terça-feira, 20 de maio de 2008

Copiazinhas nojentas de si mesmo...

O livro de C. S. Lewis, Cartas de um Diabo a seu Aprendiz, apresenta uma troca de correspondências entre um tentador sênior, Screwtape (Criação de Lewis, combinação entre “verme” e algo que se enrola sobre si mesmo), e seu protegido, Wormwood (cupim).[1]

Neste trecho, que reproduzo na íntegra, Screwtape revela as intenções do Inimigo (nessas cartas o inimigo é Deus).

“Agora, uma coisa que pode surpreender você é o fato de que o Inimigo, em sua luta por conquistar almas, Ele as mantém às vezes por mais tempo nos vales desagradáveis que nos picos gloriosos. E alguns de Seus favoritos especiais são exatamente os que passam por aflições mais profundas e prolongadas.
A razão é essa: Para nós, um humano é primariamente comida; nossa meta é a absorção de sua vontade pela nossa, é aumentar nosso ego as custas dele.
Mas a obediência que o Inimigo requer deles é uma coisa totalmente diferente. Temos que encarar a realidade de que tudo que se fala a respeito de Seu amor pelos homens e sua obra de proporcionar perfeita liberdade não é (como gostaríamos de acreditar sorridentes) mera propaganda, mas uma aterradora realidade. Ele realmente quer encher o Universo com um monte de copiazinhas nojentas de Si mesmo – criaturinhas cujas vidas em uma escala miniaturizada seriam qualitativamente como Ele próprio, não porque Ele as tivesse absorvido mas porque suas vontades livres eram semelhantes à dEle. Nós queremos criar gado que finalmente nos sirva de alimento; Ele quer servos que mais tarde converterá em filhos. Nós queremos sugá-los, Ele quer premiá-los; Nos somos vazios e queremos nos encher através deles, Ele é pleno e assim transborda.
Nossa guerra visa um mundo no qual Nosso Pai Lá de Baixo tenha todos os demais seres encerrados nele mesmo; O Inimigo deseja um mundo cheio de seres unidos a Ele, mas ainda distintos e pessoais.”

O ser humano foi colocado no mundo como símbolo da própria soberania de Deus. Os grandes reis do Antigo Oriente, costumavam mandar erguer nos seus reinos efígies de si mesmos, que os representassem, como símbolos de sua soberania. Foi nesse sentido que Israel compreendia o ser humano como imagem e semelhança de Deus.[2]
Não existe nenhuma palavra que explique diretamente no que consiste a imagem de Deus nos ser humano. Nos termos selem (imagem, estátua) e dmut (igualdade, algo como) onde o segundo interpreta o primeiro ao salietar a noção de correspondência e de semelhança, não se aponta somente para a natureza espiritual do ser humano, mas também para sua natureza física, ou seja, o ser humano na sua integralidade para o desempenho de seu papel.[3]

O que significa ser imagem de Deus e suas consequências éticas é assunto para semana que vem...

Paz a todos
__________________
[1] KLEIN, Patrícia S. Um ano com C.S. Lewis: leituras diárias de suas obras clássicas. Viçosa: Ultimato, 2005. p. 23.
[2] RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento. 2. ed. São Paulo: ASTE/TARGUMIM, 2006. p. 145.
[3] RAD, Gerhard von. Op. cit., p. 143.

5 comentários:

Thiago Rodrigo e Elinéias Fabrício disse...

Bibo,

agora você deixou seus leitores com "água na boca" vamos esperar pacientemente até semana que vem.

Abraço.

Elinéias F.M.

Djenane Wagner disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Djenane Wagner disse...

Olá, Rodrigo, gostei muito dos seus textos, parabéns! você me deixou curiosa para ler outros livros de C.S. Lewis, pois li apenas As Crônicas de Nárnia. Vou acessar sempre para ler as novidades. Abraços, Djenane.

Unknown disse...

O Inimigo do Diabo e de seu aprendiz consegue ver o humano decaído, pobre, cego e nu, como alguém segundo a sua imagem e semelhança. Esse é um dos “paradoxos” bíblicos: o homem é um miserável pecador, mas é também a Imago Dei. Um bom assunto para reflexão. Vamos esperar os próximos textos... Parabéns pelo Blog irmão Aquino.

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Rodrigo de Aquino disse...

Graça e paz amigos de jornada...

Elineias e Djenane, espero a visita de vocês sempre aqui, para juntos crescermos...

Gutierres, realmente surpreende o fato de sermos Imago Dei mesmo depois da queda, é sinal de que ainda estamos no plano de Deus.

Agredeço a todos o visitantes

rodrigo

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