use seu tempo, ministrando, explicando, e aconselhando, conforme Deus te chamou.

JJ

Rodrigo de Aquino disse...

JJ,

obrigado pelas palavras...
seguirei seu conselho...

bb

Mario Gonçalves disse...

Rodrigo,

Cheguei atrasado nos comentários, mas lá vai:

O comentário mais sincero, na minha opinião, foram as últimas frases do Joel Junior.

Tbem tive o desprazer de ser chamado de frio simplesmente pq voltei empolgado uma certa vez da Sede da AD, de um curso da EBOJ!! Fui compartilhar algo com um irmão e fui insultado. Sei que na hora não rola nenhum sentimento nobre.

Agora, pense bem num homem: rejeitado, abandonado, cuspido, amarrado, torturado, chicoteado, sangrado, porém talvez a pior tortura era ter o poder de ordenar legiões de anjos ao seu favor e não fazer; e depois ser desafiado: Se tu és o Filho de Deus (ladrão da cruz)...prove!

Vc não precisa provar nada pra ninguém!!

Precisamos nos libertar dessa prisão! Viver em função do outro.

A impressão que dá é que queremos solidariedade, alguém que nos diga, tadinho, coitado...

Anônimo disse...

PARBENS PELO SITIO, MUITO BOM.

PR. JOELSON GOMES

http://gracaplena.blogspot.com

Rodrigo de Aquino disse...

Mário,

é isso mesmo, vamos continuar caminhando rumo ao conhecimento de Deus...

Pr Gomes,

obrigado pela visita! volte sempre...

Cleber disse...

Rodrigo,
tbm sou de Joinville.
Acho que já nos esbarramos por aí...hehehe

Valorizo muito a erudição bíblica pentecostal, o ensino teológico, a pregação profunda.

E não acho que isso seja impeditivo para uma postura aberta ao mover de Deus.

Valorizo a erudição, mas não abro mão de falar em línguas, de profetizar quando Deus mandar, de ver Deus curando, de ter experiências fortes e genuinas com Deus...

Minha erudição não impede de sapatear no Espírito ou de chorar diante do Senhor se Ele assim quiser... (não falo de manifestações fábricadas, mas vindas de Deus...)

Por que estou dizendo tudo isso?
Porque muitos pentecostais a medida que começam a valorizar o ensino teológico e questionar os ranços denominacionais acabam adotando uma postura "fria"... nada de sobrenatural acontece com eles... alguns sequer buscam o batismo no Espírito Santo... dizem que crêem, mas não experimentam, não vivenciam...

O resultado disso é que os crentes "menos esclarecidos" acabam associando a erudição com frieza espiritual.

Se realmente queremos influenciar esses crentes "menos esclarecidos" não basta usar argumentos...
É preciso mostrar que erudição e unção são coisas plenamente conciliáveis.

Jesus mesmo valorizava as duas coisas - Mt:22:29: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.

Ou seja, um cristão equilibrado conhece bem a Bíblia, mas tbm é cheio do poder de Deus.

PS.: Não estou dizendo que seja seu caso. Estou apenas compartilhando sobre pessoas que conheci.

Pastor Cleber
http://confraria-pentecostal.blogspot.com

Rodrigo de Aquino disse...

Olá Pr Cleber,

quem sabe já nos esbarramos mesmo por ae!

concordo com você meu irmão. Sou pentecostal e admiro o verdadeiro mover do ES. o problema é que muitas vzs o mover do ES está esteriotipado, logo, se vc nao se encaixa nesse "modelo"está fora da dança!

Mas é isso meu irmão, eu tbm busco mais em Deus, erudição e espiritualidade sempre!

Regina R. De Mello disse...

Temos muito em comum querido irmão.
Na verdade temos que ser reconhecidos em dois lugares:No céu e no inferno,no céu como filho de Deus e no inferno também,sendo logicamente determinado com inimigo das trevas.E aqui nesta terra...bom,é consequência do que verdadeiramente somos e refletimos.
Te convido a participar do meu Blog Cristão Peregrina,onde poderemos dividir algumas bençãos.Paz de Cristo!

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