segunda-feira, 5 de maio de 2008

"Somos os Edmundos de Cristo"

Justificação por graça e fé

Você já teve a impressão de que está o tempo todo sendo julgado? Essa pergunta é resultado do fato de que, a todo momento estamos diante de uma espécie de tribunal ambulante, ou seja, as vezes somos o juiz, as vezes somos o réu, as vezes somos o promotor (na maioria das vezes). Essas três dimensões permeiam nosso dia-a-dia. É só você pensar nas sentenças que distribuímos aos que nos cercam, quantas recebemos e assim a vida segue, um julgando o outro. Já percebeu o quanto nos justificamos para explicar nossas atitudes, por que temos que nos justificar o tempo todo? A resposta está no fato de não sermos autônomos. Cada indivíduo é formado socialmente, é fruto do julgamento de outras pessoas sobre ele bem como do julgamento que faz de si mesmo. Eu vivo me justificando, vivo querendo garantir minha existência.
E o fato de vivermos a partir dessa auto-justificação, desse esforço humano em subsistir, temos dificuldades em entender o que Deus fez por nós na cruz!

Paulo afirma que independente da Lei, ou das obras da Lei (aquilo que exige algo de mim) Deus manifestou a sua justiça (Rm 3.21-24). Deus nos amou mesmo nós sendo seus inimigos. Eu e você não somos pecadores por que pecamos, mas o contrário é verdadeiro, pecamos por que somos pecadores, nossa natureza é contra a vontade de Deus, o velho Adão em nós luta por independência. O pecado é uma realidade em meu ser que me afasta do Criador. E sabe o que é o pior? Enquanto vivermos aqui, seremos pecadores na totalidade de nosso ser. Então, temos um problemão nas mãos, por que a Bíblia diz que devemos ser santos assim como Deus é santo. É aqui que começa nossa batalha, pois como somos frutos de nosso tempo, onde impera a auto-justificação, eu aplico isso na minha caminhada de fé. Quero me justificar perante Deus, quero com meu esforço conquistá-lo. Esse labor em querer se justificar perante Deus só nos conduzirá à frustração. Pois tudo o que faço é marcado pelo pecado e isso me priva da glória de Deus, ou seja, me priva da presença de dEle. Glória no sentido bíblico é a presença de Deus comunicando-se ao homem de modo cada vez mais íntimo.

Se a história acabasse assim, estaríamos muito mal. Pois o salário do pecado é a morte. Mas é nesse momento que entra a justificação como ato salvífico de Deus. Justificação é levar a culpa no lugar do outro, é sofrer a pena que era destinada ao condenado. O filme inspirado na obra de C. S. Lewis As Crônicas de Nárnia, ilustra essa realidade, onde Aslan assume a culpa no lugar do traidor Edmundo e morre sobre a mesa da pedra branca. Surge a pergunta, o que Edmundo fez para merecer tal benefício? A resposta é simples e curta, nada, ele não fez absolutamente nada. Lewis entendeu a cruz de Cristo muito bem e tentou de forma metafórica passar essa mensagem. Nós somos os Edmundos de Cristo. Quando falo de justificação, lembro do ladrão da cruz, o que aquele sujeito fez para estar no paraíso com Cristo? Em última análise, nada. Quem sabe você possa pensar, mas ele confessou que Jesus era o Cristo. Muito bem, isso é verdade, a justificação só acontece mediante a fé, e qual a origem da fé?

As palavras chaves para nossa compreensão da justificação operada por Deus em nosso favor encontramos em Romanos 3.21-24: 22 – justiça de Deus que opera pela fé em Jesus Cristo, em favor de todos aqueles que crêem... 24 – e são justificados gratuitamente, por sua graça, em virtude da redenção realizada em Cristo Jesus... para se ter esse novo status perante Deus, o status de justo, é necessário ter fé, pois a justificação acontece na dimensão da fé. Nos não podemos produzir essa justificação. A fé é uma obra de Deus em nós, que nos transforma e nos faz renascer de Deus (Jo 1.13). Nosso reformador Lutero tinha clareza acerca da justificação a partir da fé. Ele afirmava que a fé justificadora é obra unicamente de Deus, assim a fé sobrevêm ao ser humano, onde a pessoa a experimenta ao sofre-la. Dizia ainda que a experiência da fé é dolorosa: “Quem ainda não foi destruído até os fundamentos, reduzido a nada pela cruz e pelo sofrimento, atribui as obras e a sabedoria a si mesmo e não a Deus, todavia, quem foi exinanido pelos sofrimentos já não opera mesmo, mas sabe que Deus quem nele opera e tudo realiza, é isto que Cristo diz em João 3.7 : vocês precisam nascer de novo... para nascer de novo, no entanto, é necessário primeiro morrer”.*

Deus mata para fazer viver. Em Cristo somos simultaneamente justo e pecador, nele experimentamos as benesses do Reino de Deus, que ainda não se concretizou em sua plenitude, mas um dia acontecerá, e seremos integralmente justo e santo e estaremos com o Senhor para sempre. Amém!

________________
* BAYER, Osvald. Viver pela fé. São Leopoldo: Sinodal, 1990.

6 comentários:

Vitor Hugo da Silva - Joinville, SC disse...

Rodrigo!

Consegui tempo para postar. Então vamos lá!

Gostaria de destacar em seu texto duas passagens.

1. "o velho Adão em nós luta por independência".

2. "Quero me justificar perante Deus, quero com meu esforço conquistá-lo. Esse labor em querer se justificar perante Deus só nos conduzirá à frustração.".

O querer se justificar diante de Deus, na minha opinião, é o Adão querendo dar o ar de sua graça. Pois, justificar-se é de fato a primeira ação de Adão depois da queda (Gn 3:12). Neste ato de culpar Eva, quem sabe não passava pela cabeça de Adão uma frase do tipo: "Ufa! Agora me safei". Pensando que encontraria a graça de Deus diante de sua justificativa. Muitas vezes tentamos nos justificar para alcançarmos a graça de Deus, porém, de nada adianta. Somente por Cristo e em Cristo alcançamos justificação.

Belo artigo!

Obs: O artigo anterior está excelente!

Deus o abençoe!
Vitor Hugo

Vitor Hugo da Silva - Joinville, SC disse...

Esqueci de mencionar que Adão se frustou diante de sua justificação, pois de nada adiantou (Gn. 3: 17-19). Ai entra muito bem o que você escreveu: "Esse labor em querer se justificar perante Deus só nos conduzirá à frustração".

Vitor Hugo

Rodrigo de Aquino disse...

Vitor,

em pregações até costumo brincar: Adao colocou a culpa em Eva, Eva na serpente, só faltou a serpente aparecer no papo e dizer que a culpa eh de Deus.

mas essa auto-justificação nos persegue pois somos frutos do nosso tempo, onde temos que dar conta de nossa existência, e só somos brindados quando merecemos...

paz
Rodrigo

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Caro irmão Rodrigo Aquino,
Obrigado por sua visita ao Blog Teologia Pentecostal e pelo inteligente comentário sobre o futuro do pentecostalismo, continue nos visitando e parabéns pelo seu blog. “Linkei” o seu blog ao meu.

Gutierres Siqueira
www.teologiapentecostal.blogspot.com

Thiago Rodrigo e Elinéias Fabrício disse...

Bibo,

ótimo artigo. É uma pena que muitas pessoas não aceitem que a fé em Cristo é a causa da justificação. É um mal que só a palavra pode arrancar.

Abraços.

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