sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Aqui eu Mando! parte 2 e final

Na segunda parte dessa reflexão (leia a primeira aqui) sobre os acontecimentos na EBD de uma igreja em Joinville quero esclarecer dois pontos antes de falarmos sobre Autoridade e Poder num viés bíblico e não meramente sociológico como na primeira parte.

1 – Quando disse que o pastor saiu de férias, de forma alguma quis dar a entender que ele abandonou a igreja ao acaso, pelo contrário, como ser humano, pastor também deve desfrutar de férias. Quando escrevo que ele saiu tranqüilo, é porque confiava na pessoa que colocara a frente do trabalho. Tanto que quando o pastor voltou, colocou ordem na casa!

2 – Não tenho nada contra a pessoa que denominei Irmão Mandão, somente contra sua atitude e nem por isso o culpo, pois ele é filho de um sistema onde esse tipo de liderança funcionava.

Vamos ao que interessa!

Quais definições bíblicas de poder e autoridade? A resposta será breve, contudo técnica, mas espero que seja esclarecedora.
Autoridade vem do grego exousiaex – para fora de / ousia – ser, sendo assim, autoridade no sentido puro da palavra grega é aquilo que é inerente ao ser e dele emana (sai para fora). Exousia é utilizada na Bíblia de maneira bem diversa, sendo ora traduzida como direito de agir, habilidade, poder, poder absoluto, autoridade exercida por governantes, etc.[1]. Mas na maioria das vezes seu significado é teológico, e, em última análise, somente Deus possui plena autoridade, sendo que a autoridade que os homens possuem foi delegada por Deus.[2] Sobre obediência as autoridades, leia aqui.
Poder vem do grego dynamis que também é traduzido como força, energia, habilidade, ato poderoso, etc.[3]

Na mesma passagem bíblica onde diz que Cristo recebeu toda a autoridade também diz que ele comissionou seus discípulos para fazerem sua obra (Mt 28.16-20). E no texto áureo de Atos, Cristo diz que receberemos poder para sermos suas testemunhas (At. 1.8), ou seja, a autoridade de Jesus Cristo nos dá poder mediante o Espírito Santo habilitando-nos para a obra de Deus.

Então temos de nos perguntar como Cristo utilizou sua autoridade e poder[4], pois ela servira de molde para nossa ação enquanto discípulos habilitados com poder para testemunhar o evangelho da paz.

Cristo exerceu sua autoridade para perdoar pecados, expulsar espíritos maus, vocacionar discípulos, etc. O que fica claro é que todas as atitudes de Cristo eram regidas pelo amor, Ele usou de autoridade para manifestar amor.
Na tentação ele poderia utilizar o poder para fazer coisas boas, mas elas seria desprovidas de relacionamentos.... assim nosso irmão Mandão quer fazer coisas boas na comunidade, mas está desprovido de amor, e sem amor, o poder destrói.

No evangelho de Lucas, em suas primeiras utilizações, o termo poder refere-se ao poder do Altíssimo que faz uma mulher ficar grávida. Nesse sentido poder refere-se a fecundação que é fruto de intimidade, reciprocidade, quando não é dessa forma é violência, invasão. E o segundo momento onde o termo é empregado é na tentação de Jesus no deserto.

Todas as tentações do diabo instigavam Jesus a utilizar o seu poder, Jesus poderia utilizar seu poder para transformar muitas pedras em pão, e assim, alimentar multidões, governar as nações com poder e equidade e ao ser salvo pelos anjos demonstrar que todos podem confiar em Deus. Mas ele diz não a cada tentação, pois, segundo Peterson, essas manifestações de poder estariam sem o invólucro do amor, seriam o poder aplicado a força, sem contexto de relacionamento e amor, seria um poder por imposição.[5]

E poder do Espírito não acontece por força e violência, de forma impessoal, mas sempre exercido de forma pessoal, com base em relacionamentos. O poder do Espírito Santo não é coercitivo. Depois de ser tentado, Jesus, sempre no poder do ES, sai pelas ruas da Palestina, alimentando famintos, fazendo justiça e utilizando milagres para evangelizar, sempre no contexto da relação, do pessoal e do amor.[6]

Se Jesus Cristo é nosso paradigma de como utilizar o poder que nos foi dado, não preciso falar mais nada.
_____________
[1] GINGRICH, F. W.; DANKER, F.W. Léxico do N.T. grego/português. 1 ed. São Paulo: Vida Nova, 1984. p. 77.
[2] JUDGE, E. A. In: DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 171-173.
[3] GINGRICH, F. W.; DANKER, F.W. Léxico do N.T. grego/português. 1 ed. São Paulo: Vida Nova, 1984. p. 60.
[4] Autoridade e Poder se encontravam no ministério terreno de Cristo, pois era homem e Deus simultaneamente.
[5] PETERSON, Eugene H. A maldição do Cristo genérico: a banalização de Jesus na espiritualidade atual. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. p. 315-316.
[6] PETERSON, Eugene H. A maldição do Cristo genérico: a banalização de Jesus na espiritualidade atual. São Paulo: Mundo Cristão, 2007. p. 317.

2 comentários:

Alexander De Bona Stahlhoefer disse...

boa reflexão... exousia pra você irmão, como diria o Prof. Wiese!
Em Teo. do NT eu fiz um trabalho comparando o conceito de exousia e dynamis, foi bem importate compreender que dynamis theou é um poder inerente a pessoa divino e que Jesus nos concede exousia tou theou a partir da dádiva pneumática.
Abracos!!

Rodrigo de Aquino disse...

Olá Alex,

Realmente, nada poderemos fazer no basileia tou Theou sem o poder do Espírito.

Obrigado pela visita!

abraços

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