quarta-feira, 23 de julho de 2008

Porneia na compreensão de Paulo - parte 2

Paulo é hostil a porneia porque em seu entendimento é a distorção do relacionemnto sexual, como, sodomia, fornicação, prostituição, adultério, incesto, etc. Isso não quer dizer que seja contra a relação sexual, pelo contrário, é a relação sexual entre marido e mulher, que pode banir a porneia (1Co 7.1-7). Paulo é contra o abuso do sexo, a imoralidade sexual. A inconstância na moral sexual dos coríntios é contextada pelo apóstolo, pois este, se manteve firme aos princípios de sua educação judaica, que afirmava que o “desejo” pode rapidamente corromper-se em concupiscência. Isso é uma avaliação realista do instinto sexual, uma força para criar vida e amalgamar relações (1Co 7.3-5), mas também uma força capaz de corromper e destruir.[1]

Alguns dentre os coríntios, devido a influência helênica, justificavam a prostituição como alívio e prazer sexual, onde, alimentar-se e relacionar-se sexualmente não havia diferença, visto que ambas as atitudes são para satisfação de necessidades básicas (1Co 6.12-14). Para Paulo, tal conduta é inaceitável para os cristãos, pois tal complacência rapidamente escravisa (6.12) e não é compatível com a vida como membro de Cristo, pois não há como ser membro de Cristo e de prostituta simultaneamente.

2 UM OLHAR PARA ATUALIDADE

2.1 Os meios de comunicação de massa

A porneia segundo a compreensão de Paulo, também está presente nos dias de hoje e propagada pelos meios de comunicação em massa, pode-se dizer que vivemos num mundo pornificado.[2] Carlos Tadeu, vulgo “Catito” relata em seu livro: [3]

Sentei-me outro dia diante da televisão para assistir ao noticiário. Surpreendi-me ao ver que uma significativa parte do programa foi gasta na discussão da iniciativa de uma líder do MST (Movimento dos Sem-Terra) de pousar nua para fotos da revista Playboy! Fiquei pensando no sentido que tinha aquela discussão – seria uma estratégia de marketing da revista, promoção do MST, autopromoção da moça? Em suma: gastar quase 5 minutos de horário nobre para uma notícia tão insólita como esta deveria ter algum sentido. Mas não tinha! Quantas notícias veiculadas em horário nobre têm caráter sexual e um fundamento absurdamente insólito.

Os meios de comunicação têm sido utilizados para transpor barreiras, inclusive a da privacidade, isso gera patologias, em especial, na esfera da sexualidade, com a proliferação de sites pornográficos[4] veiculando e estimulando bestialidades e promiscuidades sexuais.[5] Diante dos meios de comunicação de massa, não pode-se tomar uma postura ingênua, pois esses, aos poucos, vão moldando os conceitos sobre sexualidade, tanto de adultos quanto de crianças. As cenas de nudez[6] nos comerciais, filmes (até mesmo na “sessão da tarde”), telenovelas, talk-shows [7] e inúmeras cenas de relações sexuais, insinuações de incesto e violência sexual perpassam a “telinha” dos lares, gerando com certeza, nos jovens e crianças, a idéia de que o sexo é algo banal, vulgar e “utilizável” só para o proveito pessoal. Com toda certeza, os meio de comunicação são “lavadores de mentes” no que diz respeito a sexualidade em nossos dias.[8] Pode-se dizer que a porneia penetra nas diversas camadas sociais através dos meios de comunicação de massa, transformando o sexo numa prática extremamente egocêntrica e utilitarista, e não mais uma expressão de carinho e compromisso.[9] O psicólogo Ageu Lisboa emprega um termo interessante para se referir a influência da mídia sobre as pessoas: Mid-idiotização! Ele afirma que:

