sexta-feira, 15 de maio de 2009

Não sou eu sem você...

Somos seres sociais, foi assim que Deus nos fez. É o conjunto de pessoas que me torna ser humano. É a cultura que confere humanidade ao indivíduo, por meio das “práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística”[1], dessa forma, posso quase afirmar que a existência enquanto ser humano está condicionada a existência de um próximo.

Ultimamente venho percebendo o quanto o “meu” “eu” é a mistura dos “eus” que rodeiam, que “eu”, sou na verdade um pouco de cada um. Tenho experimentado muito isso, ao notar como a minha mãe me completa, como a minha noiva me completa, meus amigos e até meu chefe. E essa percepção, vem de pequenas atitudes, das vírgulas da vida. Vejo que estou sendo forjado em gotas.

Ser um pouco de cada um não é ausência de personalidade, mas presença de complementaridade. Quem se fecha em si mesmo e não se deixa complementar é um ser humano incompleto, cego, pobre e nu.

______________
[1] Cf. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995. p. 294-95. Um fato que pode exemplificar a idéia de que a cultura confere humanidade ao ser humano foi o que ocorreu na Índia em 1920, o caso das meninas-lobo. Amala, um ano e meio, e Kamala, oito anos, foram encontradas vivendo com uma família de lobos, ao serem resgatadas não apresentavam nada de humano, pelo contrário, comportavam-se como seus “irmãos” lobos. Caminhavam de quatro com os joelhos e cotovelos para pequenos trajetos e com os pés e as mãos para os trajetos longos e rápidos. Não conseguiam ficar de pé. A alimentação era composta de carne crua ou podre, até o jeito de beber água era como o dos lobos. No instituto onde foram acolhidas, de dia viviam quietas e pacatas sempre em uma sombra, e de noite eram ativas e ruidosas procurando fugir e uivando como os lobos. Amala teve um contato curto com a vida civilizada, pois morreu um ano depois de ser resgatada, já Kamala passou por um processo de humanização, conseguindo ficar de pé somente seis anos depois do resgate, contudo, em 1929 morreu com um vocabulário de dinquenta palavras. Cf. REYMOND, B. in: ARANHA, M. L. de Arruda; MARTINS, M. H. Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993. p. 2.

8 comentários:

Vitor Hugo da Silva - Joinville, SC disse...

Excelente texto Rodrigo!

Definitivamente carregamos a imagem e semelhança de Deus, porém carregamos juntamente fragmentos da sociedade onde estamos inseridos. Seja a nossa família, sala de aula, ambiente de trabalho. Somos um montante de um outro montante de ideologias, visões, e razões.

Não há como fugir desta realidade. Somos o que somos devido a Deus e aos indivíduos que nos rodeiam. O interessante é que a imagem e semelhaça de Deus não é algo escolhido, pois é inato ao homem. Contudo as demais características que recebemos de outros indivíduos, nós a aceitamos devido a nossa livre escolha.

Abraços!

Rodrigo de Aquino disse...

Olá Vitor,

se puderes, explique melhor seu comentário no segundo "parágrafo" pois me parece contraditório, pois afirmas que não podemos fugir dessa realidade e ao mesmo tempo afirma que a aceitamos devido a nossa livre escolha. Acho até que entendi o que quiseste dizer, mas prefiro não ficar no achismo. POdes clarificar a idéia?

paz

Mario Gonçalves disse...

O quê ou quais pensamentos são "nossos" na verdade?

Sobre qual assunto podemos dizer que pensamos com originalidade e ineditismo?

Minha forma de pensar é construída em sociedade e quando mudo de opinião tbem é em função do outro. O que é próprio de mim então?

Taí um bom assunto para discussão!

Vitor Hugo da Silva - Joinville, SC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vitor Hugo da Silva - Joinville, SC disse...

Rodrigo!

Não há como não optar em não carregar a imagem e semelhança de Deus. Por outro lado, também não há como fugir de carregarmos a influência de outros indiviudos em nossa vida. O fato de não fugirmos, segue a linha da escolha. Não há como ficar inerte aos pensamentos, visões, e ideologias de outros indivíduos, você querendo ou não, será influênciado. Porém, a sua livre escolha dirá qual seguir. Se o pensamento do A ou do B. Você terá que escolher, e não poderá fugir.

Você não tem como fugir, pelo simples fato de tudo o que nos cerca ser influênciado por algo. E a sua livre escolha optará por qual ideologia você será influenciado também. Não há indivíduo em nossa sociedade escape a uma escolha.

Deu + ou - para entender?

Vitor

Fórmula 3.16 disse...

Vitor,

agora ficou um pouco mais claro, mas ainda surge a pergunta, se tenho que escolher, se não posso fugir dessa influência, sou de fato livre? posso falar em livre escolha?

Olá Mario,

Eu creio que podemos ser pessoas originais com idéias adaptadas. Isto é, eu assimilo uma idéia que gostei e a adapto ao meu discurso, estilo de vida e tals. Isso é um ponto.
Outro ponto é a questão dos seres humanos pensarem a mesma coisa. Já aconteceu com vc de teres uma idéia e do nada vc a lê num site de alguem famoso? Essa teoria dos humanos pensarem coisas semelhantes já aparece nos primórdios da humanidade, as cosmogonias são um exemplo.

mas ainda fica a questão: o que é próprio de mim?

rodrigo

Vitor Hugo da Silva - Joinville, SC disse...

Bem. No campo teológico, segundo Lutero (e você sabe melhor do que ninguém), somos todos servos arbítrios. Ou seja, temos a possibilidade de escolher em servir a Deus ou ao diabo. É uma escolha, porém já delimitada.

Creio que dentro desta visão sociológico (podemos chamar assim) esta regra também está incluída. Ou seja, a minha liberdade é uma liberdade cativa a ideologias, pensamentos, e culturas. Vejamos: Temos os números 1,2,3,4,5. Temos diante de nós cinco opções de escolha. Eu tenho a liberdade de escolha, porém esta liberdade já foi limitada pelo fato de me apresentarem estas opções. Obviamente que podemos criar outras opções partindo destes cincos aspectos. Por exemplo: Escolho o nº3, porém retenho para mim algumas características do nº4 Então terei uma junção entre 3 e 4. Porém, mesmo assim a minha escolha se deu devido a existência destes números, destas opções. Portanto, ainda assim sou fruto de influências de terceiros (mesmo tendo a possibilidade de escolhas múltiplas). Portanto, somos todos indivíduos servos arbítrios do sistema educacional, econômico, filosofal etc.

Vtiro Hugo

Fórmula 3.16 disse...

agora, para mim, ficou claro assino em baixo...

rodrigo

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