Em novelas e romances vendidos nas bancas, nos programas de televisão para o público adolescente ou mesmo para o grande público, há um claro incentivo a qualquer forma de expressão da sexualidade. [...] É a cisão sem sofrimento nem culpa entre sexo e afeto. Atitude utilitária. [...] Um fato que choca a consciência e os valores de uma civilização podem ser trabalhados num estúdio de Hollywood [...] o resultado é um belo filme com uma trilha musical bem produzida, atores e atrizes irresistivelmente charmosos e um roteiro sentimentalmente envolvente, que pode criar uma adesão emocional ao que era primariamente repugnante. Mais dois filmes e depoimento de gente rica e famosa que viveu algo assim, como nos filmes e pronto! A resistência das consciências no plano coletivo vai diminuindo. Assim todos os interditos e limites vão sendo glamourizados e suprimidos. [10]

O que Lisboa esboça nas palavras acima é uma verdade lamentável, ainda que ele não diga nenhuma novidade, ao lermos suas palavras atentamos para essa realidade muitas vezes esquecida, ou melhor, ignorada, afinal já estamos tão acostumados, quem sabe até mid-idiotizdos!


2.2 As conseqüências da porneia

Rompendo sua relação com a pessoa (soma-corpo), o sexo torna-se insensivelmente uma mercadoria de consumo (porneia-imoralidade sexual). Essa instrumentalização percebe-se no fenômeno do erotismo e da pornografia, tal como ele é vivido atualmente em muitos meios.

Nessas condições, é natural que o sexo já não seja mais vivido como um compromisso da pessoa e sim como uma forma de entretenimento e diversão, como se tratasse de uma brincadeira infantil. Alguns sociólogos contestaram o fato de que, em uma sociedade tão sexualizada, a prostituição tenha diminuído, contrariamente ao que seria de se esperar. No entanto, é simples a explicação do fenômeno: o papel antes representado pela prostituta é agora desempenhado pela companheira. A facilidade e a frequência das relações sexuais variadas diminui a necessidade do prostíbulo.[11]

A conseqüência desse liberalismo sexual é um profundo sentimento de vazio e decepção. É relacionamento sexual reduzido ao genital e ao egoísmo, constituindo-se na instrumentalização do parceiro, ou seja, o que foi criado para ser fonte de prazer e satisfação mútua passa a ser fonte de desespero e mediocridade. O outro se torna um objeto para que eu satisfaça meus desejos egoístas, que na maioria das vezes está mascarado com a frase: Eu te amo!




2.3 Um olhar de Paulo para atualidade.

Para o apóstolo, a sexualidade compromete a fundo a pessoa. A orientação do apóstolo aos coríntios é oportuna para a atualidade. Ainda que a porneia tenha ganhado novas expressões conceituais, com o advento dos meios de comunicação em massa, o ser humano não mudou, continua tendo a mesma estrutura constitutiva, é soma, e nessa condição, ainda hoje, pode-se tornar escravo da porneia.
É necessário ressaltar, que não se trata de antipatia a toda atividade sexual como tal. Pelo contrário, Paulo expõe sua apreciação realista à força do desejo sexual em 1Co 7.9 – “... é melhor casar-se do que ficar abrasado” (BJ). Inclusive, suas afirmações das mútuas responsabilidades conjugais (7.3-4) eram progressivas para a época. “Não menos digno de nota é o fato de que em 7.5 é a abstinência sexual forçada que dá a Satanás oportunidade de tentação, e não as delícias do leito conjugal.”[12] Ao ver toda essa revolução sexual da atualidade, o apelo de Paulo não seria diferente: “Fugi da porneia”; “Glorificai pois a Deus com vosso corpo” e quem sabe acrescentaria: “Casamento é o único contexto apropriado para a atividade sexual plena e feliz”.


2.4 O que aprendemos com tudo isso

Aprendemos que relação sexual desprovida de amor e promovida pelo egoísmo é porneia, e nessa condição, é pecado. Relação sexual é tornar-se uma só pessoa com o parceiro. Por isso essa ligação íntima somente pode ser concretizada quando pessoas realmente desejam tornar-se “uma só pessoa”, e o tornar-se uma só pessoa na Bíblia sempre acontece em contexto de responsabilidade, quando o homem assume a responsabilidade de cuidar da mulher, de constituir com ela uma família, quando o intercurso sexual acontece fora desse contexto é desaprovado, é imoral.
Em nossos dias é no casamento que existe esse compromisso de união. Por isso nós cristão nos abstemos da relação sexual durante o namoro e o noivado, pois essas primeiras fazes são para conhecermos o outro, sua família e tomarmos a decisão de firmar ou não o compromisso. Tomada a decisão começam os preparativos para o casamento, onde ambos assumem responsabilidades e podem desfrutar das bênçãos da vida sexual. Nesse contexto estão honrando seus corpos enquanto templo do Espírito Santo.
____________
[1] DUNN, James. A teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p.776.
[2] O material pornográfico movimenta nos EUA, segundo a revista Veja, 7 bilhões de dólares ao ano. No Brasil, ainda não se divulgou nada a respeito. Revista Veja apud. Intrigantes, Ultimato, Viçosa, n. 308, p. 18, set/out, 2007. Análise interessante sobre a pornificação da sociedade encontra-se na obra de PAUL, Pamela. Pornificados: como a pornografia está transformando a nossa vida, os nossos relacionamentos e as nossas famílias. São Paulo: Cultrix, 2006. Ainda que o contexto da autora seja norte americano, os efeitos da pornografia não diferem muito entre norte-americanos e tupiniquins.
[3] GRZYBOWSKI, Carlos Tadeu. Macho e fêmea os criou: celebrando a sexualidade. Viçosa: Ultimato, 1998. p. 27-28.
[4] “Hoje é praticamente impossível discutir pornografia compulsiva sem falar da Internet, não raro etiquetada como o crack ou cacaína da obscenidade”. PAUL, Pamela. Pornificados: como a pornografia está transformando a nossa vida, os nossos relacionamentos e as nossas famílias. São Paulo: Cultrix, 2006. p. 204. Um estudo realizado pelo Senado norte-americano mostrou que a pornografia na Internet pode ser mais viciante do que o crack ou a cocaína. Disponível em Acesso em: 03 maio 2007.
[5] LISBOA, Ageu H. Sexo: desnudamento e mistério. Viçosa: Ultimato, 2001. p. 14.
[6] “Nunca as mulheres foram tão nuas no Brasil; já expuseram o corpo todo, mucosas, vagina, ânus. O que falta? Órgãos internos? Que querem essas mulheres? Querem acabar com nossos lares? Querem nos humilhar com sua beleza inconquistável? [...]” JABOR, Arnaldo. Os homens desejam mulheres que não existem. Disponível em: Acesso em: 03 maio 2007.
[7] Aqueles programas de auditório, que geralmente passam domingo a tarde.
[8] GRZYBOWSKI, Carlos Tadeu. Macho e fêmea os criou: celebrando a sexualidade. Viçosa: Ultimato, 1998. p. 29. Até mesmo nos games, como Máfia, têm-se apelos pornográficos através da prostituição e sensualidade. Nessa direção, o psicólogo Ageu Lisboa, dedica todo um capítulo de seu livro. LISBOA, Ageu H. Sexo: desnudamento e mistério. Viçosa: Ultimato, 2001. p. 41-47.
[9] GRZYBOWSKI, Carlos Tadeu. Macho e fêmea os criou: celebrando a sexualidade. Viçosa: Ultimato, 1998. p. 119.
[10] LISBOA, Ageu H. Sexo: desnudamento e mistério. Viçosa: Ultimato, 2001. p. 57;59.
[11] AZPITARTE, E. López. in: ORDUÑA, R. Rincón. Práxis Cristã II: opção pela vida e pelo amor. São Paulo: Paulinas, 1983. p. 257.
[12] DUNN, James. A teologia do Apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 160.

Um comentário:

Irmã Marcelle disse...

Olá! Estou aqui para parabenizar esse estudo maravilhoso da Bíblia,conteúdo riquíssimo e proveitoso para o ensino.
Parabéns aos idealizadores. Vocês estão salvando almas e libertando cristãos.
A Paz do Senhor!

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